Bernardo terminou de se ajeitar e saiu para o corredor. Foi para seu apartamento, onde fechou a porta com um sorriso pretensioso no rosto. Sabia que ia conseguir, eu me conheço… E conheço mulher o suficiente para perceber quando uma está a fim de mim. Só preciso procurar o Mateus para contar e para ele cumprir a parte dele da aposta.
Pegou uma cueca no quarto e foi para o banheiro, onde se despiu, pendurando as roupas em um gancho da parede. Entrou debaixo do chuveiro, o rosto sob o jato de água. Com os olhos fechados, ainda podia ver Renata apoiada na parede, podia senti-la em contato com o corpo dele. Gostosa, gostosa, gostosa… O que aquela mulher tinha que mexia tanto com ele? Não, eu sei o que é. Ela estava se fazendo de difícil, era por isso que eu pensava sem parar nela, mas já estou livre disso. Território conquistado. Deu-se conta de que continuava pensando nela. Foi muito recente, justificou para si mesmo, meu corpo ainda está com o calor do dela. Vou comer algo e dormir. Quando acordar vai ter passado, é claro.
Renata estava decepcionada consigo mesma. Entrou no apartamento e pendurou a bolsa no cabideiro perto da porta. Foi se desnudando na sala mesmo e caminhando para o banheiro com as roupas nas mãos, chegando lá já nua. Jogou a roupa no cesto. Entrou no box e abriu o registro, soltando os cabelos que estavam em um rabo de cavalo e deixando o elástico que os prendia sobre o nicho da parede.
Eu sempre decidi se e quando quero algo com alguém. E quando decidia que não queria, era não. Não costumava ter dúvidas nem voltar atrás. A vida me forjou assim. Agora me vem esse menino que mal saiu das fraldas querer bancar o irresistível para cima de mim e eu caio! Não resisto mesmo! Isso é inadmissível e não vai se repetir. Ele é meu vizinho, é muita proximidade. Daqui a pouco rola um envolvimento e não tem como aceitar algo entre nós dois. Aliás, não quero nada com homem nenhum, nada que passe de sexo bom e amizade. Eu poderia ter isso com ele? Não, nem isso. Ele fica em cima demais. Ele precisa se relacionar com garotas da idade dele e eu até aceito caras mais novos, mas tanto? Aí não dá.
A mente de Renata dava mil voltas que terminavam sempre no mesmo lugar: na impossibilidade de ficar com Bernardo e no arrependimento de ter caído em tentação. Talvez eu tenha dado, enfim, o que ele tanto desejava e passe essa sede dele. Aí ele para de me importunar, pensou, ensaboando o corpo. Passou as mãos com espuma nos quadris, onde ele tinha agarrado com tanta força que ainda havia marcas vermelhas. Suspirou. É um rapazinho, mas é tão gostoso…! E tão convencido. Renata aplicou xampu na cabeça e começou a massagear o couro cabeludo. Ok, agora deu. Não preciso mais me preocupar com isso porque está tudo resolvido. Ele não vai mais me procurar.
Bernardo saiu do banheiro usando só uma boxer branca, enxugando os cabelos em uma toalha. No quarto, jogou a toalha molhada sobre uma poltrona, vestiu uma camiseta preta e uma calça de moletom cinza. Atirou-se na cama.
“Pronto, ganhei. Escolhe a cor da calcinha e me manda a foto. Já tenho até a legenda na cabeça” — digitou no aplicativo de mensagens.
Ele ficou esperando um pouco ansioso até que Mateus visualizasse a mensagem e começasse a digitar.
“Acho que você não entendeu os termos.” — o amigo encheu a linha de emojis dando gargalhadas.
Bernardo deu risada, mas mandou figurinhas de fúria.
“Que mané termos, Mateus! Eu disse que comia de novo, fui lá e comi. Pronto. Ganhei. Se você insistir, quem vai escolher sua calcinha serei eu.”
“Você disse que transava com ela antes do seu aniversário, e eu disse que você transava, mas que ia se apaixonar. Ou seja, a data limite ainda é o seu aniversário e falta um mês e meio. Logo… Vamos ver até lá se a coisa para por aí ou se você vai ter que escolher a calcinha pra você mesmo” — Mateus mandou uma figurinha de um gato rindo.
