Com a desculpa de serem amigos, Bernardo estava conseguindo cercar Renata, planejando ganhar a aposta com Mateus. Stalkeando um pouco, já havia descoberto os horários dela de ida e volta do trabalho, de ida e volta da academia, e quando costumava sair para se divertir, geralmente nas noites de sexta.
E foi assim que ele deu um jeito de aparecer em um pub onde ela foi encontrar os amigos. Mateus e Jasmine, depois de muita insistência, aceitaram ir com ele. Bernardo vestiu uma camiseta branca com uma camisa de flanela xadrez azul por cima e jeans, achou que seria uma roupa mais versátil, já que pretendia sair sem saber bem o destino. O combinado era que desse o sinal quando chegasse, avisando Mateus e a noiva, que já estariam esperando arrumados.
Desceu para a garagem por volta das 20h e ficou em seu carro, espreitando, até que Renata chegasse. Ficou de boca aberta quando ela saiu do elevador. Vestia uma minissaia e uma blusa decotada, em tons diferentes de rosa nude. Por cima, um blazer ajustado de um bege quase branco que ia praticamente até o comprimento da saia. A altura mediana estava em parte compensada pelo salto do scarpin dourado, da mesma cor da bolsa de crochê com alça de corrente onde ela guardava o celular, distraída. O hatch azul ainda não tinha saído da garagem quando o SUV cinza se pôs em movimento.
Renata cruzou a cidade em direção a um dos bairros nobres da capital, indo para o norte por grandes avenidas. O trajeto levou vinte minutos e ela dobrou apenas três vezes, facilitando para Bernardo mantê-la em seu campo de visão. Em alguns momentos o sinal fechou antes que ele pudesse passar e o rapaz pensou que a tinha perdido de vista, mas conseguiu alcançá-la mais adiante.
O carro azul reduziu a velocidade em frente a um pub que mesclava sofisticação com rusticidade, efeito obtido graças à mistura das pedras da fachada com as luzes que se viam pelas janelas. Muitas pessoas circulavam por ali, algumas já sentadas nas mesas externas do bar, outras espalhadas pela rua, reduzindo a velocidade do trânsito. Renata entrou em um estacionamento ao lado da casa, sendo logo seguida por Bernardo.
Assim que certificou-se de que ela entraria no estabelecimento, o universitário mandou mensagem para Mateus, informando o local onde estaria, e logo entrou também. O interior era todo decorado com temática rock, focando em bandas clássicas. Bernardo demorou um pouco até localizar Renata, que abraçava uma amiga. Observando bem, ele lembrou-se de que era a mesma que estava com ela na festa à fantasia, porém agora com os longos cabelos cacheados soltos e não escondidos pela peruca branca da Tempestade. Com certeza era uma mulher linda, entretanto Bernardo continuava vendo apenas Renata — era o efeito que ela lhe causava.
Além das duas, havia um homem que abraçou a amiga da jornalista assim que elas se afastaram. Era negro, alto, forte e, tanto na barba curta quanto no cabelo apenas um pouco crescido, já se viam alguns fios brancos. Os três esbanjavam risos e foram na direção do bar, sendo discretamente seguidos por Bernardo, que procurou uma mesa vaga e sentou-se. Dentro de meia hora ele avistou Mateus e Jasmine chegando de mãos dadas. Cumprimentou a noiva do amigo com três beijinhos e apertou a mão dele.
— Pelo menos não perdemos a viagem vindo para cá. — Mateus disse no ouvido de Bernardo, um pouco mais alto para vencer o som ambiente. — Faz horas que a Jasmine quer me trazer aqui para conhecer. Ela vinha com as amigas quando morava perto daqui.
Os três se sentaram.
— Também já tinha vindo algumas vezes com Caio, Yan e Murilo. — disse Bernardo, também mais alto que o normal. — Tanto a comida quanto a bebida são ótimas. O que vão pedir?
