@andreattotiago

Por Tiago Andreatto

Toda quarta será dia das poesias do Tiago Andreatto

 @andreattotiago.

Ofereço pra você meu canto

Meu canto de proteção

E canto pra você em prantos

Ofereço também meus varais (2x)

Ofereço pra você minha casa

Que casa com essa intenção

Deixo as portas abertas

E também o meu coração (2x)

Que leve todas as feridas

Que leve seja assim a vida

Que leve toda o mal pra longe

E lave um novo horizonte

Que leve seja todo o peso

E a água purifique o peito

Com a leveza dessa oração

Pra tudo se arranja um jeito

No varal não falta pregador


Sexta-feira, 17/05/2024


Eu ia preparar um prato delicioso para nós

Ela preferiu comida enlatada

Eu ia tocar uma linda canção que compus pra ela

Ela preferiu ouvir os novos sucessos tocando no rádio


Eu até costurei um lindo vestido todo bordado

Mas ela insistiu nas roupas de grife e com a marca no costurado

Ofereci-lhe ajuda com o trabalho da faculdade

E ela disse que a IA já tinha dado conta do recado


Então decidiu falar de política

Dizendo em alto e bom som que já tinha escolhido um lado

E sobre arte… e que o mundo andava todo errado…

E que as liberdades precisavam ser protegidas


Até dizia palavras belas, mas não conseguia ver por trás um significado

Foi batendo um vazio e tudo parecendo tão equivocado

Como pode ser a noite melhor do que o dia

Ou mesmo o Sol mais importante do que a Lua


Sexta-feira, 17/05/2024


Te vi em mim

Me vi em ti

E é sempre assim

Quando a gente se sente


Te vejo em mim

Me vejo em ti

E simplesmente não vejo mais

Como pode ser diferente


E quando a gente sente

O mundo se sente

Um lugar melhor


E quando a gente se sente

Nada é ausente

Te sei de cor, e você sabe o que quer de mim


Sexta-feira, 17/05/2024


>>> Pano de Prato


Bordei sorrisos em meio ao temporal

E o pano encharcado, mostrava os sinais

Que o céu estava cinza, por trás de todo o azul


De linha em linha

Os nós, sem saída

E linhas e linhas

A sós, combalidas


As nuvens carregadas

De gotas amarguradas

Escritas entrelinhas

Sozinhas, falidas


Bordei no rosto sorriso vulgar

E as pedras preparei, pra me defender

Do céu que estava cinza, por trás de todo o azul


De linha em linha

Os nós, sem saída

E linhas e linhas

A sós, combalidas


As nuvens carregadas

De gotas amarguradas

Escritas entrelinhas

Sozinhas, falidas


E o pano encharcado

E o prato sobre a mesa

E o rastro no armário

Um rato solitário


Quinta-feira, 16/05/2024

E passa despercebido

Dentre olhos curiosos

Que nem se dão conta

Em meio a multidão de ruídos

Sempre com tanta pressa

A lista de afazeres à espera

Tantas respostas, tantas conversas

Mais uma presa na rede, entre centenas

O cardume foi fisgado

E nem tentando fugir estavam

Nadavam e nadavam

E nunca chegavam

A vastidão do oceano

Se tornou tão pequena

Engolida pelo projeto de mundo ideal

Deixado na ponta do anzol

Que tão logo foi mordido


Quarta-feira, 15/05/2024

Vislumbrei um palácio de palha

Um espaço entre as tralhas

Onde a gente pudesse se encontrar

Imaginei um templo maltrapilho

Com deuses esquecidos

Pra me esconder com você

Tudo que eu queria antes da partida

Só mais um segundo

Pra chamar “nosso mundo”

Pra correr desse escuro

Que insiste em querer chegar

Vislumbrei um universo sem ter falha

Onde fora vencida a batalha

Que a gente pudesse, pra sempre morar

Imaginei um palhaço, uma princesa

Bailarina, realeza

E tudo que a gente quisera ser

Tudo que eu queria antes da partida

Só mais um segundo

Pra chamar “nosso mundo”

Pra correr desse escuro

Que insiste em querer chegar (2x)


