"A riqueza vem do comércio, mas há outras coisas que enriquecem mais do que apenas vender."
                                                                                                        -Caio Tito Falamingue, Mercador de alquimia de Entron
  A guerra não levou a nada, as desculpas também não chegaram a lugar algum, a república se encontrava em uma situação mais delicada do que no pós-guerra de Pólermos. Sua expansão era a base essencial para sua prosperidade, que vinha da extração, da agricultura e da mineração. Sem as guerras, os escravos se tornavam caros e as nações vindas do mar começavam a prosperar às custas daquele fracasso.
Em meio a essa delicada situação, Falamingue se encontra, um mercador advindo de uma origem humilde, vindo do povo besta. Portando uma figura exótica quando comparada com os outros de sua raça, ele tinha um pescoço longo, uma cabeça curvada e para finalizar uma pelagem um tanto avermelhada. Tal caracterÃstica chamava a atenção, despertando curiosidade nos compradores e seu mais sutil sucesso na arte da troca.
     Com o tempo, ele havia se especializado em um recurso especial, deixou de lado as especiarias, as ferramentas e os alimentos para se focar em algo novo, algo que via um valor maior que tudo que já havia tocado, os componentes alquÃmicos. Deles, ele despertava um grande fascÃnio, vendendo em pequenas unidades e à s vezes dando em troca de conhecimento, como a arte de fazer poções e elixires.
     Contudo, o conhecimento e seu charme não foram suficientes para poupá-lo da crise que se alastrava pela nação. O mercado de grãos pela primeira vez em anos teve uma grande interrupção. Escravos paravam de chegar nas aldeias para lavrar o solo e para mineração. E os poucos que chegavam ser superfaturados pelas nações do outro lado do mar. Os produtos, antes derivados dos inúmeros espólios de guerra, deixavam de entrar, a população ainda fingia não sentir os efeitos, mas cada vez mais, os compradores começavam a desaparecer sutilmente.
    Por algumas semanas, Caio ficou em sua loja, vazia, sem quem fosse usar uma poção ou sequer comprar um mÃsero pó de beleza. Os dias ficaram longos, como se não fosse não tivesse fim, as despesas acumularam junto dos frascos empoeirados nas estantes, parecia que o desejo de mudança havia chegado ao fim. Em tédio, ele manteve-se, fazendo suas artimanhas na bancada enquanto esperava alguma alma viva passar por aquela porta.
     Um mover da maçaneta foi suficiente para chamar a atenção do vendedor, que saÃa à s pressas de suas atividades alquÃmicas para, na frente da loja, atender seu primeiro cliente após semanas sem vendas. Contudo, quem entrou era um goblin, com cabelos faltando, barba falha, olhos marcados pela ausência de sono, usava vestes rÃgidas como de um ferreiro, mas desgastadas ao ponto de parecer exótico. Ele adentrou a loja de uma forma um tanto curiosa.
 — Seja bem-vindo à minha grande loja de alquimia e poções, senhor...
— Parlarax. — terminou a fala fortemente com grande orgulho na voz, olhando para os lados e vendo todo o teor que havia na loja — Vejo que tem muitas coisas boas aqui.
— Mas é claro, senhor Parlarax! Aqui não é uma loja de segunda como você vê nas feiras abertas, aqui temos tudo de primeira, pós-brilhantes, produtos de embelezamento feminino para sua esposa, componentes raros para feitiçarias, poções que aumentam o vigor e cicatrizam ferimentos. Temos de tudo! — Caio era rápido e muito demonstrativo, pegava cada peça citada mostrando ao homem em uma sequência ligeira, tentando instigá-lo pela curiosidade e pela beleza dos recipientes, contudo, a prática parecia ter falhado, já que o goblin ainda se matinha com aquela postura mais calma. Â
 — Perfeito, mas não procuro por essas coisas simples, estou atrás de algo muito mais delicado — as palavras do goblin despertaram a curiosidade de Falamingue, que escorava a mão em seu bico com dúvida.
— Certo, preciso que seja mais especÃfico, meu caro, temos muitas coisas aqui, qualquer delas pode encaixar nesta descrição de delicadeza. — Parlarax consentiu silenciosamente, andando pela loja.
