Ofereço pra você meu canto
Meu canto de proteção
E canto pra você em prantos
Ofereço também meus varais (2x)
Ofereço pra você minha casa
Que casa com essa intenção
Deixo as portas abertas
E também o meu coração (2x)
Que leve todas as feridas
Que leve seja assim a vida
Que leve toda o mal pra longe
E lave um novo horizonte
Que leve seja todo o peso
E a água purifique o peito
Com a leveza dessa oração
Pra tudo se arranja um jeito
No varal não falta pregador
Eu ia preparar um prato delicioso para nós
Ela preferiu comida enlatada
Eu ia tocar uma linda canção que compus pra ela
Ela preferiu ouvir os novos sucessos tocando no rádio
Eu até costurei um lindo vestido todo bordado
Mas ela insistiu nas roupas de grife e com a marca no costurado
Ofereci-lhe ajuda com o trabalho da faculdade
E ela disse que a IA já tinha dado conta do recado
Então decidiu falar de política
Dizendo em alto e bom som que já tinha escolhido um lado
E sobre arte… e que o mundo andava todo errado…
E que as liberdades precisavam ser protegidas
Até dizia palavras belas, mas não conseguia ver por trás um significado
Foi batendo um vazio e tudo parecendo tão equivocado
Como pode ser a noite melhor do que o dia
Ou mesmo o Sol mais importante do que a Lua
Te vi em mim
Me vi em ti
E é sempre assim
Quando a gente se sente
Te vejo em mim
Me vejo em ti
E simplesmente não vejo mais
Como pode ser diferente
E quando a gente sente
O mundo se sente
Um lugar melhor
E quando a gente se sente
Nada é ausente
Te sei de cor, e você sabe o que quer de mim
>>> Pano de Prato
Bordei sorrisos em meio ao temporal
E o pano encharcado, mostrava os sinais
Que o céu estava cinza, por trás de todo o azul
De linha em linha
Os nós, sem saída
E linhas e linhas
A sós, combalidas
As nuvens carregadas
De gotas amarguradas
Escritas entrelinhas
Sozinhas, falidas
Bordei no rosto sorriso vulgar
E as pedras preparei, pra me defender
Do céu que estava cinza, por trás de todo o azul
De linha em linha
Os nós, sem saída
E linhas e linhas
A sós, combalidas
As nuvens carregadas
De gotas amarguradas
Escritas entrelinhas
Sozinhas, falidas
E o pano encharcado
E o prato sobre a mesa
E o rastro no armário
Um rato solitário
E passa despercebido
Dentre olhos curiosos
Que nem se dão conta
Em meio a multidão de ruídos
Sempre com tanta pressa
A lista de afazeres à espera
Tantas respostas, tantas conversas
Mais uma presa na rede, entre centenas
O cardume foi fisgado
E nem tentando fugir estavam
Nadavam e nadavam
E nunca chegavam
A vastidão do oceano
Se tornou tão pequena
Engolida pelo projeto de mundo ideal
Deixado na ponta do anzol
Que tão logo foi mordido
Vislumbrei um palácio de palha
Um espaço entre as tralhas
Onde a gente pudesse se encontrar
Imaginei um templo maltrapilho
Com deuses esquecidos
Pra me esconder com você
Tudo que eu queria antes da partida
Só mais um segundo
Pra chamar “nosso mundo”
Pra correr desse escuro
Que insiste em querer chegar
Vislumbrei um universo sem ter falha
Onde fora vencida a batalha
Que a gente pudesse, pra sempre morar
Imaginei um palhaço, uma princesa
Bailarina, realeza
E tudo que a gente quisera ser
Tudo que eu queria antes da partida
Só mais um segundo
Pra chamar “nosso mundo”
Pra correr desse escuro
Que insiste em querer chegar (2x)
Escrever
É buscar no interno
Formas de chamar a atenção do externo
Aos nossos momentos de loucura
E lucidez
É uma troca
De roupa, de corpo, de forma
Uma partilha plena e justa
Tão justa que ofusca
As diferenças e as transformam
Numa igualdade única
Na equidade a palavra se encontra
Se sente, se nota pertencente
Ao todo existente
E que bom que é perceber
Que as palavras são como a gente
Iguais na essência
Mas na escrita, completamente diferentes
De repente a correnteza leva
