Caminhamos por algum tempo até parar na frente de uma papelaria que parecia uma livraria e que havia sido abandonada, porque dava para ver o pó nas janelas, dentro do local. Cocei o nariz só pensando na hipótese de entrar lá dentro e começar a espirrar pela sujeira.
— O que foi raposa? Vai dizer que tem medo da sujeira?
— Como?— olhei para Gerard e uma vontade de espirrar surgindo em mim.
— Saúde — informou segundos antes de eu espirrar.— Pelo jeito tem problema com poeira, não é?— perguntou rindo e colocando a mão na maçaneta da porta e abrindo um pouco.
— Claro que não, para de rir de mim criatura — discuto passando por ele apressada e entro na loja.
Meus olhos lacrimejam, meu nariz coça e começo a espirrar loucamente. Não tinha ideia que era tão alérgica assim. Eu sempre ajudei a minha mãe a limpar a casa e nunca espirrei daquela maneira.
A gargalhada de Gerard me deixou mais incomodada ainda. Aquele metamorfo era muito insuportável. Ele sempre encontrava alguma maneira de me incomodar. Não via a hora de me livrar dele e seguir viagem sozinha na minha missão.
— Então a mocinha não devia ter entrado aqui — voz grave surgindo de algum lugar daquele estabelecimento.
Olho em volta e não vi nada, acabei espirrando de novo. Gerard parou o meu lado e me entregou um lenço. Olho para ele sem entender nada.
— Vai dizer que nunca ouviu falar em lenço na sua terra, raposinha? Eles servem para limpar caca do nariz.
— De onde tirou isso?— pego o lenço e o fico encarando desconfiada.
— Sério isso? É apenas um lenço comum, olha — arrancou o lenço da minha mão e passou no rosto, me entregou novamente.
Torci a cara.
— Eca nem pensar que vou usar isso aí que você recém esfregou em todo seu… — espirro sem conseguir terminar a frase.
— Vocês parecem irmãos brigando deste jeito ou quem sabe um casal novo repleto de amor no coração um pelo outro — a voz estranha de novo. Olho em volta não vendo ninguém dentro daquela loja. Espirro novamente.— Ela não tem ideia quem eu seja. Assim como a Julieta não tinha ideia. Como seria mais interessante ter dado mais problema entre aqueles dois, aquela morte foi tão simples.
— Olha aqui moço, eu preciso de ajuda para comprar algumas coisas. Sabe onde encontro o dono — espirro — desta loja? — espirro de novo.
— Quieta raposa. Ele é o dono da loja — sussurrou Gerard puxando a manga da minha blusa.
— Tá, mas por ele então não aparece? Bem coisa de lelé mesmo, fazer esse tipo de coisa — sussurro de volta e espirro novamente.
Gerard se afastou e deu um tapa em sua testa balançando a cabeça em negativa. O encarei sem entender aquela sua reação.
— Olha moço, por favor. Eu tenho uma… passeio muito longo para fazer e não quero chegar atrasada nele, então poderia por favor aparecer para que pudéssemos conversar civilizadamente?— puxo a gola da minha blusa tapando o meu nariz, porque não aguenta mais ficar espirrando a cada respirada funda de ar.
— Se tivesse aceitado o meu lenço não teria que estar fazendo isso agora.
— Vai cutucar unicórnios Gerard pra ver se eles soltam pum arco-iris.
Escutei uma gargalhada que preencheu o local. Com certeza não era o dono do estabelecimento, porque um quase anão não conseguiria rir tão alto daquela maneira, a não ser que fosse muito alto. Sinto o meu capuz sendo puxado e viro, encontrando um gnomo corpulento que devia ter trinta centímetros de altura usando um gorro enorme e uma barba longa que arrastava pelo chão apoiado numa bengala e um casaco com capuz verde que batia na altura de seus joelhos. Algo bem estranho de se ver, porque anões sempre estavam usando armadura, gnomos pelos relatos usavam roupas roxas justas no corpo e o gorro com barba curta. Com certeza ele estava entre o meio termo das espécies.
— Amei o estilo. Diz aí que produto usa para deixar a sua barba tão linda assim? Amei o comprimento dela, muito estilosa — sinto a mão de Gerard tapar a minha boca e puxar para trás encostando o meu corpo no seu.
