Em minha primeira missão de tentar entender meus assistentes, no primeiro caso, eu me foquei em entender o mais estranho entre eles. Noko. . .
Para mim, ela sempre foi pacata, resolvia as coisas de forma solitária e nunca dava trabalho. Os momentos que mais chamavam atenção eram por meio de suas polêmicas, algumas coisas eram ditas para muitos estranharem suas verdadeiras noções. Na última discussão que tivemos em grupo, ter sugerido os koboldos e sempre acentuar pontos das diversas raças parecia algo que chamava a atenção dela. Ela sempre ficava em silêncio por muito tempo em meio ao início do debate e só começava a se manifestar quando havia nuances de um empate.
Por esse comportamento tão divergente do resto, fiz essa primeira atividade. Fui até ela de surpresa, era meio que uma “folga” que decidimos tirar após algumas experiências, isso permitia que focássemos em nossos trabalhos e afazeres, pois mesmo trabalhando para a coroa imperial, ainda tínhamos muitos encargos pretéritos. Devo admitir que mesmo a minha intenção me fez o efeito inverso, eu havia sido pego de surpresa por ela.
A jovem tinha uma casa, diferente de tudo que já vi, parecia até que foi feita para se usar de referência. Na primeira consideração, ela era cilíndrica, com uma escada exposta, havendo 2 andares, sendo o primeiro feito integralmente de pedra e argamassa e o superior um composto de barro e tijolos. Havia um jardim rodeando a casa com as canaletas que escorriam a água, caindo nele e em um barril de coleta. Era a primeira vez que vi um caminho que guiava a água como se fosse um pequenino aqueduto.
Quando adentrei na casa, as coisas ficaram ainda mais confusas. A entrada só permitia abertura de dentro para fora em um sistema de trancas que eram organizadas por um sistema de manivelas. O interior do andar de baixo era idêntico a um quartel, tinha cozinha, oficina e sala no mesmo espaço e a única coisa que parecia dividir um lugar do outro eram cortinas de um tecido bem barato colorido.
Ela veio primeiro a me apresentar a sala, que era muito bem decorada. Tinha em um pequeno canto um altarzinho para a deusa que ela idolatrava, era algo diferente, muito colorido e nenhum pouco simétrico, parecia ter sido feito por alguém muito amador. Tenho minhas dúvidas se pode ter sido ela, mas essa suposição era bem rala. O chão tinha vários tapetes de diferentes tipos, além de haver algumas tapeçarias com artes simples em algumas paredes, como se fossem quadros decorativos.
Não se tinham muitas cadeiras, somente próximo a uma estante e outra ao lado de uma lareira de barro. As paredes tinham história, muita história para se contar. Nas paredes, nelas, eu pude relatar tanto partes de animais empalhados, armas e até mesmo documentos pregados, muitos deles em outro idioma e alguns de missões de guildas com selo oficial de conclusão. Parecia que Noko era uma aventureira um tanto fora da curva, livros ela tinha poucos, com alguns tendo travas, certamente eram diários ou algo mais restrito.
Ela ficou um tempo comigo, me mostrando algumas de suas atividades, parecia curiosa com minha repentina visita, mas não se espantou com a chegada. Debatemos um pouco sobre o livro, ela parecia bem interessada e muito mais falante que o normal. Percebi que ela não ficava quieta, quando não era um movimento de suas pernas ou cauda, eram suas orelhas e mãos. Era bem estranho ver aquela mudança, pois em missão ela era a mais quieta e isolada, sempre falando por último e agindo muito bem sozinha.
Depois disso, ela me levou ao que pensei ser a oficina dela, na verdade, era o quarto da mesma, muito pequeno se preciso mencionar, a cama ocupava uma parte da parede. O resto era composto por uma escrivaninha com um espelho e uma grade de porta de pergaminho, era algo simples, nada muito chamativo. Por fim, ela passou pela cozinha, naquele momento eu não sabia se estava em uma horta ou em um lugar para comer.
O teto estava cheio de ramos pendurados das mais diversas plantas e temperos locais, o chão do lugar era de pedra bem porosa assim como o forno e a mesa. As poucas coisas feitas de algo que não fosse uma rocha sólida eram a bancada, a mesa e os diversos potes de cerâmica lacrados com cera.
or lá, ela pegou uma jarra de ferro e dois copos e subiu a escadaria, nos levando à oficina dela. Aquilo, sim, era algo estranho, era uma mistura de ofícios estranhos. O teto tinha uma abertura no meio para observação de estrelas e entrada de luz. No centro, havia uma estrutura de lentes para observação e diversas caixas fechadas. Nos cantos, tinha três coisas distintas, sendo elas uma mesa alquímica, na outra um local de reparo e por fim uma lousa grande com um mapa local do lado com algumas coisas pregadas.
Era algo fascinante, ela não parecia ser muito focada em uma área do conhecimento, mas sim usando-os como algo complementar a seu próprio deleite. O lugar mais limpo era a parte dos reparos, ela possivelmente era uma aventureira sola. Ela me serviu um chá-verde, enquanto conversávamos sobre os feitos dela, ela dizia principalmente sobre algumas de suas missões e a dificuldade que tinha para observar as constelações, pois não havia locais bons onde estava para tal atividade.
