Mateus e Bernardo escolheram uma mesa próxima à vidraça da lanchonete. Estavam na região da cidade que era tomada por barzinhos, casas noturnas e restaurantes. Era terça-feira, 20h, mas Bernardo tinha conseguido, com dificuldade, arrastar o amigo para comer um xis, chantageando-o. “Agora que você está noivo, só quer saber de Jasmine, Jasmine. Onde fica a nossa amizade de anos?” Ao que o outro retrucara: “Tá bom, Bernardo, para de choramingar. O que você quer fazer?”
— Vou pedir esse bauru de filé aos cinco queijos aqui. — escolheu Bernardo diante do cardápio. — E uma cerveja artesanal, já vim sem o carro pensando nisso.
— Argh, não sei como você pode gostar dessa gororoba desse bauru cinco queijos. — criticou Mateus. — Vem esse cheddar e esse catupiry cremosos, o negócio chega a ser escorregadio.
Bernardo armou um sorriso malicioso.
— Pequeno gafanhoto, escorregadio é que é bom. Você não gosta da coisa molhadinha? O que sua noiva viu em você? — debochou ele.
Mateus revirou os olhos.
— Eu só não gosto desse monte de gordura escorrendo na comida, mulher é outra coisa. E você, que treina igual a um condenado, devia se entupir de banha?
— Eu treino é pra isso mesmo. Amanhã eu corro um pouquinho a mais na esteira para compensar. E você vai pedir o quê?
— Um bauru de filé comum.
— Ok, vamos pedir então. Artesanal pra nós dois, isso?
O outro assentiu. Chamaram o garçom, que em seguida voltou com a garrafa de cerveja. Ambos se serviram.
— E então, como a Jasmine reagiu ao pedido? — perguntou Bernardo, antes do primeiro gole.
— Ficou super emocionada, adorou o anel. Disse “sim” na hora, claro.
— Cara, sério mesmo. Eu não entendo como é estar no seu lugar, mas estou super feliz por você, porque você é do bem e merece mesmo que as coisas deem certo para vocês. Se vocês acham que é casando que vão ser felizes, que bom!
Mateus bebia sua cerveja.
— Ótimo que você aprova. Afinal, você é um dos padrinhos.
Bernardo parecia sinceramente surpreso.
— Eu?
— Claro, né! Você sabe que é o meu melhor amigo. Jasmine vai chamar as amigas dela e o amigo dela. Eu precisava chamar alguém tão importante pra mim quanto.
O outro parecia ainda estupefato.
— Nunca imaginei que você ia chamar um cara tão anti-casamento para ser seu padrinho. — falou, bem-humorado. — Isso não dá azar?
— Vai se foder, Bernardo! Nada vai nos dar azar agora que nos acertamos. Talvez ser nosso padrinho te dê até sorte.
Dando de ombros, Bernardo franziu o cenho, virando outra vez o copo enquanto encarava o amigo.
— Se você diz… Olha, os baurus estão chegando. — Bernardo apontou para o garçom, que colocou os pratos com grandes sanduíches cercados de fritas na frente de cada um deles. — Podia trazer um molhinho remolado para nós, meu querido?
O funcionário, sorrindo com uma simpatia polida, entregou talheres, fez que sim e virou-se rapidamente para voltar à cozinha.
— Eu quero saber é o seguinte: quer dizer que você continua encontrando sua vizinha gostosa na academia e em toda parte? — provocou Mateus, cortando o pão no prato.
— Sim, parece que ela e aquele bundão me perseguem. — confirmou Bernardo, colocando sal nas batatas.
— Vou resumir toda a minha perplexidade em duas palavras: e daí? Tanta mulher entrando e saindo do prédio ou da academia, porque você está se fixando nessa? Não gostava de dizer para eu parar de ser obcecado pela Jasmine?
Acabando de comer uma batata, Bernardo retrucou:
— Ah, quer saber? Eu não vou negar merda nenhuma. Tenho um puta tesão nessa mulher. Se ela quisesse dar pra mim de novo… Bah!
Mateus deu uma gargalhada.
— Ué? Perdeu seus superpoderes? A tal Renata é sua kriptonita?
Fitando o amigo, contrariado, com os lábios contraídos e o cenho franzido, Bernardo defendeu-se:
— Não, eu não perdi, não. E ela não me domina dessa forma, o meu nome não é “Teteu”. Acontece que o mais difícil dá mais vontade e ela tá fazendo jogo duro, só isso. Mas aposto que vou transar com ela de novo, ela não consegue disfarçar que também quer.
O rosto de Mateus tinha um ar zombeteiro.
— E eu aposto que você é que vai ficar de quatro por essa mulher.
