

cynthiabrum @cynthiabrum
Ele é uma sinfonia que começa suave e explode em desejo, mas nunca alcança sua última nota. Fico presa no eco das cordas que ele toca, incapaz de terminar a canção sozinha.
Minha imaginação é como um palco, onde ele performa somente para mim. Mas quando as luzes se apagam, sou obrigada a confrontar a realidade: um espaço onde desejo e possibilidade jamais se encontram. É como estar presa em uma música que amo, mas que nunca chega ao refrão que tanto aguardo. Um constante estado de clímax interrompido na parte principal, onde a frustração toma conta de todo o meu ser, e me sinto injustiçada por saber exatamente o que quero, mas que a realidade insiste em dizer “não”.
E ali fico, esperando por algum sinal. Qualquer sinal que indique que posso prosseguir, que mostre que ele me deseja tanto quanto eu o desejo. Mas os sinais que recebo, ao invés de guiar, apenas confundem. Ele não diz “eu não quero”. Ele diz “você sabe que eu não posso”. Essas palavras, ditas com uma leveza que contrasta com o peso que carregam, deixam claro que o que nos separa não é a ausência de desejo, mas a presença de limites que ele não ousa e nem deveria cruzar.
Já me revelou que, na intimidade dos próprios pensamentos, também se perde em mim, assim como eu me perco nele. Mas, na vida real, ele mantém as portas fechadas, como quem guarda um segredo precioso. Sendo mais precisa, é como se estivéssemos em salas diferentes mas com a porta que nos liga entreaberta - eu posso vê-lo do outro lado mas não consigo entrar. Essa dualidade me consome. Saber que, de certa forma, sou desejada, mas que esse desejo está enclausurado, me faz sentir como um incêndio controlado: eu queimo por ele, mas o fogo nunca se espalha o suficiente para nos consumir por completo.
E a pergunta que martela minha mente é: será que ele sente o mesmo peso desse desejo não vivido? Será que, na mesma medida em que eu luto contra a realidade, ele também luta contra si mesmo? Não sei. E é nesse não saber que reside parte da minha agonia.
Quando ele sobe ao palco, eu procuro seu olhar constantemente. E cada vez que cruza com o meu e ele sorri, sinto meu coração acelerar e aquecer, como se meu universo parasse. São breves instantes que impactam por uma eternidade, deixando marcas que nunca se apagam. E nestes momentos, meus olhos capturam sua pele morena sob a luz, com um brilho que parece conter o calor de um mundo inteiro. Seus cabelos longos se movem suavemente, emoldurando um rosto que carrega um misto de força e vulnerabilidade. Há algo na forma como seu perfil se desenha contra o cenário, o nariz imponente e a linha do queixo firme, que transforma cada olhar em um vislumbre da perfeição. É uma beleza crua, sem ornamentos, que ecoa em mim mais do que qualquer palavra jamais poderia.
Mas as palavras não ditas, as ações não tomadas, são como notas que faltam na melodia. Eu sinto como se estivesse ouvindo uma música incompleta, ecoando em minha mente sem nunca encontrar sua conclusão. Talvez seja isso: uma eternidade presa entre o desejo e a espera, amando uma canção que nunca chega ao fim.
E enquanto espero por um desfecho que não sei se algum dia chegará, aprendo a conviver com o vazio das notas que não soam. Cada suspiro guardado, cada sentimento reprimido, me transforma, me molda, me faz sentir completa e partida ao mesmo tempo. Talvez seja nessa dança entre o querer e o impossível que encontro minha própria essência - uma alma que ama sem garantia, que deseja sem posse, que se entrega ao invisível.

cynthiabrum @cynthiabrum
Seus olhos encontram os meus
E por um breve instante, o mundo para
Eu queria ter coragem de tocar seu rosto
Com a delicadeza de quem segura um tesouro
Imagino o calor da sua pele sob minhas mãos,
Os traços de seu rosto se tornando meu caminho
A curva de sua boca, um destino proibido
Onde desejo e medo se encontram
Tomaria suas bochechas em beijos suaves
Um toque leve, quase como uma brisa
Deslizaria meus lábios até o seu nariz
Um gesto inocente, mas carregado de intenções
E então, sua boca - o centro do meu universo
Um calor que me consome e me alimenta
Onde meu coração bate mais forte
O beijo que imagino é doce e demorado
Como se o tempo insistisse em prolongar o momento
Cada segundo dolorosamente alongado
Para perpetuar na alma o sabor da sua presença
Mas tudo é apenas um sonho
Um fragmento de coragem e fantasia,
Guardado entre as linhas do que nunca foi dito mas sempre foi sentido
E ainda que fique só na imaginação
É nele que encontro a intensidade de te querer
Te sentir próximo, mesmo que a distância nos separe

cynthiabrum @cynthiabrum
Deitado em lençóis de pensamentos
Que não ousam se aventurar por além do véu da imaginação
Teu peito é um refúgio onde meu toque se perde
Teus braços - o limite entre o sonho e o impossível - me prendem sem jamais me possuir
Percorro seu corpo com o olhar
Como quem desvenda um segredo antigo
Cada toque, cada beijo, uma melodia silenciosa entre nós
Teus dedos, que deslizam em cordas,
agora tocam em mim
Como quem compõe uma sinfonia na pele,
arrancando suspiros, acordes orquestrados no doce calor do desejo
Meus lábios buscam os teus,
mas permanecem em silêncio
Beijos de lábios que não podem se tocar,
Calor que se evapora antes de nos consumir
Entrelaço meus dedos nos teus cabelos
Tua respiração desenha meu nome no ar
E no silêncio que nos envolve,
a música somos nós

cynthiabrum @cynthiabrum
A sala era um universo próprio. Luzes suaves dançavam pelas paredes, como estrelas tímidas perdidas em uma galáxia de sombras. O ar carregava uma vibração quase elétrica, pulsando em sincronia com os corações ali presentes.
Ela estava sentada no chão, os joelhos dobrados, o vestido leve repousando ao redor como a ondulação serena de um lago. Ele estava de pé, próximo demais para que a distância fosse confortável, mas longe o suficiente para que o toque fosse apenas um pensamento.
- Não se aproxime. - ela disse, a voz mal sussurrando. - Ou você quebrará o feitiço.
Ele sorriu, mas seus olhos escureceram, como se as palavras dela fossem o próprio feitiço.
- E se eu não quiser que ele continue inteiro?
Ela desviou o olhar, mas não antes que ele capturasse a chama nos olhos dela — um fogo que parecia consumir tudo ao seu redor. O calor cresceu entre eles, invisível, mas impossível de ignorar.
- Teus lábios - ele disse - parecem feitos de poesia.
Ela riu, mas o som morreu na garganta.
- E os teus são proibidos.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ele deu um passo à frente, e o chão parecia tremer sob o peso desse movimento.
Ela ergueu a mão, não em defesa, mas em rendição.
- Se você me tocar, a realidade vai ruir.
- E se eu quiser que ela de fato desmorone?
Ele estava próximo agora, o suficiente para que ela sentisse o calor dele, o suficiente para que o perfume dele a envolvesse completamente.
Ela fechou os olhos, permitindo-se um momento de vulnerabilidade.
- Aquieta-te, desejo. - ela murmurou, mas as palavras eram uma mentira suave.
Quando ele finalmente se ajoelhou diante dela, não houve toque. Apenas a promessa disso, um abismo de tensão entre dois mundos que jamais deveriam se cruzar. E ali, naquele instante suspenso, o silêncio tornou-se música e os suspiros, versos.
O impossível permanecia intacto, mas o desejo… O desejo era eterno.