Liberdade do Vento

Sinopse

Buscando quebrar paradigmas e com mudanças bruscas de expectativas, a história acompanha a narrativa de Magno após sua morte, em sua continuidade pelo Universo, vida após vida, guiado pelo elemento ar. Morte, vida, amores, poderes sobrenaturais, controle dos elementos, destinos cruzados, tudo isso está por trás dessa trajetória imprevisível. A Liberdade do Vento é o terceiro volume da saga Universo em Órbita.


 

 


 

Liberdade do Vento

Saga Universo em Órbita

Vol. III

Ciclo I

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eder B. Jr.

Literunico


 

 

Liberdade do Vento

Copyright © 2024 Eder B. Jr.





A mente engana quando enxerga apenas asas

Voar não depende só de recursos físicos

Poder não se faz apenas de armas

São rabiscos

 
Palavras, sonhos, desejos...

Lampejos

 

E o impossível se torna regra

A razão se torna cega

O amor vira tragédia

O inóspito novo abrigo?

Voar é pura entrega

É saltar sem ter espera

Mesmo tendo objetivos

 

Ou seríamos iludidos?

Sempre vale a pena o risco...


 

 

  


Capítulo 1

A Solidão da Independência

 

    Uma vez escutei num sonho alguém me dizendo que a felicidade está dentro de nós mesmos e que nós a aprisionamos. Confesso que demorei muito tempo a entender o que isso significava e me atentei naquela ocasião, muito mais às curvas do corpo e a doce voz da bela mulher que pronunciou essa frase ao meu ouvido, em meus sonhos. Sempre quis encontrar essa mulher, achava que como num filme ela pudesse ser alguém de outra vida que surgiria a qualquer momento em minha frente me encantando repleta de enigmas como uma sereia.

Depois de ter sofrido alguns duros golpes da vida e de ter perdido um pouco da ingenuidade de criança e do romantismo apaixonado de adolescente, comecei a tentar procurar o que podia significar aquela frase de uma forma mais objetiva. Apesar de ter chegado a respostas bem satisfatórias, eu ainda sabia que faltava algo a ser descoberto.

Eu sentia que minha vida sempre me espreitava de longe, pronta para me apunhalar com golpes de espada e risadas soluçantes. Sentia-me um pássaro sem asas no meio de raposas selvagens. Não, eu nunca estava satisfeito. Eu sempre queria mais, mas não como os outros. Não queria mais do mundo pra mim, queria mais de mim pro mundo, mesmo olhando pros lados e não sentindo fazer parte daquilo tudo.

E durante as guerras que enfrentei, percebi que o mundo não se muda, as coisas são assim, começam e terminam dentro dos mesmos objetivos. A vida não é um desses objetivos. Quanto mais pessoas nascem, mais e mais a morte começa a ser um assunto corriqueiro, conversa de botequim, fofoca de donas de casa. A crise da fé, muito confundida com a religião, é um fator fundamental para tanto. O avanço científico fez com que os homens começassem a ter mais conhecimento do que não é verdade. Não conseguem jamais descobrir a verdade, pois provar a mentira se tornou muito mais simples. A sociedade vai se transformando em um amontoado de deformidades sem razão de existência.

Talvez por isso tudo tenha se banalizado e perdido o sentido. Talvez por esse motivo também ainda existam pessoas que se apegam no que eu escrevo, quando falo da relação entre prazer físico e sentimento, da diferença sutil entre desejo intenso e vulgarização. Quando escrevo contos eróticos, eu exporto meus sonhos e idealizações, mas eu vivo esses sonhos com tanta realidade que faço eles existirem de verdade na mente de quem lê. Na leitura, a gente sai do mundo de carne e osso e embarca dentro de nossa própria mente, num mundo criado por outra pessoa. O segredo do meu sucesso como escritor está na forma como eu permito que meus leitores gostem do que encontram em suas próprias mentes, mais do que do mundo real. Ou de como algumas coisas conseguem mudar a realidade e sair do imaginário, criar novas práticas, substituir antigos conceitos.