Toda dor, toda mágoa, toda raiva
As águas turvas ficam claras
Então percebe-se que não era nada
E a gente nada, nada e nada
Se debate, se corrói, se ausenta
Segue na busca pela praia deserta
Que nos leve pra longe dessa ilha
Nas braçadas, cada vez mais fúria
Até que cada gota de energia esgota
E entre prantos, sussurros e lamúrias
Outra vez o que se constata é o nada
Sobreviver nesse mar aberto
É só uma questão de dosar as forças
Direcionando-as para as mãos que estão por perto
Sempre prontas para secar as lágrimas
E dizer com um afago…
Fique calmo, que não foi nada
Testemunha ocular…
A aurora tingiu os céus de tanta cor
E as águas, rebentaram com ardor
E o tempo não passou
Nem voltou atrás
Se esqueceu da gente
Se esqueceu da gente
Testemunha ocular…
Vielas, pavimentadas com as mãos
Manchadas com o sangue dos irmãos
E o tempo não passou
Nem voltou atrás
Se esqueceu da gente
Se esqueceu da gente
A promessa, delirante desfecho
Contento imerso
Na promessa, quem fizera
Rebento imenso
Da alma
Testemunha ocular…
For all the sides
Keep hitting me
As continues the ride
Keep it all behind
Don't forget the whips
The pain will heal
The lack of us
For everyone left
Crumbled remains
Misery and mud
Sand cakes
Will feed the flame
The pain will heal
The lack of us
All the memories
will not be deleted
The dust will settle
And the bloodstained streets will speak
The truth they will try to hide
Momentaneamente
Desencontrei os motivos
Desmotivado
Fui desatento aos momentos
O ócio
Quis tomar conta de tudo
E o tudo
foi se tornando tão moroso
O carro alegórico
Já não brilhava intensamente
E mesmo as fantasias
Já não tinham a importância de antes
Dos super-heróis
Não sobraram nem as capas
E os rostos
Se confundiram com as máscaras
Na tela o laranja foi ficando cinza
E o cinza foi ficando mais escuro
Nos ombros o pesar
Já nem se sentia
Momentaneamente
Desencontrei os motivos
E no fim de tarde
Fui desatento aos momentos
A fome, o alimento sacia
Mas e a alma?
O quê preenche? O quê acalma?
Qual verso finaliza a busca
E em qual estrofe
Se encontra contentamento?
Ao poeta a paz é um martírio
Momentâneo, que não revela
O que se há por dentro
A página em branco
É uma declaração de guerra
Turbulência inquieta
Difícil sentir o que os outros sentem
Difícil enxergar o que os outros veem
Difícil acreditar, no que ninguém mais acredita
Calmaria é um barco à vela
Que sobreviveu a tempestade
A ponta do lápis é a ansiedade
Desejando que logo venha a próxima
Tormenta
>>> Alma de Poeta poesia
@andreattotiago
Tiago Andreatto
A parede invisível
Se junta às outras quatro
Portas, janelas, já não existem mais
Sufocante constatação de vazio
O olhar passeia pelos cantos
Busca por algo não palpável
Um chamado, um motivo
Uma luz atravessando ao buraco do telhado
Os discos refletem as cores do arco-íris
Singelo sinal que algo maior observa
Onipresente existência de uma criança
De mãos atadas diante do sofrimento da outra
Um desejo crescente de diálogo
Emana de ambas
Trágica distância que se compreende
E prende e mutila
Orações prometem ajudar
Esperança, uma faísca imperceptível
A aliança engolida pelas eras
Já não há conversas em silêncio
Apenas espera…
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Dia desses percebi
A fragilidade que
É inerente a existência
Foi dia desses resisti
Tentei fugir, tentei fingir
Antes que a certeza, desapareça
Num piscar de olhos
De uma fúria incontrolável
Uma mostra que todo o poder
Nunca será o bastante
Num estalar de dedos
Feito pixels desentrelaçados
O que era o mais importante
Era feito pó, o que sobrará no final
Os olhos queriam rugir
O grito queria persistir
Esforço em vão sem consciência
Sem ter pra onde correr
Insistindo na falsa ideia de querer
Ser mais do que apenas, uma incoerência