— Preciso de algo que cria fogo, mas não só... ele precisa durar por mais tempo — os dedos penados de Tito começaram a bater como se estivesse com um longo e vultuoso plano em mãos, ele começou a andar em direção à sua bancada com seus passos largos e suas pernas finas. O goblin viu ele atravessando a loja com grande velocidade e tentou o seguir até o ponto aonde ele havia ido. Â
    Ambos estavam à frente da bancada alquÃmica, ele sorria para o goblin — tenho vários componentes que podem fazer isso, mas tem algo que me diz que você procura alguma coisa a mais do que simples fogo duradouro. Você, pelas vestes é um ferreiro ou mexe com fogo frequentemente, pela falta de cabelo e falhas na barba eu diria que esta tendo problema com a chama acertando sua face... você quer ter mais controle sobre o fogo, correto. — o goblin, ficou calado sem responder por um momento, deu um riso e bateu palmas para o bestial confirmando sua suposição
— É estranho ver um moço com tanta visão com uma loja desse tamanho vazia.
— A crise faz com que mesmo os bons sofram sem que seja por culpa de suas próprias ações. — sua fala era poética no ressoar, suspirando com o dito. — posso fazer uma poção ou óleo de temperança, assim o fogo fica impedido de crescer após um limite, vou te alertar que o valor é salgado. — O ferreiro negava com a cabeça, de braços cruzados.
 — Se fosse para mendigar eu comprava do povo da feira, só não me arranque as botas no processo, preciso delas para não perder os dedos. — ambos caÃram na gargalhada por um momento, o bestial começou a trabalhar, pegou um grande frasco de cerâmica, colocando ao lado da mesa aonde produzia seus quÃmicos.
— Então me diga, meu caro, o que anda fazendo de bom nessa crise? Deve estar sendo difÃcil produzir... não? — dizia Caio, ascendendo cada frasco, dando inÃcio aos preparos de sua produção.
— Na verdade, está indo até bem. Mexer com metais sempre tem algo de bom — a resposta de Parlarax fez o mercador arquear a sobrancelha, curioso com os negócios.
— Interessante, e você está vendendo o que nesse tempo? — O goblin olhou para cima como se tentasse lembrar. Â
 — Bem, atualmente estou vendendo de tudo um pouco, pregos, chapas e lingotes, mas o que vai estar vendendo são pontas de lanças e virotes. — Falamingue arqueou as sobrancelhas.
— Armas? Pensei estarmos em um tempo de trégua — suas misturas começavam a subir pelo franco como um gás denso de cor rubra subir.
— Sim, mas parece que não estamos caminhando para paz. O templo de Aramam vem crescendo muito e eles estão instigando para a guerra voltar, me falaram que isso está resultando em desconfiança entre as legiões — O goblin comentava, vendo com seriedade o delicado processo, o bestial continuava a criar misturas enquanto o gás denso começava a condensar e gotejar.
— É impressionante saber disso, pensei que fosse pelo motivo de os povos do mar estarem tomando importância, nunca vi ordareos serem mais bem tratados que homens livres como nesses tempos. — O mercador cheirava a substância moÃda e adicionava no pote. Â
 — Isso é consequência da guerra, mas... — o ferreiro observava, se sentando ao lado, enquanto as gotas começavam a exalar um odor forte como a urina. — Do jeito que está, isso não vai ficar assim por muito tempo. Houve um aumento dos piratas também, muitas riquezas estão agora nos portos. — Parlarax suspirava enquanto tirava as luvas.
— Isso sempre acontece, o crime nunca parou de crescer desde o dia em que a república começou suas campanhas de expansão, parece que eles vêm junto do progresso. — Tito se levantava, pegando o frasco e mexendo lentamente a mistura, criando uma pasta pegajosa, com forte fragrância de enxofre — nunca entendi o que leva alguém a fazer essas coisas.
— Esta me dizendo que em seus anos todos de vendedor você nunca fez nada do tipo? — Caio parou, olhando para o ferreiro diretamente.
— Não. Roubar de cliente lhe levará à morte com o tempo. Ninguém compra de um golpista duas vezes. — O goblin sorriu, batendo palmas.