“Ah, seu filho da puta! Está roubando no jogo para não usar a calcinha da Jasmine? Pensa que me engana? Eu sei que você já usa, só não quer tirar a foto. Ok, tenho tanta certeza de que isso não vai acontecer que aceito essa sua roubalheira. Dia 03/06 é o prazo final. Você me paga!”
Apesar de ser quinta, os amigos solteiros de Bernardo tinham combinado de ir para um pub. Ele olhou para o guarda-roupa e sentiu preguiça de se arrumar para sair. Normalmente essas saídas eram um pretexto para pegar mulher, ainda que fosse divertido curtir um tempo com os “parças”.
Era como se sua necessidade por sexo estivesse suprida naquela noite, mesmo tendo transado apenas uma vez. Sentia uma plenitude, um cansaço bom no corpo, e estava com vontade apenas de comer alguma coisa e dormir.
Levantou-se e foi até a cozinha. Costumava ter congelado arroz e feijão que comprava de um restaurante especializado em comida fitness. Descongelou no microondas a quantia necessária para um prato. Depois pegou um filé de frango que já tinha deixado temperado e pronto para grelhar. Untou o grill com manteiga e deixou a carne ali enquanto tirava três ovos da geladeira. Quebrou-os em uma frigideira, temperou e foi mexendo enquanto cozinhavam. Ajeitou tudo em um prato de louça e pegou um dos copinhos tampados com salada mista em camadas que deixava preparados, já com aceto balsâmico e azeite de oliva ao fundo, bastando chacoalhar.
Pôs a mesa, depois voltou à cozinha e pegou na geladeira uma garrafa com suco integral de laranja e um copo. Sentou-se e começou a comer. Enquanto cortava o filé de frango, refletia. Se tinha um mês e meio para provar que Mateus estava errado, precisava também convencer Renata a transar mais vezes com ele. “Espero que você esteja satisfeito, porque vai ser a última vez.” Até a voz da mulher era sexy. Ah, Renata, você tinha dito que não ia acontecer, e aconteceu. Não é de se duvidar que aconteça de novo… A gente encaixa tão bem. Você me dá um puta tesão e confesso que quanto mais se faz de difícil, mais atiça meu interesse.
Renata entrou no elevador usando um vestido de malha justo até a cintura e soltinho na saia, vermelho, de mangas longas. Nos pés, botas de cano médio, amassado, em um couro que parecia de cobra, dourado. Ela estava distraída pela tela do celular e nem percebeu que, entre as outras pessoas que havia no espaço, também estava Bernardo. O rapaz mediu-a de alto a baixo, sem que ela desse por isso. A mulher parou de costas para ele, ainda concentrada. Para Bernardo foi um esforço e tanto não dar o passo que o separava dela e encostar-se por trás, encaixando-se em sua bunda, aspirando o perfume de seu pescoço que podia sentir de onde estava e que sempre o deixava eriçado.
A maioria das pessoas desceu do elevador no piso térreo, restando além de Renata e Bernardo apenas um vizinho, o idoso que presenciara a folia entre o jovem e as duas garotas que o visitaram. O homem mais velho lançava um olhar de reprovação para Bernardo, mesmo que ele estivesse a mais de trinta centímetros de distância de Renata.
Desembarcaram os três no subsolo. O vizinho de mais idade se afastou na direção de um sedã branco que estava próximo. Ele logo manobrou e saiu da garagem, enquanto a jornalista guardava o smartphone na bolsa de couro dourado e se encaminhava para um hatch em um tom de azul vivo que estava mais adiante.
A vaga de Bernardo não ficava longe da dela e ele a seguiu até chamá-la quando já estava perto:
— Rê…
Renata voltou-se vivamente, com a testa franzida.
— Sim?
— Estou invisível para você? Viemos no mesmo elevador e você sequer me deu bom-dia.
Ela assentiu.
— Bom dia. — disse já virando-se para continuar a caminhar.
— Nossa foda de ontem não sai da minha cabeça… — ele disse baixo, andando quase ao lado dela. — E aposto que também não sai da sua.
Renata parou.
— Você está me seguindo para dizer isso? — indagou, contrariada, encarando Bernardo.
Ele continuou caminhando e a ultrapassou.
— Na verdade, não estou seguindo você. Estou indo até meu carro, que está ali. — apontou para o SUV cinza. — Só aproveitei para dizer isso porque acho uma pena desperdiçar uma química como a nossa por teimosia.