O garçom deixou o potinho com o molho à base de maionese temperada na mesa. Os dois agradeceram. Molharam batatas fritas e comeram, dando uma breve trégua na discussão.
— Eu poderia apostar de verdade que isso nunca vai acontecer. Porém não estamos em um filme bobo que começa com uma aposta, depois a mocinha descobre e fica mordida. Mas meu aniversário é daqui a um mês e meio e garanto a você: antes que eu faça 22 anos, eu vou ter essa mulher na minha cama outra vez. “Cama” é jeito de falar, pode ser no sofá, no tapete da sala, no chuveiro, na parede…
— Eu já entendi. Minha aposta é outra. Você até pode conseguir comer essa mulher, mas ela vai te dar outro bocetaço e você vai se apaixonar. Veremos Bernardo abandonar a putaria e querer se aquietar nos braços da jornalista gostosa.
— Vou para a faculdade usando calcinha se eu morder minha língua e acabar me apaixonando. — disse Bernardo, cheio de si, antes de beber mais um pouco.
— Só aceito apostar se eu puder fotografar pra provar. — riu Mateus.
Bernardo estendeu a mão, que o amigo apertou.
— E se eu conseguir transar com ela e não me apaixonar, que é o que, obviamente, vai acontecer, já que é o que sempre acontece?
— Eu peço uma calcinha da Jasmine, coloco, tiro uma foto e deixo você postar e me marcar.
O outro começou a rir, quase engasgando.
— Só aceito se for fio-dental.
— Pode ser. Sei que vou ganhar.
Dando uma mordida no sanduíche partido ao meio, Bernardo ria balançando a cabeça negativamente. Engoliu para poder falar.
— Consigo imaginar essa sua bunda ridícula numa calcinha de rendinha. — zombou.
— Também consigo imaginar a sua. Terei pesadelos, inclusive. — Mateus rebateu, rindo.
Por um lado, o desafio deixou Bernardo ainda mais interessado em ter Renata outra vez. Por outro, uma pontinha de receio de que houvesse uma chance de Mateus estar certo, mesmo que mínima, o picava. É só pra matar a vontade, zerar essa implicância. Assim que eu transar com a Renata, vou conseguir parar de pensar nela. Seu inconsciente cochichou, causando um incômodo: é o que espero, pelo menos.
Era quinta-feira e Renata entrava, outra vez, na academia. Dessa vez, para fazer musculação. Usando um conjunto de legging e top azul claro com detalhes em preto, ela cumprimentou a recepcionista, foi até os armários guardar sua bolsa e foi direto para um aparelho que trabalhava os glúteos. A posição exigida para fazer o exercício era de quatro apoios sobre os joelhos e os antebraços: o corpo se encaixava na máquina e tudo que ela precisava fazer era empurrar peso para cima com o pé, um de cada vez.
— Assim você dificulta as coisas… — soou uma voz conhecida, de fora de seu campo de visão.
Virou-se para trás e viu Bernardo tomando água em sua garrafa de inox, com os olhos cravados na bunda dela.
— Você podia fazer o favor de sair daí? — pediu ela, tentando não se perder na contagem mental das repetições do exercício.
Bernardo exibiu aquele sorriso cafajeste, ainda fitando seu corpo.
— Na verdade, não. Estou esperando para fazer esse aparelho e ficarei aqui até desocupar, a menos que você prefira intercalar comigo.
Renata terminou a primeira série e avaliou o que o universitário dizia. Se não aceitasse a sugestão, ficaria ali com as nádegas expostas àquele olhar incendiário dele e tudo levaria mais tempo. Decidiu ceder.
— Ok, vamos revezar. Podia me dar licença?
Bernardo se afastou um pouco e ela saiu de onde estava. Recolheu sua toalhinha que usava para proteger a superfície do suor e deu espaço para que ele se acomodasse. Enquanto Bernardo fazia suas repetições, ela pegou sua garrafinha de vidro roxa com luva de neoprene, que tinha deixado no chão ao lado, e bebeu água.
— Você sabe que ideias aparecem na minha cabeça vendo você nessa posição aqui? — Bernardo perguntou em um tom de voz que só Renata, que estava perto, podia ouvir.
Ela fez que não com a cabeça, desaprovando.
— Só pelo seu tom eu acho que sei. Mas já te adianto que é melhor tirar seu cavalinho da chuva. — ela respondeu tão baixo quanto.
Bernardo tentava continuar contabilizando o exercício enquanto falava.
— Sabe, existem alguns modelos de cadeira erótica que deixariam você praticamente na mesma posição que nesse aparelho aqui… — ele falou ainda sussurrando. — Lembra que divertido foi usar aquela cadeira?
Com um suspiro, Renata revirou os olhos e desviou o olhar.