— É bom ver que você tem visão de negócios, hoje em dia, não se dá para confiar em ninguém. Â
  A conversa dos dois foi sutilmente rompida pelo barulho da entrada, mais uma pessoa havia procurado pelo mercado de alquÃmicos.
— Pode entrar! Estou aqui no centro. — Os passos começavam a se aproximar, o goblin ficou surpreso com a chegada de mais um comprador.
— Disse estar sem muitos clientes... — Tito ainda se mantinha concentrado na vasilha, a colocando na mesa parada enquanto derretia uma grossa cera de cor roxa.
— Não menti para você, eu também estou surpreso. Faz tempo que não escuto aquele barulho, ainda mais duas vezes seguidas. — a cera entrava em uma forma, banhando um fio de lá branca, a pessoa se aproximava, era uma musa, alta, de cabelos cobras finos, longos e esverdeados, todos com uma pinta em suas pequeninas cabeças, os olhos grandes, junto da pele bronzeada dava um ar belo à quele formoso corpo trajado de um grande vestido branco com diversas linhas azuis. Â
 — Senhorita! Como está? O que procura hoje nesse belo dia? — O bestial baixava sua cabeça em honra, quase a beijando as mãos. — Poderia me dizer seu desejo? — Ela observava o lugar com um ar neutro, com certa seriedade, olhando para estantes cheias.
— Estou procurando um elixir bem especial, um grande amigo me pediu para adquirir para ele... algo com enxofre. — O ferreiro e o mercador entreolharam-se, voltando o olhar à mulher, concordando.
— Certo... — ele despejava a pasta no meio da forma de cera e jogava certas especiarias e pós, dando uma cor azulada à substância. — E o que seria? É raro me pedirem um elixir com enxofre, é para cicatrização ou outra coisa?
— Hmmm, sim, eu preciso de algo com maiss sustância, ele precisa para um medicamento, ele está com problemas com venenos e infecções de seus clientes. — O bestial tirou da forma um grande cubo de cera como se fosse um recipiente para a pasta, olhou para ela com uma face de dúvida.
— Olha, mexo com isso há algum tempo, enxofre é bom para infecções. O item que procura tem hypericum e boldo, não enxofre... se é para combater envenenamento, não é bom usar aquilo. — Ele se virava a Parlarax — fiz sua base.
— E como isso funciona? Parece uma vela, não um elixir.
— Você tem que fazer o seguinte.
Ele se levantava, pegando uma vasilha e os restos da receita, jogando lá dentro e ascendendo, soltando um cheiro enjoativo para todos. Ele jogava um tecido na mesa para que ambos pegassem, a substância ainda dura começava a derreter.
— Primeiro você deixa amolecer, joga ele em um óleo ou vinagre — ele pegava o vinagre jogando na substância fazendo uma cor escura, porem, similar a um leite tingido. — Depois que você fizer isso você usa a substância que sair disso no carvão ou na lenha que usar. — Caio pegava a substância a lacrando numa jarra de cerâmica. — ela vai controlar a chama e o carvão vai durar mais.
— Perfeito, e quanto vai custar seu trabalho?
— Vai custar 23 pratas. Isso vai durar bastante tempo, só não use demais, é uma dose daquela para 1 saco de carvão. — O ferreiro consentiu com a cabeça, pegando o saco de moedas, tirando as vinte e três moedas, as colocando em cima da mesa. — Vou embalar logo.Â
 Ele ficava sentando ali do lado, vendo a musa ainda com a máscara. — Mass não tem como o elixir ser com tudo junto? — O mercador continuava a negar, enquanto pegava faixas escuras enrolando o inflamável objeto.
— Não tem como, um elixir de beber e o outro é de aplicar na pele, causaria problemas ao corpo. Tem alguns grandes atletas que comem, mas é muito arriscado, eu não aconselho. — Ele abaixava, entregando a Parlarax — aqui está.
— Foi ótimo fazer negócios contigo. — O Goblin segurava com força a "vela" enquanto andava levemente desajeitado pelo peso da mesma.
— Eu que agradeço pela modéstia de sua presença, meu caro senhor Parlarax, boas forjas.