Num piscar de olhos
Era apenas algo desejável
Uma falsa ideia de um ser
Que não queria ser como antes
Num estalar de dedos
Do que adiantou os pés calçados
Do que serviu toda pompa delirante
Era tudo pó, o que sobrará no final
poesia Feito Pó
@andreattotiago
Me salvo da ignorância que desprezo
Mas bebo da ignorância que relevo
Sou resto da ignorância que desconheço
Ignoro todos os avisos deixados pela manhã
Sou desses que não costuma acordar cedo
Madrugo vigilante do enredo
Que possa mudar essa história
Que encare os raios do Sol sem medo
E floresça em meio a esse deserto escuro
Respeito todas as falas
Busco ouvir todas as vozes
Vibro com quem não se cala
Mas insisto no mesmo erro
De só enxergar os erros
Que o mundo inteiro comete
Mas só os meus que conheço
Me calo na ignorância desse elo
Me vejo na ignorância que me trago
A contragosto sigo disposto
A boicotar cada passo
E o relógio nem passou das 3:00
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Como se fosse ontem
Lhe vi perdida nas memórias
Nas histórias que inventei pra gente
Como se fosse ontem
Enxerguei nos reflexos
Velhos versos que nunca mostrei
Como se fosse ontem
Alimentei as mentiras
Pra encarar a sina, desatina,
Uma menina teimosa
Que insistiu em existir
Lá no alto do pedestal
Nos coloquei e nos vi
Crianças manhosas, pidonhas
Chorando o brinquedo que se partiu ao amanhecer
Como se fosse ontem
Segui sem entender
Como eu pudera naquela época
Querer algo, sem saber de verdade
O que era querer
poesia
(Imaginei na voz do Renato Russo)
Às vezes quando eu olho pras estrelas
Eu finjo que tudo vai ficar normal
O gelo não vai derreter
A chuva vai apagar as chamas
Somente nestes segundos até posso acreditar
Num futuro pra gente, em algo diferente
Andaremos de mãos dadas, deixa o filme na tv
Sinta a brisa… ela não é para sempre
Às vezes quando penso em cada injustiça
Eu sinto como tudo é tão desigual
Será que um dia vamos merecer
A rua vai ser nosso ponto final
Apenas uns minutos me deixo navegar
Num futuro pra gente, em algo diferente
Andaremos de mãos dadas, deixa o filme na tv
Sinta a brisa… Ela não é para sempre
Não é que eu seja, desses pessimistas
Só não consigo parar de pensar
De como a gente agride a natureza
Enquanto assiste ao irmão morrer, no sofá
Somente alguns segundos, até posso acreditar
Num futuro pra gente, em algo diferente
Andaremos de mãos dadas, deixa a guerra na tv
Sinta a brisa… Ela não é para sempre
Que pena, o tempo não pode parar
Que pena ver, esse segundo passar
Que pena… saber
Que esse mundo vai acabar…
Sinta a brisa…
E os holofotes iluminaram
Os destaques no centro do palco
Ao redor os que sobraram
Figuras diversas e distantes
Daqueles produtos que ao público vendiam
O cantigo dizia: Sejam todos bem vindos
Aqui lhes apresento o que os representa
Estejam certos, encontrarão uma justiça isenta
Frases dispersas jogadas a esmo, nos buracos dos quintos
Inferno, talvez, inverno que vem
Discípulos formados, pós graduados
Em notar somente rótulos e embalagens
Pré-fabricadas de modelos já testados e configurados
Aplaudem os cegos, os mudos, os surdos
Só não aplaudem os loucos
Pois na falta de lucidez, que se conhece o mundo
Só não pode nadar contra a maré
Que aí já é absurdo
A correnteza arrebata entre as pedras
Até que se parta em pedaços
Qualquer mera tentativa ou anseio
De não fazer parte do meio
E holofotes iluminam os destaques no centro do palco
Até que chega o descarte de cada pedaço obsoleto ou quebrado
As cerdas deslizam sensível sob
Os traços marcados por
Histórias ocultas, não contadas e nem
Desenhadas
Hora busca resplandecer os dias
Hora precisa ofuscar o brilho da noite
Cintilante ingenuidade e pureza
Romântica que se rende a destreza
