Era noite. Lize, uma menina de dez anos com cabelos cor de mel em cachos bem definidos até os ombros, olhos verdes brilhantes e pele branca, estava encolhida em seu pequeno quarto, o menor dos três da casa. Era um espaço de aproximadamente 9m², apertado e sem graça. As paredes, pintadas com um tom pastel desbotado pelo tempo, mostravam o desgaste de anos de uso. Uma cama velha e desajeitada ocupava a maior parte do cômodo, suas cobertas desgastadas e sem vida. Em um canto, uma pequena janela, quase sempre obscurecida pela poeira, permitia a entrada de pouca luz. Lize, magra e de estatura pequena para a idade, usava um pijama velho de algodão marrom com listras brancas, já desbotado e desgastado.
Ao lado direito da cama, um velho baú de madeira rachado servia como guarda-roupa, abrigando suas poucas roupas e pertences. À esquerda, uma mesa velha e frágil, prestes a desabar, sustentava com dificuldade um notebook antigo e surrado – seu único elo com o mundo além daquela pequena prisão. Em frente à mesa, um velho caixote de madeira, desgastado e rachado pelo tempo, servia como assento improvisado enquanto Lize jogava Minecraft. Não havia brinquedos, nenhum toque infantil que pudesse amenizar a atmosfera sombria e desolada do lugar. Era longe de ser o quarto que uma criança gostaria de ter; era, na verdade, um reflexo de sua própria solidão e abandono.
Lize estava imersa em seu mundo particular, construindo uma casa de blocos no Minecraft, seu refúgio digital, onde podia criar um mundo livre de sofrimento. O avatar de Lize, uma menina sorridente com um vestido azul bordado com ursinhos e sandálias com desenhos de unicórnios, refletia a personalidade que ela desejava ter na vida real.
De repente, a tela do Minecraft começou a piscar. Um brilho estranho surgiu, e aos poucos, uma imagem começou a se formar. Não era uma imagem completa, mas sim fragmentos que apareciam gradualmente, como se estivesse sendo revelado lentamente. Era um hipogrifo, uma criatura mítica com asas e cabeça de cavalo, mas sua aparição era enigmática e misteriosa. A imagem se completava lentamente, acompanhada de uma mensagem igualmente enigmática:
"Você não está sozinha, Lize. Nós te observamos."
O coração de Lize disparou, suas mãos tremeram e seus olhos se arregalaram. A mensagem era assustadora, mas também intrigante. O que significava? Quem a estava observando?
Lize tentou voltar ao jogo, mas a tela permanecia com a imagem do hipogrifo e a mensagem. A aparição misteriosa da criatura mítica a assombrava. Ela se sentia observada, como se um segredo oculto estivesse prestes a ser revelado.
Lize passou os dias seguintes em um estado de inquietação constante. A mensagem do Hipogrifo ecoava em sua mente. Ela se sentia diferente, isolada, e a escola se tornou um lugar ainda mais difícil de suportar. O bullying constante a deixava exausta e desanimada.
Então, uma noite, enquanto Lize jogava Minecraft, a tela brilhou novamente. Desta vez, a imagem do hipogrifo estava acompanhada por outras imagens: um unicórnio, uma fênix, um dragão e uma sereia. Cada criatura tinha uma mensagem:
Hipogrifo: "Sua força é inabalável. Enfrente os desafios com coragem."
Unicórnio: "Sua pureza de espírito brilha, mesmo na escuridão. A magia flui em suas veias."
Fênix: "Lembre-se: você renascerá das cinzas, mais forte e poderosa."
Dragão: "Sua alma é imponente. Você tem o poder de mudar o mundo."
Sereia: "Ouça a sua intuição. Ela te guiará para o seu destino."
Ao final, um mapa detalhado de Aethelgard apareceu na tela, indicando um caminho claro para seu novo lar.
A porta do quarto se abriu com um rangido. Clara, sua mãe, apareceu na entrada, com um olhar impaciente. "Lize, o jantar está pronto. Vem logo." Seu tom de voz não deixava espaço para discussão ou recusa. Era um comando, não um convite.
Relutantemente, Lize se levantou, sentindo um nó na garganta. Ela sabia que o jantar seria mais uma provação, mais um lembrete de sua solidão e rejeição. Mas ela também carregava consigo a promessa contida nas mensagens e no mapa – uma promessa de um futuro diferente, um futuro onde ela não seria mais invisível, onde ela encontraria seu lugar no mundo.
O jantar foi uma tortura. A conversa entre Michael, Clara, e Justin girava em torno de assuntos banais, mas cada palavra, cada risada, era uma agulha perfurando o coração de Lize. Ela se sentia invisível, uma sombra na própria casa.
"Lize, você poderia passar o sal?", Clara disse, sem sequer olhar para ela. Seu tom era frio e distante.
Lize, hesitante, passou o saleiro. Justin, seu irmão mais velho, riu.
"Olha a Lize, tão quietinha. Será que ela entendeu alguma coisa do que a gente está falando?", Justin zombou, seus olhos cheios de desprezo.
Michael, o pai, apenas observou a cena, sem intervir. Seu silêncio era tão cruel quanto as palavras de Justin. Era um silêncio que dizia: "Você não importa".
Lize engoliu em seco, as lágrimas ameaçando transbordar. Ela se sentia completamente sozinha, cercada por pessoas que a rejeitavam, que não a viam, que não a aceitavam. A abundância à sua volta – a comida farta na mesa, as risadas alegres – parecia uma zombaria cruel em face de sua desesperança.
Naquela noite, enquanto Lize dormia, o hipogrifo apareceu em seus sonhos. Ele era imponente, mas seus olhos brilhavam com gentileza.
"Lize," a voz do hipogrifo ecoou em sua mente, "você é uma bruxa. Existe um lugar para você em Aethelgard, uma aldeia onde você encontrará sua família. Você não está sozinha."
O hipogrifo apontou para um mapa que brilhava intensamente. "As respostas estão aqui. Siga o mapa.".
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