Jasmine escolheu um coquetel não alcoólico, pelo mesmo motivo que Bernardo pediu cerveja sem álcool: ambos estavam dirigindo. Mateus empunhava uma garrafa verde praticamente igual à do amigo, mas a dele era a versão original da bebida.
A mesa deles ficava junto à parede, onde Bernardo se recostava, observando a pista de dança em frente ao palco. Lá, Renata movia o corpo graciosamente, rindo com o casal de amigos. Sem tirar os olhos dela, ele calculava como se aproximar.
— Achou sua “presa”? — Mateus perguntou em tom debochado.
Bernardo deu um gole na cerveja.
— Ela tá ali. Vamos dançar? — convidou ele.
Os três se colocaram perto do grupo de Renata. Os olhos de Bernardo estavam grudados nela enquanto ela dançava sem dar pelo que acontecia ao seu redor. Até que um homem entrou em seu campo de visão, aproximando-se muito da jornalista.
O outro tinha barba e cabelo grisalhos, combinados com uma forma física invejável. Era bem alto, talvez um pouco menor que Bernardo, e começou a interagir com Renata, trocando sorrisos e se balançando ao som da música. Devia ser mais velho que ela, pensou Bernardo, sentindo-se em desvantagem. Se podia perceber o clima entre os dois.
O universitário, tentando disfarçar a irritação, fez um sinal para Mateus, apontando para os banheiros. Foi furando a multidão, em uma transversal que passava por trás do tal grisalho, bem na linha do olhar de Renata, pretendendo fingir-se distraído. Notou com satisfação que ela o tinha visto, mas que também fez de conta que não e seguiu flertando com o desconhecido. Bernardo ficou ainda mais irritado.
No banheiro, ficou se encarando no espelho. Não conseguia entender por que ela o evitava. Era bonito e sabia disso, as mulheres também não o deixavam esquecer. E tinha seus talentos entre quatro paredes. Sim, talvez fosse um pouco convencido, admitia, mas tinha motivo.
E a química dos dois…! Não lembrava de um sexo tão bom com nenhuma garota com quem tivesse transado. Eles encaixavam perfeitamente. A menos que não tivesse sido assim tão bom pra ela… não, tinha sido, sim.
Te concentra, Bernardo. O plano é ficar com ela algumas vezes, só pra esfregar na cara do Mateus que você não se envolve com ninguém. Não fica idealizando, martelando na cabeça os momentos com ela. Seja objetivo.
Arrumou o cabelo e voltou para a pista, ainda sem saber como iria abordar Renata. Quando chegou perto dela, a viu enlaçada pelo estranho. Os dois se negaceavam, com sorrisos maliciosos, próximos demais. Bernardo sentiu que eles se beijariam antes mesmo do beijo se realizar e estava certo. Uma fervura de raiva tomou seu interior, deixando-o cego.
— Viemos à toa! — Mateus provocou assim que o amigo foi ao encontro do casal. — Sua musa está nos braços de outro cara.
— Cala a boca, Teteu.
— Teteu é meu…
— Espera que eu ainda nem comecei. — disse Bernardo, analisando em torno.
Uma ruiva natural muito atraente. Os cabelos cor de fogo, o rosto coberto por sardas, dançava perto dali. Ele pousou os olhos nela e já armou um sorrisinho cafajeste. Foi chegando perto e começou a dançar com ela, que demonstrou interesse sorrindo de volta. De soslaio, certificou-se de que Renata estava acompanhando seus movimentos, e foi um tanto incisivo na abordagem à ruiva. Acercou-se e pousou as mãos na cintura dela, falando ao ouvido:
— Oi, linda, meu nome é Bernardo. Posso saber o seu?
A garota exibiu um sorriso meio encabulado e aproximou-se do ouvido dele para responder.
— Layla. Prazer, Bernardo. — ela se apresentou.
— O prazer é todo meu. — ele retorquiu sorrindo. — Sabia que eu acho essas sardas um charme?
O sorriso dela se ampliou.