Quarta-feira, 15/05/2024

Escrever

É buscar no interno

Formas de chamar a atenção do externo

Aos nossos momentos de loucura

E lucidez

É uma troca

De roupa, de corpo, de forma

Uma partilha plena e justa

Tão justa que ofusca

As diferenças e as transformam

Numa igualdade única

Na equidade a palavra se encontra

Se sente, se nota pertencente

Ao todo existente

E que bom que é perceber

Que as palavras são como a gente

Iguais na essência

Mas na escrita, completamente diferentes



Terça-feira, 14/05/2024

De repente a correnteza leva

Toda dor, toda mágoa, toda raiva

As águas turvas ficam claras

Então percebe-se que não era nada


E a gente nada, nada e nada

Se debate, se corrói, se ausenta

Segue na busca pela praia deserta

Que nos leve pra longe dessa ilha


Nas braçadas, cada vez mais fúria

Até que cada gota de energia esgota

E entre prantos, sussurros e lamúrias

Outra vez o que se constata é o nada


Sobreviver nesse mar aberto

É só uma questão de dosar as forças

Direcionando-as para as mãos que estão por perto

Sempre prontas para secar as lágrimas

E dizer com um afago…

Fique calmo, que não foi nada



Terça-feira, 14/05/2024

Testemunha ocular…

A aurora tingiu os céus de tanta cor

E as águas, rebentaram com ardor


E o tempo não passou

Nem voltou atrás


Se esqueceu da gente

Se esqueceu da gente


Testemunha ocular…

Vielas, pavimentadas com as mãos

Manchadas com o sangue dos irmãos


E o tempo não passou

Nem voltou atrás


Se esqueceu da gente

Se esqueceu da gente


A promessa, delirante desfecho

Contento imerso

Na promessa, quem fizera

Rebento imenso

Da alma


Testemunha ocular…



Sábado, 11/05/2024

For all the sides

Keep hitting me

As continues the ride

Keep it all behind

Don't forget the whips

The pain will heal

The lack of us

For everyone left

Crumbled remains

Misery and mud

Sand cakes

Will feed the flame

The pain will heal

The lack of us

All the memories

will not be deleted

The dust will settle

And the bloodstained streets will speak

The truth they will try to hide



Sábado, 11/05/2024

Momentaneamente

Desencontrei os motivos

Desmotivado

Fui desatento aos momentos


O ócio

Quis tomar conta de tudo

E o tudo

foi se tornando tão moroso


O carro alegórico

Já não brilhava intensamente

E mesmo as fantasias

Já não tinham a importância de antes


Dos super-heróis

Não sobraram nem as capas

E os rostos

Se confundiram com as máscaras


Na tela o laranja foi ficando cinza

E o cinza foi ficando mais escuro

Nos ombros o pesar

Já nem se sentia


Momentaneamente

Desencontrei os motivos

E no fim de tarde

Fui desatento aos momentos


Quinta-feira, 09/05/2024

A fome, o alimento sacia

Mas e a alma?

O quê preenche? O quê acalma?


Qual verso finaliza a busca

E em qual estrofe

Se encontra contentamento?