Era de fato um ponto ruim, mas ainda bem aberto, pude ver os detalhes do lugar com certa delicadeza, diferente de Wu wu, Noko era um pouco desorganizada. Deixava algumas folhas no chão, assim com equipamentos e suas decorações eram bem diversas, não havia uma formalidade, de um lado tinha uma pedra cortada com cristais em seu meio e do outro havia um vaso decorativo da região de Nafen. Era até um pouco divertido explorar aquilo, ela não se importava com as coisas ao seu redor, gostava daquele estilo bagunçado e solto, se encontrando com facilidade ao procurar as coisas.
Nossas conversas fluíram bem, mesmo antes achando que ela era uma pessoa mais bruta por sua origem, percebi que ela tinha uma gentileza incomum, sua hospitalidade, mesmo modesta, me atraia bem. As piadas eram confusas, às vezes tive que pensar um pouco para entender o motivo das risadas, mas gostei da presença dela, mas ela tinha tiques que fui percebendo gradualmente, ela tinha uma forma bem intuitiva de descobrir o que estava sentindo ou quando a conversa não estava boa.
Suas orelhas e cauda a denunciavam, quando gostava de um assunto, as virava em minha direção e, quando este se tornava algo chato, ela as relaxava. Sua cauda também denunciava para alguns atos. Quando ela estava desconfortável, este pequeno ponto de pelagem se abaixava e, nos momentos de gosto próprio, ficava dançando de um lado ao outro de seu quadril. Era fofinho aqui, agora sabia algo que poderia me auxiliar a me comunicar melhor com ela.
Ficamos ali batendo um papo mais casual, ela ficou inicialmente confusa, por achar que iria tratar com ela sobre trabalho. Em meio à nossa atividade, ela ficou mexendo um pouco em seu ponto alquímico, parecia ser uma novata no ramo, aquilo para mim era uma especialidade. Vi ela fazendo o básico com destreza, e investindo moda em alguns pontos, parecia tentar se provar para mim.
Em um desses pontos, ela cometeu um erro, misturou soluções altamente reagentes, fazendo uma pequenina explosão de fumaça. Tanto meu rosto quanto o dela ficaram cobertos pela fuligem feita, ri bastante daquele ato e ela se juntou a mim. Por boas horas, fiquei lá, ajudando-a lá, conversando e descobrindo mais sobre as peculiaridades daquela jovem bestial.
Noko era diferente de tudo, não tinha ambições sérias de marcar seu nome na história, não parecia ter ganância por ouro ou prata, ela também não desejava vingança, amor ou buscar uma honra. Ela queria viver bem e aprender algo novo, se divertindo no processo, como ela complementou a dizer, tinha um desgosto incomum por burocratas e era extremamente exploratória, algo que percebi em suas histórias, aonde missões comuns se tornaram explorações por conta desse desejo de ver o desconhecido.
Fiquei grato em descobrir tanto sobre ela, seria bom se todos fossem livros abertos como ela. Porém, antes de partir, tive uma surpresa, uma tempestade me impediu de sair, me forçando a ficar com ela até mais tarde. Lá descobri outra coisa, a comida dela. Divergindo do normal, ela preferia coisas com farinha do que arroz, ela não gostava da textura, tinha também o costume de refogar vegetais junto de algumas frutas, tudo para se ter um sabor diferente.
Naquele momento, parecia estar testando alguma combinação, fatiou finamente um nabo e misturou com Longan formando um gosto estranho. Descobri também que ela não curte muito usar sal na comida, preferindo pôr na água para beber, aquilo foi exótico…
Após comermos um pouco, eu e ela descansamos um pouco na sala, fiquei quieto, observando pondo um fio colorido na estátua de sua divindade. Perguntei para ela o que significava aquilo e ela me respondeu ser somente um rito de agradecimento, não me contou ao certo o que estava agradecendo, mas deixei de lado. A tarde chegou perto do escurecer e ainda se mantinha chuvoso, ela parecia não se importar tanto com isso.
Quando chegou o início da noite, ela me chamou para jogar um pouco Mah-jong até a chuva passar. Assim, fizemos umas três partidas, ela tinha muita sorte mesmo sendo inexperiente no jogo, ganhei algumas e elas outras. A chuva passou por um momento, finalmente podia ir para casa, me orgulhar sobre o resto do livro das raças, ela solicitou para ficar mais uns poucos… e eu cedi. Joguei mais um pouco com ela, após o jogo ela me fez uma proposta exótica.
Aceitei. . . Fiquei bons minutos com ela na sala, descobri mais uma coisa sobre ela. Ela não se limitava a aventuras, secou minha boca algumas vezes, além de ter me feito pegar fogo. Não fizemos nada além de trocar alguns gestos. Parti de lá com o coração na boca e com o olhar desorientado.
Noko era uma pessoa incomum, um ponto fora da curva. Era bom ficar com ela, mas acho que preciso ter mais atenção com ela alguns momentos. . .