— É? Eu não gosto muito…
Os dois seguiam dançando, e Bernardo lançava olhares furtivos a Renata, que não tinha desgrudado do homem que a acompanhava. Entre um e outro beijo, eles dançavam em perfeita sincronia.
— Pois saiba que devia gostar, é um ponto forte em você. Não que você não seja toda linda… Seus cabelos, por exemplo, cor de fogo… Chamam a atenção.
Tá no papo, pensou Bernardo ao ver como reagia Layla às suas palavras.
— Ah, para… Nem é assim… — ela disse, um pouco tímida.
Aproveitando-se de um momento em que Renata estava de frente para ele, Bernardo envolveu a cintura de Layla com os braços e encostou os lábios nos dela.
— Estou com vontade de te beijar… Posso?
Com os lábios entreabertos e a respiração um pouco alterada, a garota mirou a boca dele antes de assentir e levar as mãos à sua nuca. Embora não fosse um beijo ruim, a atenção de Bernardo estava longe. Sua preocupação em encenar para Renata era maior do que o interesse na garota que beijava. Queria parecer envolvido, excitado, queria que a jornalista pensasse que ele não estava nem aí para ela.
De onde estava, Renata assistiu à representação com uma sobrancelha erguida e um bico de desaprovação nos lábios.
Horas antes…
Carolina e Marcelo haviam convidado Renata para ir conhecer um pub num dos bairros nobres da cidade na noite de sexta. Ela escolheu uma de suas calcinhas mínimas, rosa claro, e uma mini-saia que era quase micro. Perfumou-se, modelou as ondas nos cabelos com ajuda do secador. Decidiu ir com a bolsa que havia comprado de uma artesã indicada por Carolina: era uma peça exclusiva e elegante.
Realmente gostou do lugar. Tinha algo rústico e, ao mesmo tempo, vintage com um toque de modernidade. Entrou e, assim que se aproximou do bar, avistou a amiga e seu namorado. Trocaram sorrisos.
— Ai, Carol, amore, já estava com saudade! — disse ao ouvido da outra enquanto se abraçavam apertado.
— Também morro de saudade de você, sua quenga! Não sei onde você anda que nunca tem tempo para mim! — Carolina repreendeu.
Elas se olharam com carinho.
— Não é isso, amiga, é que realmente estou ocupada, trabalhando bastante, e aproveitando o tempo livre para treinar e para descansar também, né?
Carolina riu, travessa.
— E para dar, aposto. — provocou.
— Ah, para, como se vocês dois não estivessem sempre fodendo por tudo que é lado.
Marcelo deu uma gargalhada, cobrindo a boca.
— Aliás, oi, Marcelo, tudo bem? A pele dos dois está ótima, a propósito. — brincou Renata, cumprimentando o amigo.
Eles beberam por um tempo antes de ir para a pista de dança, onde ela se soltou ao ritmo da música, deixando o pensamento viajar. Depois de um tempo percebeu que um homem atraente, certamente com quarenta e poucos anos, se aproximava. Usava uma jaqueta de couro preta. Meu Deus, o que é isso? O cara parece aquele da série Supernatural, o John. E tá me dando bola! Aliás, não está disfarçando nem um pouco o interesse!
Sorriram um para o outro e em pouco tempo estavam dançando. Renata sentia-se inebriada, como se o homem a estivesse hipnotizando com o olhar. Até que, em um relance, avistou Bernardo passando não muito longe das costas do homem. Ele não parecia tê-la visto. Melhor assim, pensou ela.
— Qual o seu nome? Meu nome é Selton. — apresentou-se ele ao se aproximar do ouvido de Renata.
— Renata. — Ela respondeu sorrindo.
— Lindo nome e não só o nome. — elogiou Selton, admirando a mulher de alto a baixo.
Renata ligou o modo conquistadora.
— Opa, obrigada… Você também é interessante, sabia?