Ela ficou sem jeito, mas continuou andando até chegar ao seu carro. O universitário chegou perto de seu ouvido para falar:
— Até sonhei com você… Sonhei que fazia tudo o que não deu tempo de fazer ontem naquela rapidinha… Sonhei que te lambia inteira, que você gemia, gozava, eu te pegava de quatro e…
— Quando isso acontecer, você acorda e bate uma punheta que passa. Ou guarda a fantasia para realizar com uma garota da sua idade. — Renata interrompeu, abrindo a porta do veículo e entrando. Em seguida, baixou o vidro. — Tchau, Bernardo.
Ela saiu com o carro. Bernardo olhou para baixo: toda aquela imaginação que tinha usado para inventar um sonho com Renata o deixara de pau duro. Isso não costumava acontecer assim com tanta facilidade. Ajeitou o membro na calça jeans, tentando disfarçar o volume e fazendo que não com a cabeça. Não foi dessa vez, mas eu te pego, mulher gostosa do caralho!
Entrou no SUV e partiu para a faculdade.
Naquela semana Renata e Bernardo se desencontraram. Mesmo na academia, onde ele chegava já procurando por ela com os olhos, não a tinha visto mais.
Renata estava indo treinar antes do trabalho. As aulas de yoga das 7h lhe pareciam cedo demais, mas ela estava deliberadamente fugindo de Bernardo.
No sábado, Renata acordou às 8h, tomou um banho e vestiu um abrigo confortável azul. Foi para a cozinha, preparou um café com leite e tomou comendo alguns biscoitos, mexendo no celular. O dia estava fresquinho, o céu nublado, pensou em deitar-se na rede da sacada para ler. Pegou o livro “O amor natural”, de Carlos Drummond de Andrade, e se acomodou.
Já fazia bem uma hora que estava ali quando soou a campainha. Suspirou, impaciente, deixando o exemplar sobre a mesa de jantar, no caminho para a porta da frente. Nem olhou pelo olho mágico antes de abrir.
Bernardo estava diante da porta, com uma calça de moletom preta e uma camiseta branca, cabelos molhados, exalando um perfume de xampu com colônia masculina. Renata suspirou ainda mais fundo.
— Sim?
Ele apoiou-se com um braço no marco da porta e estendeu a outra mão com o saca-rolhas.
— Já que você não aceita beber um vinho comigo no meu apê, te devolvo o saca-rolhas.
Ela pegou o objeto evitando encostar na mão dele.
— Falei que não tinha pressa.
Ele piscou devagar, com um meio sorriso no rosto.
— Não estou apressado. Levei bastante tempo para devolver. Obrigado pelo empréstimo, pensei em você quando estava abrindo o vinho.
— Então era isso? Não precisa agradecer, às ordens. Tchau.
A dona da casa já ia fechando a porta, mas foi impedida pelo visitante, que a segurou com a mão espalmada.
— Poxa, Renata, você vai mesmo me evitar desse jeito? Olha só, somos vizinhos. Se você não quer nada comigo, eu entendo, digo, na verdade não entendo, mas… Eu aceito, se bem que não é meu direito aceitar ou não… A questão é: não podemos ser amigos? Gostei de conversar com você, do seu senso de humor, suas tiradas ácidas. É óbvio que adorei transar com você, mas, se não vai mais rolar, ficaria feliz com sua amizade. Não precisa ficar esse climão entre nós.
Ela entortou a cabeça, avaliando as palavras dele.
— Também gostei de conversar com você, você é bem bobão, mas é engraçado. Ok, vamos tentar ser só amigos, tá? Mas você precisa parar de dar em cima de mim toda hora.
Bernardo cruzou os dedos sobre a boca.
— Juro!
— Então, tá. — Renata outra vez tentou fechar a porta e outra vez foi bloqueada por ele.
Ela fitou o rapaz começando a ficar irritada.
— Podíamos selar nossa amizade com um almoço. — ele sugeriu. — Pretendo fazer uma lasanha de berinjela com presunto e queijo. Você gosta?
Renata cruzou os braços. Nem sabia o que ia almoçar mesmo.
— Gosto. Você não vai pensando que vou para seu “abatedouro” e que vai mudar algo do que ficou combinado aqui, tá?
Bernardo sorriu.
