Una' havia sido criada, em seu total esplendor, sua inocência era digna da amistosidade da grande entidade que ficou ao seu lado por longos anos. Deixou a jovem criatura pensar em seus desejos, lentamente ela começou a mostrá-los de forma tão delicada quanto as perguntas feitas por sua criadora.
A Entidade Suprema ficou contente, muitas vezes carregava a deusa de um lado ao outro do cosmo, mostrando as criações de seu novo universo. Ela também carregou sua criação para sua fortaleza, lá a ensinou sobre o futuro próspero que a esperava e das histórias fantásticas de seu sombrio passado. A jovem divindade, cada vez, ficava mais curiosa, gerando mais conversas. Em um momento, Una' parou, ficou quieta, olhando para os encantos do cósmico que vagavam pelo vazio. O ser estranhou o ato, porém, pouco fez, somente contemplando junto à sua criação.
— Por que eu? — Una' questionou em um tom sereno, a pergunta era enigmática e abrangente.
— Por que você? — A entidade suprema olhou a jovem com um ar confuso.
— Por que eu existo? Você criou tudo e só há uma de mim. . . Por quê? — A deusa continuou a ver os fios, os brilhos e as correntes que passavam por cima naquele movimento, seu próprio mundo estava à vista, coberto de nuvens escuras e do brilho dos raios criados.
A Entidade parou em silêncio e abriu um leve sorriso.
— Por que não seria? Você é a primeira. Foi você que se criou, não eu.
— Como? Eu não existia há alguns anos, só você. . . Como eu teria me criado?
— Quando fiz a luz surgir nas bordas do universo, tudo que existe e existiu, adveio daquele momento… — A jovem criatura perdeu seu foco, a história tomava a atenção para sua criadora.
— Tudo era pó, todas as pedras surgiram assim. Aqueles planetas, aquelas estrelas, centuriões de asteroides e até os meteoritos que riscam o véu sombrio do vazio, todos foram um dia uma pequena esfera que soprei por este vazio. — A divindade se virava tocando nos nobres cabelos da pequena criação — só você se destacou, quantos mundos poderia ter feito como você fez? Você puxou rocha a rocha, minério a minério, quando te dei água, você a congelou, quando te dei calor, você a bem usou.
Una' escorava-se com sua cabeça nas coxas de sua tutora, que continuava calmamente o seu dizer — eu te dei pernas para andar, mas você antes já havia aprendido a se arrastar, eu não precisei te dar vida, você se criou puxando tudo que havia a seu redor.
— Então vim aqui porque fui forte? Mas isso seria justo com os outros mundos? — A jovem divindade foi tomada pela dúvida, enquanto a antiga entidade mostrava sua serenidade por toda sua presença. Ela tocou na testa da jovem, a acariciando.
— É justo, todos tiveram a mesma oportunidade? Seria justo contra ti eu te moldar e limitar? Teu esforço te deu mérito. Posso ver tudo que há neste cosmo que não para de se estender, e só você fez algo além do normal, alguns se mantiveram em gás e outros sequer rodavam em seu próprio eixo.
Ela parecia entender o que a anciã dizia, suspirando cabisbaixa, não havia muito a se afrontar e tampouco a se dizer. Era a seleta verdade, a existência acabou de se iniciar e só ela havia feito algo. Ela sentia que poderia haver mais, a criadora de tudo era sua mentora, por que não criar nada a mais? Por que não ascender outros mundos sem energia?
— Você poderia criar novos mundos, fazer com que houvesse mais seres a te rodear? — O riso escapou da boca do Supremo Ser — por que do riso?
— Por que eu faria isso?
— Por que você pode fazer, por que não criar centenas de seres e mundos à sua vontade? Você tem poder para moldar tudo que existe, por que não o faz?
— Não seria certo, tudo seria descartável. Minha vontade não pode superar minha responsabilidade, mesmo sendo a criadora, mesmo com todo o poder emanando-se de min no início de tudo e me fiz em poder bruto pelo ato, pelo verbo… — ela contemplou as crateras da lua branca que era sua casa em um singelo momento de silêncio, respirou levemente
— eu não poderia determinar oque ocorre, ocorreu e ocorrerá. Se faço isso, eu aprisionarei todas as correntes de meu desejo e de minhas escolhas. Tudo neste lugar seria ligado, tudo estaria sob meu jugo. Não quero ser criadora de uma realidade de escravos do destino.
Una' escutava aquilo com perplexidade, como poderia ser de tal forma. . . Por que simplesmente não criar tudo e depois deixar livre? Era perplexo entender as motivações e os pensamentos daquela deusa antiga que escondia algo por baixo de suas vestes além de seu corpo divino. Ela se levantou do aconchego de sua mestra e entreolhou a mesma.
— Se eu tomasse as rédeas de meu mundo, usa-se tudo que aprendi com a senhora para adequá-lo a mim. Você me impediria? — A deusa se levantou quieta, olhou para o mundo agitado que estava sob comando de sua tutora, ficou quieta.
— Depende.
— Depende? — A jovem ficou perplexa com a fala, era determinada e seca, não mostrava sequer um ar de emoção ou mesmo sarcasmo. Isso a deixou alerta, com sua criadora, a dúvida tomava sua mente a procura de uma resposta que não vinha.
A Deusa se virou com um sorriso meigo.
— Te tratarei da mesma forma que você vai tratar quem vier depois, use o que te ensinei e vá. Jamais te impedirei de tomar tua escolha, mas tudo que fizer. . . Devolverei em igual valor depois. — Una' sorriu em desconforto com o final da sentença da Entidade Suprema, ao mesmo tempo que parecia estar apoiando seu desejo. Também se assemelhava a um juiz que executaria uma sentença.
Ela abaixou a cabeça para a criadora, que se virou para a criadora, estendendo a mão. Ao encarar a sua palma, viu uma pequena centelha divina sair dela e ficar suspensa no ar.
— Aqui está, consuma isso e use-o para ascender. Podes agora criar, não na mesma escala que eu já fiz, mas similar a mim. Use-o com sabedoria. — A criação sorriu para o verbo, tomou para si aquela pequena centelha e seu corpo ampliou-se em poder.
Una' havia terminado seu estudo, agora estava pronta para mudar e para manter seu mundo. Esta se despediu em abraços de sua criadora e retornou a seu mundo para fazê-lo a seu deleite. A entidade Suprema sorriu com o que fez, treinou a primeira deusa do novo mundo para algo maior que ela mesma. O início de uma era marcava seu início pelas linhas desenhadas pela escolha de seus deuses.
O mundo agora estava gradualmente mudando, cada vez ficando maior, as tempestades se tornavam mais intensas e os vulcões expeliam cada vez mais fumaça. Os mares criavam ondas monstruosas e as montanhas que beiravam a costa se rompiam cada vez mais, formando as mais belas estruturas. O mundo era tomado pela beleza, pela elegância, pela dança divina de uma jovem deusa em seu trabalho árduo.
Os anos se passaram em meio àquele rito, o mundo tinha sido esculpido por ele mesmo. Das grandes estruturas aos pequenos grãos de areia, das águas que saíam das rochas aos gases que saem das profundezas. Una' tinha se preparado, seu mundo estava agora a sua boa imagem.
A entidade Suprema se satisfez com o que viu, mas sentia que faltava algo para tornar aquilo completo, algo que deixava tudo mais belo… A Entidade Suprema planejava algo que mudaria tudo que viria após seu ato.