Eles se aproximaram, aproveitando que o rock que tocava era um pouco mais lento, e se puseram a dançar juntos enquanto trocavam olhares sedutores. Renata fitou a boca de Selton, mordendo o próprio lábio, e ele abaixou-se um pouco para beijá-la. Distraíram-se do que acontecia ao redor, perdidos nos beijos um do outro. Quando, enfim, se afastaram, ela pôde ver que Bernardo dançava com uma garota ruiva que parecia ter a idade dele e que era muito bonita. Sentiu uma sensação ruim e evitou ficar observando, mantendo a atenção em Selton. Trocaram mais alguns beijos e quando estavam, outra vez, separados, Renata assistiu ao espetáculo de Bernardo. Não conseguiu evitar que o ciúme estampasse seu rosto.
— Selton, vou dar um pulinho no banheiro, ok? — disse ao ficante, que assentiu.
Por que me sinto assim, se eu mesma disse a ele que procurasse uma garota da idade dele?, ficou se perguntando Renata no caminho do toalete.
Quando saía, no corredor que levava ao salão, trombou com alguém que reconheceu pelo perfume antes de erguer o rosto para vê-lo.
— Renata! Olha que coincidência te encontrar aqui! — fingiu ele, com toda a simpatia.
— Oi, Bernardo… — ela saudou. — Realmente, uma enorme coincidência. A cidade é tão grande e fomos nos cruzar justamente aqui, numa festa tão longe de onde moramos…
— Às vezes é o destino que quer nos reunir… — brincou Bernardo, sorrindo.
Renata apertou os lábios, olhando-o nos olhos.
— Que mané “nos reunir”, Bernardo. Deixa de besteira. Eu nem estou sozinha na festa.
Ele acariciou de leve o queixo dela.
— Eu vi. — disse olhando para ela como se fosse beijá-la.
Renata sentiu um calor subir de sua intimidade e esquentar o corpo todo. Respirou fundo.
— E você também não. Vi sua ruivinha, muito bonita a garota, inclusive você não devia estar aqui perdendo tempo. Devia voltar e dar atenção a ela.
A mão de Bernardo deslizou para baixo dos cabelos de Renata. Ela se arrepiou, levando a própria mão ao pulso dele com intenção de impedir seu gesto, mas perdeu energia no meio do caminho e apenas ficou pousada ali.
— Verdade, não estou sozinho, não. Mas sabe que estou com ela só porque você não quer estar comigo, né? — ele disse em uma voz rouca, grave, perigosamente próximo dela.
Renata lutou consigo mesma e, enfim, abaixou a mão dele.
— Já disse: para de bobagem. Você sabe que pode até escolher com quem ficar. — ela insistiu tentando dar a volta nele, que deu um passo para o lado e bloqueou sua passagem.
— Não, eu não posso. Se eu pudesse escolher, escolheria você. — ele declarou, fitando-a com intensidade. — Você que não me dá escolha.
Ela riu sem graça.
— Eu… eu quis dizer… — Renata se atrapalhou. — Nós… tínhamos um acordo. Lembra?
Bernardo curvou-se levemente para aspirar o perfume do pescoço de Renata, que outra vez sentiu todos os pelos da pele se eriçarem.
— Claro que temos. E eu vou respeitar nosso acordo porque não quero que você corte relações comigo. Mas você não sabe como é difícil ver essas suas coxas de fora, essa sua saia curta, e não pensar em te levar para um canto e…
Sentindo a calcinha umedecer, Renata fechou os olhos e soltou um longo suspiro.
— Você está brincando com fogo. — disse ela, quase rendida.
As mãos de Bernardo escorregaram pela lateral do corpo dela, da cintura até os quadris.
— Eu sei o que você quer dizer com isso. Não sou só eu. Você também quer. Você me vê e logo lembra como é uma loucura quando está nos meus braços.
Ela ergueu a cabeça e o encarou com ar de desafio.
— Você é muito convencido, mesmo.
— Diz que não quer. — ele falou baixo, se aproximando dela.
— Não podemos nos envolver.
— Diz que não quer.
— Eu não pretendo me envolver com ninguém, menos ainda com você.