— Não, de jeito nenhum. Combinadíssimo. — ele estendeu a mão virada para cima e ela a fitou sem entender. — Vamos precisar novamente do saca-rolhas, porque eu ainda não comprei um.
Ela devolveu o sorriso e colocou o utensílio na palma dele.
— Até a hora do almoço, então. — despediu-se ela.
— Até. Te espero. — respondeu ele, finalmente permitindo que ela fechasse a porta.
Bernardo preparou a lasanha com um sorrisinho teimoso nos lábios. Colocou a mesa na sala de jantar, arrumou as taças para o vinho. Olhou no relógio do micro-ondas e já eram 12h15, receou que ela não viesse. Um minuto depois, ouviu batidas na porta.
Ao abrir viu que Renata não tinha se incomodado em trocar o agasalho confortável, não estava arrumada. E uma mulher dessas nem precisa se arrumar pra ficar linda…, pensou. Quando passou por ele para entrar, o anfitrião pôde aspirar outra vez aquele perfume dela, cheio de frescor.
— Aqui estou. — disse ela, abrindo os braços no meio da sala. Observou ao redor. — Seu apartamento é igual ao meu.
E você nem viu o quarto, pensou Bernardo, mas mordeu a língua para não dizer nada a respeito.
— Ah, é. Senta, fica à vontade. A lasanha deve estar pronta, só vou servir.
Renata sentou-se no sofá.
— Não imaginava que você cozinhasse. — comentou, observando a decoração.
Os móveis tinham um estilo clean, simples. Muito cinza, preto e branco.
— Eu me viro. Principalmente para manter uma alimentação saudável no dia a dia pelo menos. Não adianta nada treinar e pôr tudo a perder na comida, né? — explicou ele, trazendo a travessa com a lasanha da cozinha e colocando no centro da mesa. — Não que eu não goste de porcaria, mas… Pode vir, vou buscar a salada e o vinho.
Renata sentou-se admirando o prato principal. Parecia bem apetitoso. Bernardo trouxe uma cumbuca de cerâmica com salada primavera e colocou ao lado da lasanha.
— Tomei a liberdade de fazer essa salada sem perguntar se você gostava, mas tudo bem se não gostar. Até tenho alguns legumes cozidos e posso preparar outra rapidinho para você, se quiser.
Curiosa, ela espiou para dentro do prato.
— Isso é manga?
— Alface, tomate cereja, palmito, manga. Temperei com aceto balsâmico.
Ela sorriu, interessada.
— Curto sabores agridoces. Nunca provei essa salada, vou querer, com certeza. — ela levantou o prato e Bernardo a serviu.
Renata provou a comida.
— Hummm…! Te diria que já pode casar, pena que você não é pra casar! — brincou ela.
Bernardo deu risada.
— Não sei por que você diz isso. — ele desconversou, bem-humorado, também comendo um pedaço de lasanha.
Renata sorveu um gole de vinho tinto.
— A gente sabe só de olhar. Ou eu que já tô com o couro curtido e sei identificar. — deu de ombros.
Bernardo ergueu as sobrancelhas, espetando a salada no garfo.
— Talvez você tenha mesmo razão. — concordou.
Os dois comeram por alguns minutos em silêncio.
— Mas também… você é tão novinho, ainda vai ter tempo de mudar de ideia. — comentou ela sem erguer os olhos do prato.
— Renata, para. — ele pediu gentilmente, pousando a mão sobre a dela. — Para de enfatizar isso. Você já teve a minha idade, por acaso mudou de ideia com a passagem do tempo? Não sei se te entendi errado, porém, pelo que notei, você vive como eu, fugindo de compromisso.
Eles se entreolharam. Ela descansou os talheres.
— Na verdade, sim e sim. Melhor dizendo: sim, hoje vivo como você, não quero me comprometer. E, sim, mudei de ideia com o tempo. Quando eu tinha meus vinte e poucos, era romântica. Queria casar, ter dois filhos e um cachorro, entende? Mas a vida me fez assim.
Continuaram fitando-se mutuamente. Bernardo tomou coragem para perguntar:
— E o que houve?
Renata fez um gesto de desinteresse no ar.
— Muitas coisas. Coisas chatas, você não vai querer saber. Podemos mudar de assunto?
Ele assentiu.
— Sim, podemos. Você é jornalista, se bem me lembro. Onde você trabalha?