Ao poeta a paz é um martírio

Momentâneo, que não revela

O que se há por dentro


A página em branco

É uma declaração de guerra

Turbulência inquieta


Difícil sentir o que os outros sentem

Difícil enxergar o que os outros veem

Difícil acreditar, no que ninguém mais acredita


Calmaria é um barco à vela

Que sobreviveu a tempestade

A ponta do lápis é a ansiedade

Desejando que logo venha a próxima

Tormenta


>>> Alma de Poeta poesia



@andreattotiago

Tiago Andreatto


Quarta-feira, 08/05/2024

A parede invisível

Se junta às outras quatro

Portas, janelas, já não existem mais

Sufocante constatação de vazio


O olhar passeia pelos cantos

Busca por algo não palpável

Um chamado, um motivo

Uma luz atravessando ao buraco do telhado


Os discos refletem as cores do arco-íris

Singelo sinal que algo maior observa

Onipresente existência de uma criança

De mãos atadas diante do sofrimento da outra


Um desejo crescente de diálogo

Emana de ambas

Trágica distância que se compreende

E prende e mutila


Orações prometem ajudar

Esperança, uma faísca imperceptível

A aliança engolida pelas eras

Já não há conversas em silêncio

Apenas espera…


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Terça-feira, 07/05/2024


Dia desses percebi

A fragilidade que

É inerente a existência


Foi dia desses resisti

Tentei fugir, tentei fingir

Antes que a certeza, desapareça


Num piscar de olhos

De uma fúria incontrolável

Uma mostra que todo o poder

Nunca será o bastante


Num estalar de dedos

Feito pixels desentrelaçados

O que era o mais importante

Era feito pó, o que sobrará no final


Os olhos queriam rugir

O grito queria persistir

Esforço em vão sem consciência


Sem ter pra onde correr

Insistindo na falsa ideia de querer

Ser mais do que apenas, uma incoerência


Num piscar de olhos

Era apenas algo desejável

Uma falsa ideia de um ser

Que não queria ser como antes


Num estalar de dedos

Do que adiantou os pés calçados

Do que serviu toda pompa delirante

Era tudo pó, o que sobrará no final


poesia Feito Pó 

@andreattotiago


Terça-feira, 07/05/2024


Me salvo da ignorância que desprezo

Mas bebo da ignorância que relevo

Sou resto da ignorância que desconheço

Ignoro todos os avisos deixados pela manhã


Sou desses que não costuma acordar cedo

Madrugo vigilante do enredo

Que possa mudar essa história

Que encare os raios do Sol sem medo

E floresça em meio a esse deserto escuro


Respeito todas as falas

Busco ouvir todas as vozes

Vibro com quem não se cala


Mas insisto no mesmo erro

De só enxergar os erros

Que o mundo inteiro comete

Mas só os meus que conheço


Me calo na ignorância desse elo

Me vejo na ignorância que me trago

A contragosto sigo disposto

A boicotar cada passo


E o relógio nem passou das 3:00


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Segunda-feira, 06/05/2024


Como se fosse ontem

Lhe vi perdida nas memórias

Nas histórias que inventei pra gente


Como se fosse ontem

Enxerguei nos reflexos

Velhos versos que nunca mostrei


Como se fosse ontem

Alimentei as mentiras

Pra encarar a sina, desatina,

Uma menina teimosa

Que insistiu em existir


Lá no alto do pedestal

Nos coloquei e nos vi

Crianças manhosas, pidonhas

Chorando o brinquedo que se partiu ao amanhecer


Como se fosse ontem

Segui sem entender

Como eu pudera naquela época

Querer algo, sem saber de verdade

O que era querer

poesia


Segunda-feira, 06/05/2024


(Imaginei na voz do Renato Russo)