Uma verdadeira obra de arte que
Vai além das pinturas e
Não precisa de assinaturas para
Ser reconhecida dentre as grandes
Uma confissão do fruto maduro
Que revela a doçura a cada mordida
Mas não se engane pois ela
Não é feita de um gosto só
Ela é rainha que se destaca entre
Os pincéis, contornos e aquarelas
Que não precisa de museus ou exposições de bom grado
Pois cada passo que toma é
Uma exuberância só dela que atrai
Todos os olhares que tentam
Desvendar seus mistérios
Cuja a verdade, quem sabe um dia
Pra algum coração se revela
poesia
@andreattotiago
São só palavras…
São só palavras…
São só palavras…
Impressionante o poder das palavras
Quanto mais as repetimos,
Mais somos influenciados por elas
Quem diria, que afinal
Não são só palavras
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Ela só queria contar segredos de elevador
Ultrapassar as barreiras da fala
Pra ouvir o que as plantas têm a dizer
Sonhava com dias esparramada na sala
Rodeada de conversas paralelas
Debatendo sobre tudo e também sobre nada
A língua afiada revelando a toada
Transparência inconsequente
Uma musa de salto alto e pele purpurinada
Ela queria ser ele, ela, eles
Todos vez em quando e vez em outra nenhum
Mal sabia ela que sonhos ousados
São maluquices que incomodam
Em especial àqueles que se julgam tão sãos
Fizeram de tudo pra ela não ser ela
Enquanto eles, sempre eles
Seguiram sem saber, ao menos
Quem eles eram
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Amor é algo que não se encontra por acaso
Trata-se de um acaso construído
Tendo de cúmplice o tempo do lado
Amor não é perfeito como as histórias que vendem
Trata-se de uma união de defeitos
Que juntos se harmonizam perfeitamente
Amar não tem nada a ver com sonhar acordado
É algo que se percebe quando se zela cada segundo
Durante o sono pesado
O amor cuida e machuca
Que é pra tornar a cuidar
Um ciclo de feridas que abrem e logo fecham
Pois não existe amor de verdade
Que não viva no medo
Mesmo estando de corpos colados
De que um dia se acabe
Num dia, assim desses inesperados
Uma tragédia grega essa história
De amar e ser amado
Dilacera por dentro
Milhões de vezes ao quadrado
E completa cada pedaço
Não deixando espaço vazio ou mesmo inacabado
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Tomaram pra si o que podiam
Tomaram pra si o que não deveriam
Tomaram pra si o que não entendiam
Tomaram de ti o lugar de direito
Jogaram palavras ao vento
Jogaram-nas por livre contentamento
Jogaram-nas selecionando os termos
Simplesmente jogaram-nas pra cercear os direitos
Cometeram delitos em nome de Cristo
Cometeram atrocidades aos que pegaram pra Cristo
Cometeram adultérios e adulteraram os escritos
Prometeram o bem, mas era só um equívoco
O sangue derramado nem sabia os motivos
O sangue correndo nas veias dos “inimigos”
O mesmo sangue escrito e de vermelho tingido
Tomaram o sangue, todos que podiam
Pra garantir que os pecados fossem jogados ao vento junto das palavras que nas vozes erradas perderam o real sentido
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Hoje me deparei novamente com você
Fabricante de lágrimas enlatadas
E de sonhos pasteurizados
Não esperava me sentir assim tão a mercê
Numa conflitante corrida sem um linha de chegada
Ou o tremular de bandeiras quadriculadas
A rotina às vezes é sufocante
E a disciplina tão necessária
Exaure o otimismo e a empolgação
Ó mal moderno que severas mente
E faz de mente um pássaro rebelde
Se debatendo e remoendo diante da gaiola aberta
Ó época que deveras procura no passado
Razões para exorcizar o presente
Enquanto os presentes vão sendo deixados de lado
Não sobraram muitos os interessados
Em serem Romeus, Julietas, Orfeus ou mesmos outros heróis alados
Apenas restaram almas desencarnadas