— Diz. Diz que não quer. — ele insistiu, enlaçando-a pela cintura e encostando os lábios nos dela.
— Não é isso, é que… — tentou ela.
— Você não consegue dizer isso, porque não é verdade. — sorriu, pretensioso.
Renata não esboçou reação, a princípio, quando Bernardo a beijou. Mas, segundos depois, pousou as mãos nos braços dele e retribuiu o beijo com a mesma paixão que ele imprimia. Os corpos dos dois se aproximaram e o beijo se aprofundou, enquanto eles se moviam ao longo da parede, percorrendo o corredor na direção contrária à da pista de dança. Chegaram ao fundo, um canto mal iluminado onde havia uma porta fechada. Era, provavelmente, uma entrada de carga e descarga. Continuavam se esfregando, sem desgrudar uma boca da outra, as mãos de um explorando o corpo do outro.
— E… o nosso… acordo? — perguntou entrecortadamente Renata, ofegante, o rosto afogueado.
— Podíamos… fazer uma… pausa nele… Depois retomamos… — sugeriu Bernardo, também pontuando a fala com beijos que distribuía pelo pescoço dela.
— Você não… vale nada… — disse ela, com um sobressalto, quando ele deslizou as mãos para baixo da sua saia, agarrando o quadril, escorregando para as nádegas.
— Eu sei que não… — ele reconheceu entre beijos. — Mas você me deixa louco. Me atrai como um ímã…
— É tão difícil resistir… — gemeu Renata.
— Não resiste, então… — Bernardo falou no ouvido dela. — Deixa eu te fazer gozar…
Renata outra vez olhou na direção da multidão, no outro lado do corredor. Estavam protegidos pela penumbra do canto.
— Aqui? — perguntou ela, com o peito subindo e descendo de expectativa.
Bernardo encaixou a mão direita entre as coxas de Renata, que sentiu as pernas fraquejarem e ergueu o rosto, olhando para o teto e soltando um gemido. Ele afastou a calcinha pequena para o lado.
— Aqui… — respondeu, penetrando-a com os dedos, tão excitado por tocá-la como se ele mesmo estivesse sendo estimulado.
Ela cerrou as pálpebras, enterrando as unhas nos ombros dele quando sentiu que ele começava a massagear seu clitóris. Apoiou as costas na parede, instintivamente erguendo a perna direita para dar-lhe mais espaço.
— Aqui não dá… — Renata tentou negar em um fio de voz, ao mesmo tempo em que seu corpo se projetava para aumentar o atrito com a mão de Bernardo.
Enquanto a masturbava, com a outra mão segurando sua coxa para erguê-la, ele assistia ao seu prazer com os olhos semicerrados, os lábios entreabertos e de pau duro. Tinha vontade de estar dentro dela, queria fodê-la, mas vê-la entregue como estava, literalmente em suas mãos, estava sendo uma experiência sublime. Viu e sentiu que ela chegava ao orgasmo e quase gozou na própria cueca, vagamente alarmado. Esta mulher me desequilibra, pensou, colocando a calcinha dela no lugar.
Desmoralizada, era como Renata se sentia. Ajeitou a roupa, desceu a saia, encarando Bernardo. Ele sorriu para ela, levando os dedos à boca e lambendo devagar.
— Certeza que não quer que eu te chupe? — perguntou ele, com a cara mais sacana possível.
Olhando séria para ele, ela se empertigou.
— Acabou a pausa. Estamos de volta ao acordo. — disse, tentando controlar a respiração alterada.