Às vezes quando eu olho pras estrelas

Eu finjo que tudo vai ficar normal

O gelo não vai derreter

A chuva vai apagar as chamas


Somente nestes segundos até posso acreditar

Num futuro pra gente, em algo diferente

Andaremos de mãos dadas, deixa o filme na tv

Sinta a brisa… ela não é para sempre


Às vezes quando penso em cada injustiça

Eu sinto como tudo é tão desigual

Será que um dia vamos merecer

A rua vai ser nosso ponto final


Apenas uns minutos me deixo navegar

Num futuro pra gente, em algo diferente

Andaremos de mãos dadas, deixa o filme na tv

Sinta a brisa… Ela não é para sempre


Não é que eu seja, desses pessimistas

Só não consigo parar de pensar

De como a gente agride a natureza

Enquanto assiste ao irmão morrer, no sofá


Somente alguns segundos, até posso acreditar

Num futuro pra gente, em algo diferente

Andaremos de mãos dadas, deixa a guerra na tv

Sinta a brisa… Ela não é para sempre


Que pena, o tempo não pode parar

Que pena ver, esse segundo passar

Que pena… saber

Que esse mundo vai acabar…

Sinta a brisa…


Domingo, 05/05/2024


E os holofotes iluminaram

Os destaques no centro do palco

Ao redor os que sobraram

Figuras diversas e distantes

Daqueles produtos que ao público vendiam


O cantigo dizia: Sejam todos bem vindos

Aqui lhes apresento o que os representa

Estejam certos, encontrarão uma justiça isenta

Frases dispersas jogadas a esmo, nos buracos dos quintos


Inferno, talvez, inverno que vem

Discípulos formados, pós graduados

Em notar somente rótulos e embalagens

Pré-fabricadas de modelos já testados e configurados 


Aplaudem os cegos, os mudos, os surdos

Só não aplaudem os loucos

Pois na falta de lucidez, que se conhece o mundo

Só não pode nadar contra a maré

Que aí já é absurdo


A correnteza arrebata entre as pedras

Até que se parta em pedaços

Qualquer mera tentativa ou anseio

De não fazer parte do meio


E holofotes iluminam os destaques no centro do palco

Até que chega o descarte de cada pedaço obsoleto ou quebrado



Sábado, 04/05/2024

As cerdas deslizam sensível sob

Os traços marcados por

Histórias ocultas, não contadas e nem

Desenhadas


Hora busca resplandecer os dias

Hora precisa ofuscar o brilho da noite

Cintilante ingenuidade e pureza

Romântica que se rende a destreza


Uma verdadeira obra de arte que

Vai além das pinturas e

Não precisa de assinaturas para

Ser reconhecida dentre as grandes


Uma confissão do fruto maduro

Que revela a doçura a cada mordida

Mas não se engane pois ela

Não é feita de um gosto só


Ela é rainha que se destaca entre

Os pincéis, contornos e aquarelas

Que não precisa de museus ou exposições de bom grado


Pois cada passo que toma é

Uma exuberância só dela que atrai

Todos os olhares que tentam

Desvendar seus mistérios

Cuja a verdade, quem sabe um dia

Pra algum coração se revela


poesia 

@andreattotiago


Sábado, 04/05/2024

São só palavras…

São só palavras…

São só palavras…

Impressionante o poder das palavras

Quanto mais as repetimos,

Mais somos influenciados por elas

Quem diria, que afinal

Não são só palavras



@andreattotiago

Tiago Andreatto


Quinta-feira, 02/05/2024

Ela só queria contar segredos de elevador

Ultrapassar as barreiras da fala

Pra ouvir o que as plantas têm a dizer


Sonhava com dias esparramada na sala

Rodeada de conversas paralelas

Debatendo sobre tudo e também sobre nada


A língua afiada revelando a toada

Transparência inconsequente

Uma musa de salto alto e pele purpurinada


Ela queria ser ele, ela, eles

Todos vez em quando e vez em outra nenhum


Mal sabia ela que sonhos ousados

São maluquices que incomodam

Em especial àqueles que se julgam tão sãos


Fizeram de tudo pra ela não ser ela

Enquanto eles, sempre eles

Seguiram sem saber, ao menos

Quem eles eram


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Quarta-feira, 01/05/2024


Amor é algo que não se encontra por acaso

Trata-se de um acaso construído

Tendo de cúmplice o tempo do lado


Amor não é perfeito como as histórias que vendem

Trata-se de uma união de defeitos

Que juntos se harmonizam perfeitamente


Amar não tem nada a ver com sonhar acordado

É algo que se percebe quando se zela cada segundo

Durante o sono pesado


O amor cuida e machuca

Que é pra tornar a cuidar

Um ciclo de feridas que abrem e logo fecham


Pois não existe amor de verdade

Que não viva no medo

Mesmo estando de corpos colados


De que um dia se acabe

Num dia, assim desses inesperados

Uma tragédia grega essa história

De amar e ser amado


Dilacera por dentro

Milhões de vezes ao quadrado

E completa cada pedaço

Não deixando espaço vazio ou mesmo inacabado


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Quarta-feira, 01/05/2024


Tomaram pra si o que podiam

Tomaram pra si o que não deveriam

Tomaram pra si o que não entendiam

Tomaram de ti o lugar de direito

Jogaram palavras ao vento

Jogaram-nas por livre contentamento

Jogaram-nas selecionando os termos

Simplesmente jogaram-nas pra cercear os direitos

Cometeram delitos em nome de Cristo

Cometeram atrocidades aos que pegaram pra Cristo

Cometeram adultérios e adulteraram os escritos

Prometeram o bem, mas era só um equívoco

O sangue derramado nem sabia os motivos

O sangue correndo nas veias dos “inimigos”

O mesmo sangue escrito e de vermelho tingido

Tomaram o sangue, todos que podiam

Pra garantir que os pecados fossem jogados ao vento junto das palavras que nas vozes erradas perderam o real sentido