A praia é o lugar que mais me faz sentir o que escrevo e, por incrível que pareça, não é o barulho do mar que me causa essa sensação, mas a sua brisa, a forma como o ar se comporta em seu movimento. Parece que ele consegue saber o momento certo de ser suave e o momento certo de ser forte, o momento de te envolver e o momento de te jogar longe. Na praia, nada impede a ação do vento, ele se comporta de forma natural, sem barreiras. E tudo isso, por incrível que pareça, me faz pensar. Penso no comportamento das pessoas e em como elas usam sua sensualidade nesse ambiente. Observar nos permite, além de perceber coisas que jamais imaginaríamos, criar outras ainda mais inimagináveis.

E foi num dia como outro qualquer, ali sentado, analisando e sentindo a praia como de costume, poucas pessoas ao redor, que percebi uma mulher caminhando em direção ao mar, completamente vestida. Passos lentos, cabeça baixa, mãos trêmulas, não vi seus olhos, mas poderia jurar que estavam em lágrimas. Fiquei preocupado a cada vez que ela se aprofundava mais. Quando, num momento, ela sumiu, confirmei minhas suspeitas. Ela pretendia o suicídio. Saí correndo em direção a ela.

O mar estava revolto, as ondas ficando cada vez mais altas e as águas com uma força incrível dificultavam muito minha chegada até aquele ponto. Eu não conseguia mais vê-la, mergulhava e voltava procurando, mas não a encontrava. Um salva-vidas que me viu correr veio atrás, e ficamos desesperadamente tentando localizá-la. A maré subiu muito rápido, e quando já estávamos quase sem esperanças, eu senti algo tocar minhas pernas. Mergulhei, e ali estava ela. Agarrei-a junto ao meu corpo e, com a ajuda do salva-vidas, a trouxemos de volta à areia.

Fiz o procedimento de ressuscitação, mas ela não demonstrava reação. O salva-vidas assumiu meu lugar, continuou nas tentativas, enquanto eu fui buscar socorro. Já era tarde! Ela não ia mais acordar... Como pode? Uma mulher linda, que parecia tão cheia de vida... O que teria feito ela colocar fim à própria existência? Se eu tivesse me antecipado... se tivesse tomado a atitude de seguir meu instinto, minha intuição do que ela pretendia fazer... Infelizmente, o "se" não existe e o tempo não volta.

Aquela noite, eu não dormi, lembrando cada detalhe do que aconteceu, cada movimento, tentando entender os motivos. Ela não tinha documentos, identificação nenhuma, nada que pudesse dar resposta a todas aquelas perguntas. Resolvi levantar no meio da madrugada e sair. Fui até um bar, pois nos momentos de inquietação a gente tende a acreditar que o álcool pode ampliar nossos horizontes sobre coisas impossíveis de entender ou aliviar a dor de não saber o porquê.

Depois de algumas doses de vodka com gelo e limão, eu só pensava no olhar daquela mulher que eu não cheguei a conseguir ver. Eu sempre considerei o olhar de uma pessoa o reflexo da sua alma, e eu não consegui conhecer aquela alma. Não conseguia me conformar com isso, como aquela vida esteve em minhas mãos, e eu não consegui nem olhar em seus olhos.

Quando percebi que meus pensamentos iriam me obrigar a puxar um papel e uma caneta, notei um desentendimento acontecendo ao meu lado em uma mesa. Um homem muito alterado flagrou sua mulher ali aos beijos com outro homem. As pessoas tentavam contê-lo, mas ele estava fora de si. Gritava a ponto das veias de seu pescoço quase atravessarem sua pele, as palavras que ele usava para ferir parecia que estavam cada vez mais machucando a ele mesmo. Muitos tentavam controlá-lo, mas ele era muito forte e derrubava quem vinha pela frente. Pegou a moça pelo pescoço e a ergueu, olhou para sua expressão de desespero e a soltou. Gostava demais dela para machucá-la. Então, voltou-se para o rapaz, que desesperado se ergueu e apontou uma arma para ele. Todos ficaram imóveis, e o barulho de toda aquela bagunça silenciou por alguns segundos eternos. Quando o homem traído partiu para cima da arma com uma voadora, o tiro ecoou pelo bar, e, após o atirador ser dominado, todos procuravam ver se alguém estava ferido, onde a bala tinha acertado...