Dando-lhe as costas, ela saiu pelo corredor. Bernardo ainda ficou alguns minutos aspirando o cheiro dela em seus dedos, um pouco fora da realidade. O que tinha ocorrido ali? Não fora calculado, ele não tivera controle do que acontecia. Simplesmente não conseguiu evitar. Sim, pretendia transar com Renata quantas vezes conseguisse, fazia parte da aposta, mas a aposta era para provar que isso não mexia com ele… E ele podia dizer muitas coisas sobre o que houvera naquele corredor, mas não podia afirmar que tinha sido como sempre. Costumava pensar no prazer da parceira, é claro, não era bem isso. É que ali tinha pensado apenas no prazer dela… E, mais do que isso… Tinha se sentido tão satisfeito ao vê-la excitada… ao assisti-la gozar… Estranho, diferente…
Bernardo baixou os olhos e viu que sua ereção estava bastante aparente na calça jeans. Será que precisaria bater uma no banheiro antes de voltar?
Resolveu o problema, lavou o rosto, colocou um chiclete na boca e voltou à pista, onde encontrou Renata, outra vez, dançando com o tal cara mais velho. Ficou com mais raiva do que antes da interação com ela. Renata lançou-lhe um olhar que durou apenas o suficiente para que ela se assegurasse de que ele tinha visto. Beijou novamente o homem, com as mãos na nuca dele, que descia as dele da lombar dela para as nádegas.
Bernardo estava desestruturado enquanto conquistador. Voltou a dançar com Layla, sorria para ela com os dentes cerrados, mas queria socar a cara do par de Renata e levá-la dali para um lugar onde houvesse uma cama ampla e macia, onde ele ia lhe mostrar que combinava com ela muito mais que aquele ali.
— Distraído? — Layla perguntou, com um sorriso.
Ele sacudiu a cabeça para acordar e afastar os pensamentos delirantes.
— Um pouco. Ando estudando e trabalhando muito, fica difícil relaxar quando temos a oportunidade. — desculpou-se ele.
Bernardo aproximou-se de Layla, enlaçando sua cintura.
— Mas podemos nos distrair esta noite, o que acha? — sugeriu.
Quando acercava-se mais da garota para beijá-la, Bernardo viu que Renata, de mãos dadas com o ficante, dava tchauzinho para os amigos e ia embora. Com ele! Beijou Layla impetuosamente. Ela se assustou e se afastou, um pouco sem ar.
— Nossa, o que foi isso? Você é um cara estranho, parece aquele do filme Fragmentado. Quando nos conhecemos, parecia super desencanado, depois voltou aéreo e agora está com todo este fogo. O que deu em você? — questionou Layla.
— Realmente tenho muitas faces, minha linda. E aí, a fim de sair daqui para ficarmos mais à vontade?
Layla franziu o sobrolho.
— Acho melhor não. Outra hora nos encontramos por aí. — disse ela, voltando pelo meio da multidão para o grupo de amigos com quem tinha vindo.
Bernardo parou, sério, de braços cruzados, e bufou. Mais adiante, Mateus dava risada olhando para ele, e Jasmine tinha um sorriso zombeteiro no rosto, mas cobria a boca para disfarçar. Aproximando-se do casal, Bernardo continuava com a mesma carranca.
— O que foi? Qual o motivo do riso? — perguntou.
— A cena toda, ué. — respondeu Mateus, dando um gole em uma long neck. — Você beija a ruiva, Renata beija o grisalho, vocês somem. Ela volta e fica no maior agarramento com o cara, você volta e dá uns pegas na garota. Só que a Renata foi embora acompanhada e você acabou de tomar o maior toco. Foi hilário.
Bernardo fingiu desinteresse.
— Eu que não quis ficar com essa menina. Muito novinha.
Mateus se dobrou de rir.
— “Bernardo, o experiente”, com menos de 25 anos vem com essa. Aposto que a mina tem uns 20 anos ou mais, você tá fazendo tipo como se toda mulher que você pegasse fosse da idade da Renata.
— Vai se foder, Teteu. Acho que vou embora mais cedo. Tchau, Jasmine. — ele se despediu, com a cara fechada.
Mimimi, “foi embora acompanhada” um caralho! Eu mexo demais com ela. Mexo tanto que ela foge de mim, é isso, justificava para si mesmo, indo para o carro. Essa mulher vai dar pra mim. E vai ser porque ela quer. Tenho certeza!