— Você fica ainda mais gostosa de quatro, sabia? Acho que isso combina com a gatinha no cio...
— Terminou a série? — ela desconversou, séria.
Bernardo se arrumou e deixou a máquina, pegando sua toalha.
— Terminei, faltam duas. E você?
— Essa é a última. — ela disse com ar de quem encerrava o assunto.
Trocaram de lugar. Bernardo, dessa vez, fez questão de se colocar do lado dela, ao alcance da sua visão periférica, enquanto a observava com aquela cara que mal disfarçava o interesse.
Depois de terminar o exercício, Renata buscou escolher sempre aparelhos diferentes dos que Bernardo ia usando e conseguiu fugir dele até terminar seu treino para ir embora.
Abria seu armário quando percebeu que o professor de musculação estava parado ao seu lado. Sorriu para ele.
— Oi, Leandro! Tudo bem? — cumprimentou, tirando sua bolsa do guarda-volumes e fechando-o.
Leandro encostou-se na parede metálica coberta de portas, bem perto dela.
— Oi, Rê… Tudo bem, e você? Nem falei com você, fiquei ocupado ajudando alguns iniciantes que precisam de auxílio para praticamente tudo. — ele se explicou.
— Eu vi, nem esquenta, é seu trabalho, não é? — disse ela, passando a alça da bolsa por cima da cabeça para pendurá-la transversalmente no ombro.
Leandro fitou-a de cima a baixo.
— É sim… Por isso que acho que devíamos marcar uma saída uma hora dessas, uma ceva, o que você achar interessante. — ele sugeriu com um sorriso sedutor.
Renata sorriu de volta, mordendo o lábio inferior.
— Sabe que não seria má ideia? Quando você tiver onde e quando para convidar, vem falar comigo. — ela falou saindo de lado, depois dando uns passos de costas na direção da catraca, dando uma piscadinha.
O professor se aproximou enquanto ela se afastava para falar ao seu ouvido:
— Vou mesmo. Tenho seu telefone.
Bernardo saiu da academia atrás de Renata outra vez. Havia deixado de fazer alguns exercícios apenas para não perdê-la de vista e se pôs a segui-la a uma distância segura, para que ela não o visse.
Apressou o passo apenas quando ela já tinha entrado no prédio e estava no elevador, para entrar com ela. Ficaram em silêncio por instantes.
— Você devia parar de fingir que não está louca para dar pra mim. — Bernardo disse de repente, sem voltar-se para Renata, que virou para ele na hora.
— Como você pode estar tão seguro disso? — ela questionou, franzindo o sobrolho.
A porta se abriu no 7º andar e ele deixou-a sair antes, seguindo-a. Deu dois passos para alcançá-la e agarrou sua mão, puxando-a para si. O susto fez Renata ofegar, olhando nos olhos dele. Bernardo aproximou devagar seu rosto do dela, encostando os lábios de um nos do outro, e mirando sua boca. Viu que ela não fazia menção de fugir e tomou-a nos braços, em um beijo lento, saboreando seu gosto enquanto colava seus corpos.
Renata sentiu-se entregar e abraçou o pescoço dele, beijando-o ativamente, com vigor, com paixão. Sem parar de beijá-la, de canto de olho, ele procurou um lugar para carregá-la e começou a movê-los aos poucos, sem se desgrudar, naquela direção.
As escadas do prédio só eram utilizadas caso o elevador estivesse com algum defeito. Bernardo caminhou com Renata colada a si até a porta corta-fogo que isolava essa passagem e abriu-a, carregando-a para dentro.
Estavam naquele canto mal-iluminado por uma lâmpada com sensor de presença, que se apagava ou se acendia conforme eles se mexiam. Bernardo beijou o pescoço de Renata, que tentava conter os gemidos e se chamar à razão, sem sucesso. Apoiada nos ombros de Bernardo, ela fechava os olhos quando a boca dele descia para o decote do top, enquanto suas mãos agarravam as nádegas dela com vontade e ele se esfregava, fazendo-a sentir a pressão da ereção em seu sexo.
— Rê, gatinha, não sei por que você ficou fugindo disso aqui… Seu corpo vibra na minha presença, tudo o que você mais quer é ser fodida por mim… — sussurrou no ouvido dela, virando-a de frente para a parede e de costas para ele. — Quer ver?
Uma mão de Bernardo segurava Renata pelo quadril, depois subiu pelo ventre, agarrou os seios. A outra, desceu para dentro da calça justa e invadiu sua calcinha úmida. Seus dedos deslizaram por entre os lábios e ele a penetrou com eles, logo subindo com a lubrificação dela para massagear o clitóris.
— Você está simplesmente pingando de tesão, no cio, querendo ser coberta. Deixa eu resolver isso para você. — murmurou entre beijos na orelha dela, que gemia ao toque de sua mão.