Eu não percebi, não senti dor... só vi quando abaixei a cabeça e percebi minha camisa branca se tornar vermelha de sangue. Fui sentindo muito frio e um desespero de quem perdeu o controle dos movimentos. Todo mundo correndo em minha direção, e eu caí.

Lembrei da minha mãe, da minha família, dos amigos, sim, eu vi minha vida toda passar em flashes. E minha independência, que lutei tanto para conquistar, naquele momento era minha total solidão. Eu sabia que não tinha jeito mais. O tiro tinha sido no coração, eram poucos segundos para a morte. Ninguém iria vir, nem família, nem meus fãs, nem a mulher dos meus sonhos que nunca viraram realidade. O meu adeus não teria dono!


 

Capítulo 2

O Despertar da Morte

 

   O vento poderoso me arrastava em seu turbilhão, lançando-me através do vazio infinito. Era como se meu corpo fosse apenas um fragmento solto no universo, sem controle sobre minha própria existência. A paisagem à minha volta era composta por uma vastidão branca, reminiscente de nuvens em constante movimento, que pareciam sussurrar segredos ancestrais em seus redemoinhos. O ar violento chicoteava meu rosto, deixando uma sensação de formigamento na pele.

Em meio àquele caos cósmico, comecei a questionar minha própria condição. Será que eu morri? Estaria vagando pelos confins do além? No entanto, minha consciência ainda estava intacta, meu corpo pulsava com vida e não havia sinais de ferimentos. A queda iminente, que se aproximava rapidamente, despertou uma angústia sufocante dentro de mim. Era como se estivesse prestes a ser lançado em direção à destruição, um corpo celeste ardendo em chamas enquanto rasgava o firmamento. E então, no ápice dessa tensão, colidi com o chão numa explosão de dor. Meu grito ecoou no vazio em um sinistro murmúrio de desespero.

A dor queimava em cada fibra do meu ser, enquanto eu me contorcia no solo áspero. Minha mente lutava para assimilar aquela experiência surreal. Levantei-me lentamente, amparando-me na força de um corpo que parecia ter sido feito de aço. Surpreendentemente, apesar do impacto brutal, não havia sofrido nenhum dano grave. Apenas algumas rachaduras se espalhavam pelo solo, testemunhas silenciosas do choque violento.

Contudo, o lugar onde eu estava despertava ainda mais interrogações. Diante de mim se estendia um deserto vasto e imponente, com um horizonte indistinguível. O chão, liso como cimento, parecia estender-se até o infinito. Uma ventania feroz varria a paisagem, levantando redemoinhos de areia em seu rastro. Era um cenário desolado e misterioso, desprovido de vida e de qualquer indício de civilização.

A sensação de isolamento e incerteza começou a me envolver. Onde eu estava? Aquilo seria uma espécie de julgamento, um portal entre o céu e o inferno? Nada naquele ambiente árido e desconcertante se assemelhava ao que eu imaginava como o paraíso ou o inferno, convencionais.

Antes que eu pudesse encontrar uma resposta para aquele enigma, fui surpreendido pelo aparecimento de um homem à minha frente. Ele emergiu da ventania, pousando no chão com uma graça que contrastava com a minha desajeitada queda anterior. Seus cabelos e barba grisalhos conferiam-lhe uma aparência sábia e venerável, e seus olhos exibiam um brilho enigmático. Era como se ele fosse um guardião desse lugar misterioso.