— Obrigado! — o ferreiro saÃa satisfeito, e toda sua atenção fixava-se na musa, que se mostrava um pouco desconfortada com a recusa de fazer tal junção. Â
 — O que quer para juntar tudo em uma coisa só? — ela alterava sua postura, mantendo uma face rÃgida acompanhada com seus braços cruzados. — Eu não posso levar doiss.
— ... vou ver o que faço, não gostaria de matar meus clientes, sabe. — Ela consentia silenciosamente, enquanto suas cobras o acompanhavam.
Ele andava pelas estantes procurando os elixires prontos, procurando o desejado pela musa, com um toque delicado nos frascos, manuseando-os, vendo seus pequenos rótulos de sÃmbolos pintados. Ele percorria pegando um frasco de cor transparente com pequenas folhas e outro que tinha lÃquido grosso e forte, com uma cor amarela como a da cúrcuma, levou-os à mesa, mostrando para a cliente que ainda mantinha a espera.
— Vamos fazer umas misturas, mas te aviso... não será nada fácil, então se prepare que vamos ter que ir para os fundos. — O mesmo suspirava, enquanto pegava ambos os frascos andando para os fundos da loja. Â
   Chegando ao fundo na loja, a porta reforçada envernizada se abria, mostrando uma sala escura e rÃgida de pedra, ao centro uma fornalha subindo até o teto, com sua chaminé lapidada em bronze, ao redor cobrindo todo o teto, diversas plantas desidratadas com cheiro forte. Abaixo, algumas folhas caÃdas, diversas caixas metálicas no centro como pontos de guarda, e nas bordas, algumas mesas suspensas e locais com frascos alquÃmicos e poções inacabadas, ali era o lugar da grande produção.
— Isso é incrÃvel, é aqui onde foram produzidass todass aquelas poções? — Falamingue consentiu tranquilamente, olhando sutilmente para a musa.
— Sim, mas grande parte é comprada, as mais simples e modificadas faço por ficar mais barato. Aliás, Musa — o mercador se virava com os frascos em mãos — Qual seu nome... até o momento não me contou. — A mulher arqueou as sobrancelhas, sorrindo levemente.
— Pode me chamar de Drusillani Pompia. Â
  Caio consentia enquanto se aproximava de uma das bancadas, despejando metade do lÃquido. Pegando uma longa colher de metal, mexendo lentamente enquanto gradualmente misturava ambas as substâncias, a combinação fazia um leve borbulhar. O cheiro forte era ofuscado pela intensa quantidade de plantas, impedindo um pouco do enxofre de invadir as narinas de ambos. Tito via que a mistura estava começando a tomar forma, porém ela não se mantinha, então pegou um frasco de ferro fundido, despejou a substância e levou-a à fornalha.
— Teremos que ferver, ambas as substâncias não se misturaram como deveriam. Fique longe da fornalha. — Drusillani consentiu, se afastando. Gradualmente, a lenha era colocada, a fole era apertada e o fogo começava a se mostrar. O calor vinha junto da luz da brasa, levantando a luz bronzeada, iluminando tudo ao redor. Â
 Aos poucos, a substância começava a borbulhar, fazendo em conjunto uma demonstração de luzes com o queimar do enxofre e do ferver das folhas. Mesmo experiente, o mercador se mantinha afastado, mexendo com uma vareta de metal enquanto a substância engrossava mais e mais até se tornar uma grossa goma pegajosa. Foi com destreza que pegou o recipiente com luvas grossas de couro e deixou próximo à bancada, enquanto o calor se mantinha fixo na superfÃcie daquela bandeja.
— Está pronto? — A pergunta de Pompia foi respondida com um negar de cabeça silencioso, enquanto o mesmo despejava óleo frio no recipiente, o mesmo espirrava e fazia som similar ao de fritura, mostrando o escaldante calor. Ele mexia ambas as substâncias, trazendo uma cor amarela sutilmente esverdeada, mas agora sem o odor caracterÃstico do quÃmico.