— Às vezes você se parece mesmo com Satã… — a voz rouca dela sussurrou entre gemidos.
— Diz que eu tô errado e eu te deixo aqui, assim, toda molhada, com a boceta pulsando de vontade de receber o meu pau…
Renata levou uma mão para trás e enfiou na bermuda dele, agarrando seu membro em cheio e pegando Bernardo de surpresa. Usando o líquido que brotava da excitação dele, ela fez movimentos de vai e vem que arrancaram dele alguns sons involuntários de prazer.
As mãos dele andaram pelo corpo dela, agarrando seus quadris em um gesto quase desesperado. Ela virou-se e sorriu, sentindo-se no comando da situação, abrindo totalmente a bermuda dele.
— Nunca disse que não queria que você me fodesse, mas é que as coisas são complicadas… — murmurou com o olhar alternando entre o que fazia e os olhos dele.
— Nada mais simples do que baixar essas roupas e deixar rolar… — ele retrucou. — Eu não nego que sou doido pra te comer desde que te vi da primeira vez e que a situação apenas se agravou depois que te comi…
— Você tem camisinha? — ela perguntou, entregando os pontos, tomada pelo desejo, jogando a bolsa no chão.
Ele também largou a mochila, tirou a carteira do bolso traseiro e mostrou-a com um sorriso sacana.
— Tenho, sim, minha gata. Se é o que falta para sairmos desse impasse…
Renata assentiu, um tanto contrariada e muito excitada.
— Se você não for rápido com isso, vou mudar de ideia.
Bernardo levou a sério a condição: pegou o preservativo em um segundo e um instante depois já estava colocando-o.
Ela se virou para a parede e baixou a calça junto com a calcinha, empinando a bunda. Bernardo gemeu ao penetrá-la, admirando suas formas e agarrando seus quadris.
— Precisava ser rápido só para colocar a camisinha ou tenho que ser rápido em tudo? — sussurrou encostado ao ouvido dela, enquanto entrava devagar nela, puxando-a contra si.
— Não é sensato ser lento onde estamos, mas Satã convence a gente de cada ideia… Não devia ouvir o Diabo…
Ele aumentou a velocidade e começou a fodê-la com mais força. Renata gemia um pouco alto, ele cobriu a sua boca e continuou entrando e saindo ritmadamente. O gesto deixou-a ainda mais excitada e prestes a gozar. Bernardo libertou-lhe a boca e pediu ao ouvido dela:
— Reconhece que você ama dar pra mim tanto quanto eu amo te comer…
— Até que é bom… — ela declarou em um tom debochado, mas com o corpo se retesando de prazer.
Ele investiu em masturbá-la com os dedos enquanto ainda mantinha os movimentos enérgicos.
— Mentirosa… É muito mais que bom… Isso aqui é o céu.
— Nunca soube… que houvesse foda com Satã no céu… mas se você diz… — ela provocou numa fala entrecortada por gemidos.
— Ok, o fogo aqui parece até o inferno… Essa sua boceta quente, esse seu corpo perfeito incendiando… Ah, mulher, porque você tem que ser tão gostosa? Goza pra mim, goza, te ver gozando me deixa louco, minha gata…
Renata sentiu o corpo vibrar intensamente, enquanto o êxtase se espalhava a partir de seu sexo. Antes que o primeiro orgasmo terminasse, outros dois a tomaram: múltiplos. Ela não costumava tê-los, embora não fosse a primeira vez. Mas tão intensos….?
Bernardo mordia o lábio contendo um sorriso convencido enquanto sentia que o interior de Renata abraçava seu membro com força, em explosões seguidas uma após a outra. Envolveu a cintura dela com o braço e continuou mais um pouco até que também gozou indo fundo e apertando o abraço.
Ambos tinham as pernas bambas e estavam suados e ofegantes, mas quase não tinham forças de sair daquela posição. Nenhum dos dois pensava. Separaram-se devagar, ajeitando as roupas, se apoiando na parede.
Renata encarou Bernardo, séria, arrumando a calça. Juntou a bolsa.
— Espero que você esteja satisfeito, porque vai ser a última vez. Vou indo. — disse, abrindo a porta corta-fogo.
Ele a seguiu com os olhos, um pouco surpreso. Na verdade, não tinha formulado bem o que esperava daquele momento. Ora, óbvio, o que eu disse ao Mateus. Eu queria apenas repetir a dose e tá aí, repetimos. Agora é só entrar debaixo de um chuveiro gelado e ir dormir totalmente satisfeito. E daí em diante olhar para ela será apenas como olhar para uma outra mulher gostosa que comi: ok, é gostosa, mas só isso.