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Quarta-feira, 01/05/2024


Hoje me deparei novamente com você

Fabricante de lágrimas enlatadas

E de sonhos pasteurizados


Não esperava me sentir assim tão a mercê

Numa conflitante corrida sem um linha de chegada

Ou o tremular de bandeiras quadriculadas


A rotina às vezes é sufocante

E a disciplina tão necessária

Exaure o otimismo e a empolgação


Ó mal moderno que severas mente

E faz de mente um pássaro rebelde

Se debatendo e remoendo diante da gaiola aberta


Ó época que deveras procura no passado

Razões para exorcizar o presente

Enquanto os presentes vão sendo deixados de lado


Não sobraram muitos os interessados

Em serem Romeus, Julietas, Orfeus ou mesmos outros heróis alados

Apenas restaram almas desencarnadas

Desencadeando o breu, diante do céu estrelado


Hoje me deparei novamente com você

Fabricante de lágrimas enlatadas

E de sonhos em um era mal acabada

E de gaiolas construídas por sádicos mímicos fantasiados e de alma limpa


Um bando de sonhadores respirando o ar puro e mesmo assim vivendo sufocados


Terça-feira, 30/05/2024


Tranquei a porta... Há sete chaves

E a sete palmos as arengas ainda se manifestavam

Indagação feito um conclave

De fumaça negra que propagaram


Os sete reinos permaneciam em frangalhos

E a meia-noite já estava tão distante

A fúria continha dor e mágoa em seus galhos

Numa resolução tão cega e periclitante


Sete zumbidos vindos de sete lados

Sentença dada a cada um dos perfilados

Acusados e condenados, não importava mais

Distinguir o inocente daqueles que não mereciam paz


As sete sentenças já estavam dadas

Pelos sete juízes em cavalgada

As besta-feras já não mais enjauladas

Cuspiam fogo a cada mastigada


Sete pecados eram poucos

Diante das sete almas amarguradas

Triste história de um arcabouço

Que acabou por eternizá-las aprisionadas


Das lendas, apenas sete foi que sobraram

Talvez tenha ouvido alguma delas

Talvez tenha ouvido todas as sete

As chaves se perderam em meio a fumaça

E aos desvios que tomaram aqueles que um dia as contaram


Segunda-feira, 29/04/2024


Toda vez que saio de casa

Não tenho a certeza de voltar

E as garantias, tão águas rasas

Quem sabe quando chegarão ao mar


Os paralelepípedos vão sumindo

Nem a poeira da terra batida é fácil ver

No horizonte um azul tímido, escondido

Nas janelas dos arranha-céus, olhares cúmplices a mercê


Quisera ser mais confiante

Mas a inconstância dos passos é que me leva

Seguindo, pisando em nuvens de sonhos delirantes

No entorno, o progresso sempre com pressa do que eleva


A queda não me preocupa

Apenas é a luta diária que me ocupa

Difícil retornar em meio a tantas alternativas

Que por segundos, até alguma me cativa


Pena, logo não me dou por satisfeito

E torno em busca do próximo eleito

Destino incerto de pousada

De uma mente que vive numa eterna revoada


Definitivamente ora pássaro sem asas

Ora peixe que busca ar puro fora d'água

Nos olhos a esperança, a inocência

No peito a saudade e a lembrança

Do que ainda nem se viu…

E talvez nem esteja por vir


@andreattotiago

Tiago Andreatto


Sábado, 27/04/2024

Amor é fogo... e arde

Até incendeia

Mas se não alimenta

Vira brasa... que logo se apaga

E as cinzas que sobram

Ficam jogadas num mar nada poético


@andreattotiago

Tiago Andreatto


Sexta-feira, 26/04/2024

As linhas tortas se ramificaram

As linhas, tão tortas que nódos se formaram

De linhas, tortas com recheios e sabores diversos

Tão tortas essas linhas, que irreconhecível ficaram quais os caminhos certos


O concreto secou ao relento

O concreto, sustento firme e de irredutível pensamento

De concreto, a teimosia de achar-se imutável

Tão concreto quanto a linha tênue, que separa a verdade do questionável


Os ramos almejavam o florido que o jardim os proporcionaria

Os ramos, quantas folhas deixaram cair sem alegria

Os ramos, exemplos de resiliência e obstinação

Nobres ramos, mesmo no concreto, insistem em abrir buracos no chão


A linha do pensamento, até se ramificou

Mas de concreto, apenas o papel que nos sobrou

De sermos as folhas caídas…

Deixadas, a procurar uma saída…

Nesse labirinto de linhas tortas

Que alguém, um dia nos desenhou


@andreattotiago

Tiago Andreatto


Quinta-feira, 25/04/2024

A bandeira branca foi erguida

Sem qualquer êxito ou compreensão

Ambos os lados já não se importavam

Com os motivos da batalha sem razão


Aliás, razão é o que cada qual queria ter 

Mas nem de longe se via ou se fazia por merecer

Nessas horas, hora alguma importa

E coluna alguma se mantém de pé


Nos escombros visões de assombros

Olhos fechados pra não se corromper

Pela verdade que pesa nos ombros

Gritando aos quatro cantos, basta!


Mancharam tanto as bandeiras

Nem se vê mais a qual

Que se deve pertencer

E o Sol nem havia nascido ainda


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Terça-feira, 23/04/2024


--->> Esconderijos

O que esconde?

Que me fascina e me atrai

O que me esconde?

Que mesmo de longe

De mim não sai

O que te esconde?

Que quanto mais procuro

Mais a perco e mais me perco

E pareço-me sempre correndo atrás

O que se esconde?

Neste lugar tão obscuro

Tingido na sombra tão grande

Quanto a luz que de ti sobressai

E o que de ti esconde?