— Fizemos metade, agora vamos colocar algumas especiarias para suprimir os efeitos pesados do enxofre e fazer algo seguro para uso. — a Musa agora se aproximava, curiosa com todo aquele ato, suas cobras acompanhavam todo procedimento com tanta curiosidade quanto sua dona, era igual uma criança a assistir a espetáculo itinerante. Â
Junto da mistura vieram as ervas, primeiro colocou o hypericum e o Boldo, depois colocou o hibisco junto do dente de leão, espremendo tudo junto do óleo pesado, criando um elixir viscoso de cor forte. O amarelo deu espaço ao verde, se mantendo mais abaixo. Ele mexeu até uma cor só sobrar, a mistura foi colocada em um recipiente de cerâmica lacrada, fechado com uma rolha e pintado com um sÃmbolo estranho.
— Aqui está seu elixir, use com muita cautela e evite usar tudo de uma vez. — Ele marcava um grande cinco no recipiente. — Há cinco doses aqui dentro, então, use somente o essencial, mesmo se houver muitas feridas, não use mais de duas por pessoa. Irá forçar o corpo ao que ele não suporta.
A musa concordou, focando-se no frasco opaco.
— Como você aprendeu tanto sobre alquimia?
— Tive desejo, tive tempo e troquei certa riqueza por esse conhecimento. Foi uma troca justa, não acha?
— Para um mercador, produzir não parece tão comum.
— Somente o vendedor ignorante não sabe a qualidade do que vendem. Imagine vender algo de baixa qualidade ou algo falso? Quem iria retornar para comprar novamente? Eu já fui enganado uma vez e não é bom. — Drusillani entendia o discurso com clareza, enquanto ambos deixavam a grande sala quente. Caio, porém, estranhou um pouco as perguntas, que vinham com mais curiosidades que as outras, não era tão comum isso vindo de seus clientes.
— Hmmm entendi, mass... — ela olhava para o corredor enquanto retornava à parte central da loja. — O que você entende de fogo? — Tito entortou a cabeça, a encarando com um olhar cerrado.
— Como assim, fogo?
 Ela expressava um sutil sorriso em seu rosto, desviando o olhar. Retornando à parte frontal da loja, a musa mexia sutilmente o elixir, escutando sua essência mover-se de um lado ao outro daquele frasco de cerâmica.
— Vai ficar 38, saiu um pouco caro fazer aquilo. — A moça sorriu, colocando um saquinho de moedas na mesa, enquanto escorava seus cotovelos na mesma.
— Tal preço não é um problema, mas voltando ao assunto. O que você sabe de piromancia? — falamingue suspirou com o pedido, pressentia algo ruim.
— Sei o suficiente para criar algumas coisas, mas não aconselho o uso. — ele tomava uma postura ereta, fixando seu foco em sua cliente — Piromancia é uma arte perigosa, o fogo pode consumir de formas inimagináveis. — porém, os avisos pareciam criar um efeito muito mais instigante do que afugentar.
— Sei disso, meu caro mercador, mass há motivos maiores para preocupação do que merass queimadurass pelo corpo.
  Aquela frase despertava curiosidade, o bestial esfregava os dedos em seu bico pensativo, se sentando enquanto olhava para a mulher.
— Continue... — Pompia estralou os dedos e esticou as serpentes, se aproximou de Caio similar a um vendedor querendo mostrar um novo produto.
— Tenho alguns amigoss que podem precisar de tal serviço, eles pagam bem e estão buscando uma forma de criar um fogo duradouro não magico. — Tito inclinava sua cabeça escutando cada palavra, ele moveu as penas de seu ouvido, enquanto a observava vendo qual seria a proposta. — Para isso preciso de um indivÃduo como você, você é um grande mercador, tem contatoss com a república inteira. Isso pode te enriquecer muito.
— Dinheiro é uma necessidade inegável, mas o que me garante que você não está procurando outra coisa? — Drusillani arqueou as sobrancelhas e colocando as mãos atrás de seu quadril. — Está havendo boatos que os agentes do senado estão tentando incriminar diversos mercadores pela falha das campanhas militares como se tivéssemos sabotado as ofensivas contra Polermos apenas para lucrar.