— Seja bem-vindo, como te chamas? — Indagou ele com uma voz calma e profunda.

Ainda desnorteado, respondi:  

— Não sei muito mais de nada. Se minha memória não me engana, meu nome é Magno.

O homem, que se apresentou como Nazerith, parecia compreender minha confusão, mas também reconhecer meu progresso em aceitar a partida da minha vida anterior. Ele explicou que eu havia realmente morrido e renascido em um novo mundo, carregando minhas memórias e com um amadurecimento espiritual que determinava minha nova aparência física, representada pela minha "idade". No entanto, Nazerith adiantou que havia muito mais a ser compreendido, e me convidou a acompanhá-lo.

Desafiando novamente a força do vento, fui levado em seu turbilhão, caindo mais uma vez no solo impiedoso. A dor ressurgiu, inclemente, porém encontrei forças para me erguer mais rapidamente, dessa vez. À minha frente, revelou-se uma visão de tirar o fôlego. Era um lugar magnífico, que transcendia qualquer concepção terrena do paraíso. Prédios majestosos, com uma arquitetura de beleza inigualável, flutuavam como se desafiassem a gravidade. Suas estruturas pareciam vibrar com uma energia transcendental, e as cores predominantes eram brancas e cinzas, em harmonia e um certo contraste com o ambiente celestial que se estendia diante de mim.

Uma praça central se destacava, adornada por um chafariz que parecia conjurar ventos e mudar de forma em uma dança fluida. Atrás dela um prédio flutuante, o único que não tinha nenhuma ligação com o chão. Seu acesso só podia ser realizado através de um local demarcado onde o vento transportava a pessoa até sua entrada.

Nazerith então sugeriu que continuássemos nossa jornada, adentrando o prédio flutuante que se destacava na paisagem. Para chegar até lá, tínhamos que enfrentar uma caminhada sob a estrutura, uma experiência intimidadora e enigmática. Enquanto andávamos, eu sentia o peso daquele imenso edifício flutuante pairando sobre mim, criando um senso de opressão e grandiosidade. Minha mente se enchia de questionamentos sobre o que me aguardava além daquelas portas.

Entramos, carregados pelo vento os sons da ventania se misturavam a murmúrios indistintos. Ao entrar, logo percebi que as pessoas lá dentro se dedicavam a diversas atividades. Alguns treinavam uma espécie de luta de ventos, desafiando as correntes furiosas em uma espécie de balé mortal. Outros permaneciam imóveis, em um estado de contemplação e meditação profunda. Tanta coisa pra se ver ao mesmo tempo que não sabia distinguir o que acontecia. O espaço não parecia ter limites, aparentemente estávamos num local a céu aberto e não num prédio. Não havia salas, não se via paredes, a gravidade parecia nem existir.

Curioso e maravilhado, perguntei a Nazerith se aquele lugar era uma escola. Ele sorriu enigmaticamente e explicou que aquele era um espaço conhecido como Zona Livre, onde o aprendizado e a prática de exercícios eram realizados. No entanto, ele revelou que essas áreas haviam sido construídas durante tempos passados de guerra, protegidas pelos poderosos Reis do Vento. Eram estruturas indestrutíveis, destinadas ao desenvolvimento e aprimoramento espiritual. Nazerith me olha e, vendo que não entendi muito bem tudo aquilo, tenta me tranquilizar:

—  Tudo bem, tire essa cara de quem viu uma equação matemática pela primeira vez. Vou te explicar agora um pouco do que você precisa saber para começar a entender melhor as coisas.

Mas uma fome voraz começou a se manifestar dentro de mim com intensidade insuportável.

— Antes de mais nada, preciso comer alguma coisa, estou sentindo uma fome absurda. Tem algum fast food por aqui? O que vocês comem? — Perguntei inocentemente. Realmente eu estava com uma fome que jamais senti antes, o estômago saindo pela boca.