— Desculpa aí senhor Amuado, já estamos saindo…— Gerard me puxando na direção da porta.
— Calma aí, onde pensam que vão depois de terem falado isso tudo para mim?
— Olha, culpa dela, eu estou fora desse problema — Gerard me empurrando para frente.— Desculpa aí raposinha, tentei livrar a nossa pele, te encontro lá na rua…
— Sério Gerard? Isso não parece coisa de um cavalheiro fazer com uma dama?— o questiono cruzando os braços e espirrando novamente.
— Dama? Você? Sério? Não sei da onde. Você é bicho do mato raposa, dama passou longe desse corpo.
— Olha aqui, seu idiota, eu não sou um bicho do mato, não…
— Calma casal. Eu queria dizer que gostei do que ela falou para mim. Há muito tempo alguém não conversava comigo, sempre ficavam com medo de mim, só porque me irrito fácil, vê se pode isso.
— Não somos um casal — eu e Gerard falamos ao mesmo tempo.
— Sei, essas crianças de hoje em dia — gnomo anão balançando a cabeça em negativa.
— Concordo senhor Amuado, isso é ridículo mesmo, as pessoas fazerem isso com senhor. Então conta, o que usa na barba?— vou até onde ele estava.
— O que vai fazer com um produto de cuidar de barba?
— Passar no seu pelo quando vira animal para ver se diminui essa sua mania de ser tão ríspido.
— Eu não sou isso.
— São diversas misturas que uso que combro numa loja de alquimia no beco do unicórnio.
— Mas lá não é perigoso de se entrar?
— É, um pouco, mas tenho alguns truquezinhos de baixo das mangas para usar quando necessário — Amuado sacudindo os dedos na frente do corpo e faíscas saíram de seus dedos.
— Nossa, isso seria muito útil na floresta para acender uma fogueira.
— Concordo, então o que precisa de minha loja?
— Ah sim, eu preciso de… Caramba me esqueci do que era. Gerard, você se lembra dos itens que faltam?— olhei para trás em direção de Gerard que ainda estava perto da porta.
— Não sei mesmo como queria fazer esse passeio sem mim, raposinha — Gerard balançando a cabeça em negativa.— É um diário de viagem, papel e tinta.
— Maravilha, já volto. Sei exatamente do que vão gostar — senhor Amuado pulando para o chão e saiu correndo sumindo de vista.
— Como ele fez aquilo se estava usando uma bengala como apoio?— olho para Gerard sem acreditar no que o gnomo havia feito.
— Ora, bem simples. Ele é a mistura de dois seres, gnomos tem agilidade, podem saltar grandes alturas e anões bem ficam velhos antes do tempo — Gerard controlando a risada.
— Hum, sabe o que eu fico interessada nisso tudo?— perguntei chegando perto dele.
Gerard engoliu em seco e sorriu para mim.
— Como deve ser interessante a reunião de família deles.
Gerard deu um tapa na testa e balançou a cabeça em negativa.
— O que foi o que eu disse de errado?
— Vou lhe contar o motivo quando estivermos na rua.
— Mas eu queria saber agora…
— É que anões comem gnomos, pois gnomos são como pragas e eles são digamos que predadores — o senhor Amaduado surgindo em cima da mesa me dando um susto.
— Como você… mas como sua mãe e pai… tipo eles… — fico vermelha fazendo aquele tipo de pergunta, porque não me sentia confortável conversando sobre aquele assunto.
— Ah agora entendi, não são mesmo um casal. Esse aí é areia demais para o seu caminhão — gargalhou alto o senhor que preencheu o local.— Digamos que o conto Romeu e Julieta retrata os meus pais, mas não teve morte alguma pode ficar tranquila, eles ainda vivem juntos até hoje.
Olho para Gerard que estava com a boca aberta e não entendo aquela sua reação.
— O que foi? vai dizer que nunca conversou com ele?
— Tentei diversas vezes, mas ele nunca agiu assim. O que você tem senhorita Whitaker?
— Ora, eu apenas conversei, senhor Amuado, poderia fazer mais uma pergunta pessoal?
— Claro minha criança… Whitaker? Eu conheço uma história incrível sobre seus pais.
— Pais? Meu pai caça trolls por dinheiro e minha mãe é dona de casa.
— Quem lhe contou essa mentira criança?
Continua próximo capítulo ...
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└─Continua...