 — Não sou esse tipo de pessoa, por que faria tal ato? Você acabou de me conceder um item maravilhoso para ajudar meuss companheiross. — A musa desatenta, começava a desviar os olhares em direção à porta. —Fui mandada para cá, masss... — Caio franziu as sobrancelhas fixando-se na mulher, enquanto pegava um frasco próximo com força. — foi por um centurião.
— Um centurião? Em uma cidade que não vê guerra e rebeliões há mais de 12 anos? — Tito se escorava com um olhar direto — Por quê?
— Por que o quê? — Pompia questionava.
— Porque um centurião quer meus serviços? Isso não faz sentido algum. — A musa começava a mostrar certo desgosto do rumo que tomava aquela conversa, era como se aquilo começasse a ir a lugar algum. Ela suspirava, olhando novamente para o frasco.
— Bem, minha proposta é essa. Eles vão te pagar bem pelos seus serviçoss, mass preciso de sua confirmação, se não terei de procurar por outro mercador.
Caio silenciou-se pensando naquela proposta delicadamente, levantou ainda calado — Faça ele vir aqui, é possÃvel que eu aceite a proposta. — Drusillani levantou um sutil sorriso de canto de boca com a resposta. Ela bateu as palmas uma vez, se virando para a porta.
— Obrigado pela resposta caro mercador, tenha um bom dia. Â
   Do mesmo jeito que ela veio, ela se foi. Caio agora estava sozinho na loja, contando as moedas ganhas nas negociações. O pensamento afundava em sua mente como uma pedra jogada no mar, ele teorizava entrelaçando as informações ganhas naquele curto perÃodo, venda de armas, propostas de um membro da legião por terceiro, aquilo tudo parecia coincidir em algo maior.
Ele suspirou, olhando para a porta fechada, tomado em dúvidas se realmente deveria ter consentido com aquele pedido. "A possibilidade de isso ser um golpe para tentar tomar tudo de mim é grande, mas existe ainda a chance de eu ganhar algo." O bestial continuou pensativo no resto do dia, mas até seu fim, não houve resposta ou sequer retorno de alguém para sanar sua dúvida. Â
   Os dias se passaram, novamente a ausência de compradores voltava a incomodar, a porta mal abria e a poeira começava a acumular. A produção foi cortada e seu foco era somente estocar o que podia, já que cada dia mais a crise começava a mostrar suas garras, o comércio mostrou ruptura e a antes pacata provÃncia de Entron, lar do comércio e do consumo, começou a se agitar.
Os cidadãos começavam a sair das cidades e irem para as vilas, alguns se revoltavam, iniciando revoltas pelo aumento do preço do centeio e do trigo. O número de pedintes começava a aumentar e os escravos, antes algo comum de se chegar ao mercado, começaram a ser vistos como peças caras de trabalho.
    O mercador, agora, estava guardando tudo que produziu, não conseguia vender e cada vez o custo de se manter ficava alto. Não havia forma de melhorar, o suspiro que saÃa de seu bico, seus ombros caiam e seu olhar se mantinha cabisbaixo. Porém, enquanto empilhava as caixas, uma batida vinha da porta. Falamingue suspirava, andando em direção à porta, enquanto a abria.
— Desculpe, meu caro, mas estamos fechando... — ele olhava aos lados e depois para baixo, vendo um goblin trajado como militar. O mesmo adentrava a loja sem nenhuma sutileza — Eu já paguei meus impostos.
— Não sou cobrador de impostos, vim aqui para lhe entregar uma carta e pegar sua resposta.
— Uma carta? — Caio abaixava-se enquanto o militar puxava de sua bolsa um pergaminho para o mercador.
Ele começava a ler o extenso texto, seu olhar brilhava aos poucos enquanto seu bico se soltava em surpresa. Olhou para o guerreiro que o observava calado. — Isto é real? — ele conseguia calar. Tito fechava o documento, entregando novamente ao homem. — A riqueza vem do comércio... mas há outras coisas que enriquecem mais do que apenas vender. Avise seu senhor que eu aceito a proposta e irei iniciar os procedimentos.Â
   O mensageiro conseguia sair da loja, a porta se fechava com o sorriso do mercador, ele andava até a bancada, sorrindo, enquanto anotava em papiro a grande solicitação. Ele sorria, a oportunidade veio e agora era hora de agarrá-la...