Desencadeando o breu, diante do céu estrelado
Hoje me deparei novamente com você
Fabricante de lágrimas enlatadas
E de sonhos em um era mal acabada
E de gaiolas construídas por sádicos mímicos fantasiados e de alma limpa
Um bando de sonhadores respirando o ar puro e mesmo assim vivendo sufocados
Tranquei a porta... Há sete chaves
E a sete palmos as arengas ainda se manifestavam
Indagação feito um conclave
De fumaça negra que propagaram
Os sete reinos permaneciam em frangalhos
E a meia-noite já estava tão distante
A fúria continha dor e mágoa em seus galhos
Numa resolução tão cega e periclitante
Sete zumbidos vindos de sete lados
Sentença dada a cada um dos perfilados
Acusados e condenados, não importava mais
Distinguir o inocente daqueles que não mereciam paz
As sete sentenças já estavam dadas
Pelos sete juízes em cavalgada
As besta-feras já não mais enjauladas
Cuspiam fogo a cada mastigada
Sete pecados eram poucos
Diante das sete almas amarguradas
Triste história de um arcabouço
Que acabou por eternizá-las aprisionadas
Das lendas, apenas sete foi que sobraram
Talvez tenha ouvido alguma delas
Talvez tenha ouvido todas as sete
As chaves se perderam em meio a fumaça
E aos desvios que tomaram aqueles que um dia as contaram
Toda vez que saio de casa
Não tenho a certeza de voltar
E as garantias, tão águas rasas
Quem sabe quando chegarão ao mar
Os paralelepípedos vão sumindo
Nem a poeira da terra batida é fácil ver
No horizonte um azul tímido, escondido
Nas janelas dos arranha-céus, olhares cúmplices a mercê
Quisera ser mais confiante
Mas a inconstância dos passos é que me leva
Seguindo, pisando em nuvens de sonhos delirantes
No entorno, o progresso sempre com pressa do que eleva
A queda não me preocupa
Apenas é a luta diária que me ocupa
Difícil retornar em meio a tantas alternativas
Que por segundos, até alguma me cativa
Pena, logo não me dou por satisfeito
E torno em busca do próximo eleito
Destino incerto de pousada
De uma mente que vive numa eterna revoada
Definitivamente ora pássaro sem asas
Ora peixe que busca ar puro fora d'água
Nos olhos a esperança, a inocência
No peito a saudade e a lembrança
Do que ainda nem se viu…
E talvez nem esteja por vir
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Amor é fogo... e arde
Até incendeia
Mas se não alimenta
Vira brasa... que logo se apaga
E as cinzas que sobram
Ficam jogadas num mar nada poético
@andreattotiago
Tiago Andreatto
As linhas tortas se ramificaram
As linhas, tão tortas que nódos se formaram
De linhas, tortas com recheios e sabores diversos
Tão tortas essas linhas, que irreconhecível ficaram quais os caminhos certos
O concreto secou ao relento
O concreto, sustento firme e de irredutível pensamento
De concreto, a teimosia de achar-se imutável
Tão concreto quanto a linha tênue, que separa a verdade do questionável
Os ramos almejavam o florido que o jardim os proporcionaria
Os ramos, quantas folhas deixaram cair sem alegria
Os ramos, exemplos de resiliência e obstinação
Nobres ramos, mesmo no concreto, insistem em abrir buracos no chão
A linha do pensamento, até se ramificou
Mas de concreto, apenas o papel que nos sobrou
De sermos as folhas caídas…
Deixadas, a procurar uma saída…
Nesse labirinto de linhas tortas
Que alguém, um dia nos desenhou
@andreattotiago
Tiago Andreatto
A bandeira branca foi erguida
Sem qualquer êxito ou compreensão
Ambos os lados já não se importavam
Com os motivos da batalha sem razão
Aliás, razão é o que cada qual queria ter
Mas nem de longe se via ou se fazia por merecer
Nessas horas, hora alguma importa
E coluna alguma se mantém de pé
Nos escombros visões de assombros
Olhos fechados pra não se corromper
Pela verdade que pesa nos ombros
Gritando aos quatro cantos, basta!