Que guarda só pra si

Pra se defender de quem só te quer bem

Deixando por perto apenas o que lhe trai


Também tenho meus esconderijos

Mas descobri nesses dias iguais

Que a gente merece o melhor

E sempre que possível um algo a mais


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Sábado, 17/04/2024


Contradição,

Sentir tudo e não ter nada pra botar na mala

Sentir nada e ter tudo de mão beijada


Engraçada,

A disposição das peças tão embaralhadas

Talentos mil em vidas desperdiçadas


Cegueira,

Compartilhada entre transeuntes desconhecidos

Em busca de abrigos mau construídos


Coletiva,

É a dor de não enxergar saída

Diante de tamanha perfeição

Que nas Imperfeições nos prende


Descaso,

É notar somente as diferenças

E apontar com incoerência

Quem é merecedor de toda benção


Programado,

Até poderia estar

Mas talvez não se esperasse

Toda essa comoção que iria causar


Contradição engraçada

Essa cegueira coletiva

Esse descaso programado

Esse excesso de leis da vida


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Quinta-feira, 18/04/2024


Dias e Dias


Há dias que a gente tenta correr

Noutros, são eles que fogem de nós

Tem vezes que parecem se multiplicar

Tem horas que todos parecem faltar


Nos sentimos numa perseguição frenética

Daquelas que roubam toda a energia

A esperança fica por um fio

E a labuta nos exige máxima atenção e ética


Um descuido e lá se vai toda a entrega

E alma se vende em troca de um respiro

Fôlego pra continuar na corrida

Que cobra um preço alto no julgamento


Nesses momentos nos provamos humanos

Falhos e suscetíveis à sedução

Dos prazeres e facilidades

Que no fim dos dias, selarão nossa escravidão


@andreattotiago


Tiago Andreatto


Quarta-feira, 17/04/2024
Publicado em 15/04/2024


Flores ao Vento


Joguei flores ao vento

Pra ele levar até você

Que já faz tempo que partiu

No céu foi ser raiz


Me sobrou o sofrimento

De ver um amor partir

Sobrou um imenso pavimento

Que um dia é pra eu seguir


Joguei rosas, margaridas

E o lírio que você sonhou

No dia que lhe pedi em casamento

Mas o vento, maldito vento

Me disse não


Joguei flores ao vento

Pedi pra não esquecer de você

Que já faz tempo que partiu

Mas deixou diversos pedaços por aqui


Me sobrou um sentimento

De missão que não cumpri

Me deixou sem argumento

Sem motivos pra do dia sorrir


Joguei rosas, margaridas

E o lírio que você sonhou

No dia que lhe pedi em casamento

E o vento, maldito vento

Me disse não


Joguei pragas ao vento

Joguei pedras ao vento

Mesmo assim não me atendeu


Veio apenas trazer brisa

Pra apagar minhas feridas

Veio apenas afagar meu rosto

Enquanto as lágrimas

Não paravam não


Joguei flores ao vento

Pra agradecer sua compaixão


Tiago Andreatto


Quarta-feira, 10/04/2024



Hoje eu parei pra pensar

E mais um dia se foi

Eles têm ido rápido ultimamente

Lembro de piscar os olhos

E ontem já era semana passada


Aliás, loucura pensar que tudo

De repente pode sumir nesse piscar de olhos

E que os dias que ainda restam

Não restarão mais

E tudo que ainda não fizemos

Não se farão mais


Realmente, preciso parar de pensar

Me assusta essa ideia de só ver o tempo passar

