Limbo Constante

Presa num limbo constante,
onde o amor parece distante,
a maré sempre conduz ao contrário
e o vento sussurra noutra direção.
E, mesmo que às vezes pareça um sim...
é apenas a vida gritando que NÃO.

Nem digo que seja líquido,
o afeto parece-me névoa que se dispersa
em sua mais infame transitoriedade,
onde tudo se esvai com o vento,
perdido no pouco tempo,
onde nada de fato é concreto,
nada é realmente certo,
e nada é de verdade.

Meus passos encontram outros pares,
nos enxergamos,
nos conectamos,
mas logo perdemos nossos olhares.

Tudo começa entre um sim e um talvez,
logo tornam-se um sim e outro sim,
depois, o não nos alcança outra vez
e, de repente, temos apenas outro fim.

O "não" pesa e machuca,
estilhaça e faz sangrar,
mesmo quando sou eu
quem tem que o professar.

Te quis por cada dia,
te amei em cada palavra,
fui feliz em cada sorriso...
até não poder ser mais.

Algo gritou mais alto,
mas o amor ainda sussurra de longe.

Meu coração pulsa de saudade
por um amor que foi breve,
que, por um tempo, foi bom, foi leve,
e que, apesar de tudo, foi de verdade.

O amor é bom
até começar a doer,
até o sorriso bobo virar medo,
angústia...
e o desejo de presença
pulsar em um peito só.

Até o querer virar não ter,
até a certeza virar dúvida,
até o "sim" virar "talvez"
e até o "talvez" virar "não dessa vez".

E dói, aperta, sangra...
Sufoca como se o ar fugisse para longe.
Como morar na incerteza
e se perder dentro da dor,
até desejar profundamente
nunca mais sentir novamente
amor.

Não Te Demores

A vida é breve demais
para permanecer
em lugares que não te cabem,
entre olhares que não te veem
e abraços
que fogem dos teus.

Faça morada
ao lado de quem faz
teu coração sorrir,
de quem te abriga,
de quem se mostra inteiro
e, principalmente,
de quem te quer bem.

Onde não houver colo,
onde as lágrimas
forem mais que os sorrisos,
onde os risos
não forem contigo,
mas sobre ti,
onde houver solidão
em meio à multidão...

não te demores.

Detalhes

É nos detalhes
que me perco,
é nos detalhes
que me encontro.

No detalhe que grita
em meio ao silêncio ensurdecedor,
no detalhe que conta segredos
em meio às cortinas de fumaça
que ludibriam o instante.

É nos detalhes que vejo amor,
em resquícios de afeto
e lascas de sorrisos.
É nos detalhes que vejo dor,
nos estilhaços de "nãos"
entre os abraços que foram perdidos.

Harmonia

Aprecio o leve e o profundo,
o silêncio sereno que abriga
uma vertigem de sentimentos.

Rasgo sorrisos despreocupados
e coleciono confidências tuas:
as histórias que brilham
e as que pesam.

Sou porto,
sou abrigo,
mas também anseio teu colo
nos dias de tempestade interna.

Celebro o sol em sua exuberância,
mas me encanto com o frio
quando teu calor me veste
e minha presença te abriga
como um gesto invisível de cuidado.

Brindamos em mesas elegantes,
mas também dividimos risos
no asfalto quente e improvisado
de uma esquina qualquer.

Há beleza na harmonia silenciosa das contradições,
e tudo encontra sua justa medida
quando habitamos o instante
com a companhia certa.

Te toco sem usar os dedos,
enquanto você me vê
sem olhar para mim...

(Do meu livro "Penso, Sinto, Logo Poetizo.")