Mancharam tanto as bandeiras
Nem se vê mais a qual
Que se deve pertencer
E o Sol nem havia nascido ainda
@andreattotiago
Tiago Andreatto
--->> Esconderijos
O que esconde?
Que me fascina e me atrai
O que me esconde?
Que mesmo de longe
De mim não sai
O que te esconde?
Que quanto mais procuro
Mais a perco e mais me perco
E pareço-me sempre correndo atrás
O que se esconde?
Neste lugar tão obscuro
Tingido na sombra tão grande
Quanto a luz que de ti sobressai
E o que de ti esconde?
Que guarda só pra si
Pra se defender de quem só te quer bem
Deixando por perto apenas o que lhe trai
Também tenho meus esconderijos
Mas descobri nesses dias iguais
Que a gente merece o melhor
E sempre que possível um algo a mais
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Contradição,
Sentir tudo e não ter nada pra botar na mala
Sentir nada e ter tudo de mão beijada
Engraçada,
A disposição das peças tão embaralhadas
Talentos mil em vidas desperdiçadas
Cegueira,
Compartilhada entre transeuntes desconhecidos
Em busca de abrigos mau construídos
Coletiva,
É a dor de não enxergar saída
Diante de tamanha perfeição
Que nas Imperfeições nos prende
Descaso,
É notar somente as diferenças
E apontar com incoerência
Quem é merecedor de toda benção
Programado,
Até poderia estar
Mas talvez não se esperasse
Toda essa comoção que iria causar
Contradição engraçada
Essa cegueira coletiva
Esse descaso programado
Esse excesso de leis da vida
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Dias e Dias
Há dias que a gente tenta correr
Noutros, são eles que fogem de nós
Tem vezes que parecem se multiplicar
Tem horas que todos parecem faltar
Nos sentimos numa perseguição frenética
Daquelas que roubam toda a energia
A esperança fica por um fio
E a labuta nos exige máxima atenção e ética
Um descuido e lá se vai toda a entrega
E alma se vende em troca de um respiro
Fôlego pra continuar na corrida
Que cobra um preço alto no julgamento
Nesses momentos nos provamos humanos
Falhos e suscetíveis à sedução
Dos prazeres e facilidades
Que no fim dos dias, selarão nossa escravidão
@andreattotiago
Tiago Andreatto
Quarta-feira, 17/04/2024
Publicado em 15/04/2024
Flores ao Vento
Joguei flores ao vento
Pra ele levar até você
Que já faz tempo que partiu
No céu foi ser raiz
Me sobrou o sofrimento
De ver um amor partir
Sobrou um imenso pavimento
Que um dia é pra eu seguir
Joguei rosas, margaridas
E o lírio que você sonhou
No dia que lhe pedi em casamento
Mas o vento, maldito vento
Me disse não
Joguei flores ao vento
Pedi pra não esquecer de você
Que já faz tempo que partiu
Mas deixou diversos pedaços por aqui
Me sobrou um sentimento
De missão que não cumpri
Me deixou sem argumento
Sem motivos pra do dia sorrir
Joguei rosas, margaridas
E o lírio que você sonhou
No dia que lhe pedi em casamento
E o vento, maldito vento
Me disse não
Joguei pragas ao vento
Joguei pedras ao vento
Mesmo assim não me atendeu
Veio apenas trazer brisa
Pra apagar minhas feridas
Veio apenas afagar meu rosto
Enquanto as lágrimas
Não paravam não
Joguei flores ao vento
Pra agradecer sua compaixão
Tiago Andreatto
Hoje eu parei pra pensar
E mais um dia se foi
Eles têm ido rápido ultimamente