— Estou no maior jornal da cidade há mais de dez anos. Atualmente escrevo para o caderno dominical de comportamento. E você, futuro engenheiro, continua sem trabalhar?
Ambos comeram por instantes. Bernardo engoliu para retomar a conversa.
— Na verdade, comecei um estágio em uma empresa de tecnologia. Estou bem empolgado. — respondeu ele, com a animação perceptível na voz.
— Nossa! Que legal. Espero que esteja conciliando bem com os estudos.
— Até o momento está tranquilo. — ele concordou. — Apesar de que agora vem o projeto de graduação de fim de curso e as coisas ficam mais corridas.
— Humm… Que interessante. E como é esse projeto? É como se fosse o nosso TCC?
— Sim, tipo isso. Só que bem mais prático e menos teórico. Quer mais vinho?
Ela levantou a taça e o dono da casa a serviu.
— Então, estou desenvolvendo um braço robótico como esse aqui da minha tatuagem. — Bernardo apontou o braço coberto pelo casaco de moletom. — Claro que não é nenhuma máquina extraordinária, é um projetinho, pouco mais que um brinquedo, né.
Renata riu, interessada.
— Sério? Que viagem! Não diminua seus feitos. Isso parece até coisa de ficção científica. Aposto que você curte essas coisas.
Ele também riu, em seguida bebeu um gole de vinho.
— Curto… E você nem sabe… — Bernardo exibiu um sorriso travesso.
— Humm. Fala. — ela sorria também, cúmplice.
— Gosto de tudo que é tipo de ficção científica, filmes e livros de herói, de espaço, etc. Mas a minha preferência mesmo é por aqueles antigos. Anos 80 e 90.
A risada de Renata se ampliou.
— Você não era nem nascido, garoto! — Bernardo fingiu-se bravo e ela corrigiu-se. — Desculpa. Mas realmente, eu mesma ainda era criança nessa época. Você gosta de quê? Agora vai ter que confessar.
— Não ria. Gosto do “Exterminador do futuro”, “Robocop”, “De volta para o futuro”...
Renata descansou os talheres e tentou cobrir a boca para esconder o sorriso.
— Desculpa.
— Falei para não rir. — ele também ria.
— Alguns desses filmes não tem uma estética meio “podrona”? Uns “defeitos especiais”? Sangue jorrando para todo lado, pedaços de gente… Aqueles sons que o Robocop fazia quando se movia e quando pisava no chão…
Ela imitou os movimentos e ruídos de um robô. Bernardo não conseguia ficar sério.
— Que injustiça! Sabia que “Robocop” ganhou o Oscar de “Melhores efeitos sonoros” em 1988?
Cobrindo a boca aberta com as duas mãos, Renata arregalou os olhos.
— Mentira! — duvidou.
— Pega o celular ali e confirma, então. — desafiou ele, cheio de si.
A visita realmente pegou o smartphone que tinha deixado na mesinha de centro e pesquisou rapidamente no buscador. Ficou ainda mais boquiaberta.
— Você tem razão, não está de sacanagem!
— Viu?
Os dois deram risada.
— Olha, faz um bom tempo que assisti a esses filmes. Confesso que curto mais um mistério e até um terror psicológico, então deixo de lado essas obras de arte do cinema.
— Você tem algo para fazer de tarde? — ele perguntou de supetão.
— Não exatamente… — Renata respondeu sem entender aonde ele queria chegar. — Estava lendo de manhã, provavelmente passaria a tarde lendo também…
— Não me acompanha assistindo a “Robocop”? O original, né. Nada de remake. Prometo que faço pipoca doce e pipoca salgada, gosto de comer misturadas. Claro que você pode comer separadas. Tenho gostos peculiares, você não entenderia.
Ela riu da piadinha, depois pensou por instantes.
— Não sei se deveria, mas vou aceitar. Valendo o nosso acordo, hein?
— Valendo o nosso acordo! — ele ecoou.
Bernardo tirou a mesa e colocou os pratos na lava-louças. Depois trouxe travesseiros e lençóis do quarto para a sala.
— Você pode ficar com o sofá. Eu me ajeito aqui nessa poltrona. Faço a pipoca agora?
Ela acenou negativamente.
— Não, recém almoçamos. Vamos assistir a uma parte, quando der vontade você faz. A menos que já esteja com vontade, está?
— Ainda não. — respondeu ele, apertando o play no controle remoto.