Seu rosto me lembra o mar. A calmaria da brisa, o som das ondas.
Nunca o conheci. Apenas escuto contos de seus olhos gentis e histórias de um amigo que eu não tenho. Observo atentamente, de longe. Meu estômago vira e minha espinha se arrepia. Sentimentos de tempos passados e esperanças mortas.
Amor? Não. Amor é uma palavra forte e ele tão distante. Luxúria, apesar de mais precisa, também não é a palavra certa. Talvez seja uma questão de perspectiva. Alguém mais competente em entender-se certamente teria uma definição, mas apesar do rótulo me escapar, o sentimento permanece. Fermenta nas minhas veias e supura em minha alma. Um chamado para uma confissão que jamais poderia fazer. Um anseio pelo inalcançavel. Um desejo que nenhum gênio realizaria.
Por maior que seja a incerteza, sei disso:
Eu o quero.
Mas enquanto escrevo, percebo que contradigo-me. Ajo como um homem desatento mas a realidade, a perdição do idealista, é que reconheço o medo.
Não o conheço. Ele não me conhece. E se ele conhecesse, agraciaria-me com algo além de de um sorriso gentil e rejeição? Ou pena? Ou me quebraria? Me xingaria e feriria minha carne? Riria da minha audácia? Parte de mim desejaria esta última, pois a incerteza se tornaria azedo desprezo, gosto que minha língua conhece bem.
O desespero nao me assombra, não tanto quanto a esperança. Quanta ingenuidade por achar que a mereço. O que me faz pensar de mim alguém tão especial assim? Sofro meus dias conhecendo a insignificância dessa provação. E que tolo eu sou de esquecer que mesmo que a árvore der frutos, colherei apenas vergonha e zombaria. O que alimenta essa esperança desesperançosa? Deus, como eu queria saber seu nome. Talvez um dia.
Talvez um dia eu olhe para o mar sem lembrar do rosto dele. Até esse dia chegar, ficarei olhando de longe, com o sem nome ao meu lado.