Lembro de piscar os olhos
E ontem já era semana passada
Aliás, loucura pensar que tudo
De repente pode sumir nesse piscar de olhos
E que os dias que ainda restam
Não restarão mais
E tudo que ainda não fizemos
Não se farão mais
Realmente, preciso parar de pensar
Me assusta essa ideia de só ver o tempo passar
Olhar pro céu e notar a sutileza das nuvens
Se movimentando sempre, independente
Do tempo, do espaço, da calmaria ou do vendaval
Acho melhor ir andando…
Já pensei demais, enquanto tudo ao redor
Não para de seguir o curso
Rumo ao fim… do ano, eu espero
Tiago Andreatto
Queria ser herói o tempo todo
Pra te proteger
De todas as balas
De todas as falas
E das vezes que calas
Por insegurança ou medo
De correr riscos
Nesse mundo esquisito
Que atira pedras
Cheias de pecados
Como dardos envenenados
Que sugam a beleza
Inimigos de tudo e de todos
Sem distinção, ou melhor
Distinguindo os que têm dos
Que não têm
Queria ser herói pelo menos uma noite
Pra te dar toda a força que precisa
Pra acreditar que é possível
Ser heroína em meio a essa vida
Sem se drogar, se mutilar ou se macular
Em busca de uma saída alternativa
Ou uma falsa narrativa
De uma HQ falida, que
Ninguém mais lê
Tiago Andreatto
Maquiagem
Traz a maquiagem
Pra esconder a cicatriz
Que fere o peito
Me traz alento
Ilumina com a dor
Contorna com a cor
Que o blush tem
Pincela bem
Não deixa aparecer
Qualquer falha de caráter
Senão estou perdido
Sem base pra me defender
Nem um corretivo vai resolver
Esconde essa minha cara
Por trás da máscara
Esfumaça qualquer sinal
Que algo vai mal...
Tiago Andreatto
Identidade
É o que nos torna únicos
Mas se a gente é plural
O que faz com ela?
Joga pela janela
Tudo que nos define, que nos rotula
Que é pra sermos livres?
E entre as crises
Sermos cada dia diferentes
Experimentando cada versão
Que até a gente desconhece
Do que é a gente?
E o que é ser livre, afinal?
E o que é ser um e ser igual?
Se somos feitos do mesmo material
Que dura só um pouquinho
E logo envelhece feito a nau
Que cruza os mares, centenas de viagens
Mas um dia náufraga e afunda
E no profundo se perde
E ao ser encontrada, décadas depois
São apenas restos, fragmentos
Que não contam a história real
Uma identidade desconhecida
Sem rosto, sem forma
Apenas madeira corroída pela água
E pelo sal
Tiago Andreatto
Quando o corpo adoece
O remédio vem a conta-gotas
Na dose certa para a cura
Quando o coração aperta
Não me venha com amor a conta-gotas
Porque amor de verdade
Tem de vir como enchurrada
Que transborda e alaga o corpo inteiro
Tiago Andreatto
De todas as rosas que eu amei
Umas de vermelho eu pintei
Não soube ver
A beleza de branco
Ah! Se as rosas falassem
Eu seria culpado
Por lhes tirar um pouco de vida
Ah! Se as rosas soubessem
Que também deixei parte
Da vida que tinha
De todos os versos que eu criei
Em tantas folhas rabisquei
Não soube ver
A beleza do branco
Ah! Se as rosas falassem
Eu seria culpado
Por não lhes fazer poesia
Ah! Se as rosas soubessem
Que já era tarde
Pra escrever tudo o que eu sentia
Não sobraram rosas no jardim
Não sobraram folhas no jardim
Não sobraram palavras pra escrever
E nem me sobrou um jardim!
Tiago Andreatto
Quarta-feira, 03/04/2024