Olhar pro céu e notar a sutileza das nuvens

Se movimentando sempre, independente

Do tempo, do espaço, da calmaria ou do vendaval


Acho melhor ir andando…

Já pensei demais, enquanto tudo ao redor

Não para de seguir o curso

Rumo ao fim… do ano, eu espero


Tiago Andreatto


Terça-feira, 09/04/2024


Queria ser herói o tempo todo

Pra te proteger

De todas as balas

De todas as falas

E das vezes que calas


Por insegurança ou medo

De correr riscos

Nesse mundo esquisito

Que atira pedras

Cheias de pecados


Como dardos envenenados

Que sugam a beleza

Inimigos de tudo e de todos

Sem distinção, ou melhor

Distinguindo os que têm dos

Que não têm


Queria ser herói pelo menos uma noite

Pra te dar toda a força que precisa

Pra acreditar que é possível

Ser heroína em meio a essa vida


Sem se drogar, se mutilar ou se macular

Em busca de uma saída alternativa

Ou uma falsa narrativa

De uma HQ falida, que

Ninguém mais lê


Tiago Andreatto


Segunda-feira, 08/04/2024


Maquiagem


Traz a maquiagem

Pra esconder a cicatriz

Que fere o peito

Me traz alento


Ilumina com a dor

Contorna com a cor

Que o blush tem

Pincela bem


Não deixa aparecer

Qualquer falha de caráter

Senão estou perdido

Sem base pra me defender

Nem um corretivo vai resolver


Esconde essa minha cara

Por trás da máscara

Esfumaça qualquer sinal

Que algo vai mal...


Tiago Andreatto


Segunda-feira, 08/04/2024


Identidade

É o que nos torna únicos

Mas se a gente é plural


O que faz com ela?

Joga pela janela

Tudo que nos define, que nos rotula

Que é pra sermos livres?


E entre as crises

Sermos cada dia diferentes

Experimentando cada versão

Que até a gente desconhece

Do que é a gente?


E o que é ser livre, afinal?

E o que é ser um e ser igual?



Se somos feitos do mesmo material

Que dura só um pouquinho

E logo envelhece feito a nau

Que cruza os mares, centenas de viagens


Mas um dia náufraga e afunda

E no profundo se perde

E ao ser encontrada, décadas depois

São apenas restos, fragmentos

Que não contam a história real


Uma identidade desconhecida

Sem rosto, sem forma

Apenas madeira corroída pela água

E pelo sal


Tiago Andreatto


Segunda-feira, 08/04/2024


Quando o corpo adoece

O remédio vem a conta-gotas

Na dose certa para a cura

Quando o coração aperta

Não me venha com amor a conta-gotas

Porque amor de verdade

Tem de vir como enchurrada

Que transborda e alaga o corpo inteiro


Tiago Andreatto


Segunda-feira, 08/04/2024


De todas as rosas que eu amei

Umas de vermelho eu pintei

Não soube ver

A beleza de branco

Ah! Se as rosas falassem

Eu seria culpado

Por lhes tirar um pouco de vida

Ah! Se as rosas soubessem

Que também deixei parte

Da vida que tinha

De todos os versos que eu criei

Em tantas folhas rabisquei

Não soube ver

A beleza do branco

Ah! Se as rosas falassem

Eu seria culpado

Por não lhes fazer poesia

Ah! Se as rosas soubessem

Que já era tarde

Pra escrever tudo o que eu sentia

Não sobraram rosas no jardim

Não sobraram folhas no jardim

Não sobraram palavras pra escrever

E nem me sobrou um jardim!


Tiago Andreatto


Postado em 03/04/2024

Quarta-feira, 03/04/2024