Nazerith riu, dessa vez um riso estrondoso e quase sobrenatural, chamando a atenção de todos ao nosso redor. Em meio às gargalhadas, ele me advertiu que meu apetite voraz só aumentaria quanto mais eu resistisse à busca pelo conhecimento. Ele me explicou que, como habitante do Planeta dos Ventos, eu me alimentava de conhecimento e que quanto mais aprendesse, mais energia meu cérebro geraria para sustentar meu corpo. Era uma simbiose extraordinária, onde meu cérebro absorvia as moléculas de ar e as transformava em alimento e água.

Aquele conhecimento era como uma refeição para mim, e eu ansiava por mais. Compreendi que aquele lugar era um ambiente de aprendizado constante, onde as pessoas se alimentavam de sabedoria para nutrir sua existência. Era um banquete para a mente e o espírito.

— Por isso então tanta gente está aqui aprendendo, treinando, se aprimorando? Achei que tinha muita gente aqui mesmo para um povo que não está em guerra há muito tempo.

— As coisas começaram a fazer sentido pra mim.

— Exatamente. Dizem os sábios que os renascidos no vento são os mais temidos pelo Universo, os que nunca são desafiados, pois nos alimentamos de conhecimento e de técnica. As lendas contam que o próprio Criador sempre foi mais propenso ao elemento ar. Mas são apenas boatos. Os Reis do Vento dizem que ainda estamos nesse mundo muito limitados e não conhecemos muitos dos elementos existentes no universo. Agora vamos, será muito importante que você se alimente mais, imagino que irá se surpreender mais ali à frente.

O suspense envolvia cada passo que dávamos, o mistério daquele lugar desconhecido pulsando no ar. O som do vento parecia carregar toda informação do Universo, sussurrando enigmas e desafios a serem desvendados. A curiosidade e a ansiedade se misturavam dentro de mim, formando uma expectativa eletrizante para o que estava por vir.



Capítulo 3

O Pequeno Rei do Vento


O garoto corria enquanto correntes de ar passavam por sua cabeça e as rajadas, em um vai e vem, indicavam que os guerreiros do vento procuravam por ele

Ele era esperto, sabia que podia ir mais rápido, que podia flutuar, voar, tentar ir pra longe num pensamento, mas preferiu ser cauteloso e não usar suas técnicas, ficando assim o mais escondido possível.

Sua mente voltava a um passado recente:

—  Filho, sabe qual é nossa maior fraqueza, nosso único ponto fraco? —  Era a voz suave do Rei Falcão que falava com o pequeno príncipe.

—  Não consigo imaginar que nosso povo tenha fraquezas, meu pai —  respondeu o garoto, muito seguro de si.

— Então, meu filho, essa é uma das nossas fraquezas, nosso excesso de confiança, nossa incapacidade de perceber que qualquer ser do universo é como uma balança e não existem características que não tenham alguma compensação, algum ponto negativo ou positivo. O Universo, Henrique, foi feito para se equilibrar e harmonizar, quando uma força desequilibra a balança, outra surge para colocar as coisas no seu devido lugar. Dessa forma nada é invencível, nada é indestrutível e nós não vivemos pra sempre do mesmo jeito. Olhe no horizonte, Henri... — Deslizou com as mãos, o Rei e trouxe com ela o campo de visão da sacada do palácio. Lá era um dos poucos pontos do planeta com visão privilegiada, acompanhando os desertos de carbono e as florestas de hidrogênio.

— Veja meu filho, como trabalhamos para que essa nossa casa fosse harmoniosa, para que não tivéssemos guerras, nem entre nós mesmos, nem com outros povos. Aprendemos a viver assim. Mas temos que tomar cuidado com nossas decisões para o futuro. Em alguns momentos, mesmo sabendo que podemos ir longe, que temos poder para mais e mais, precisamos ir devagar, ser suaves, como uma leve brisa, diminuir o ritmo. Nenhuma ação deve ser realizada sem um planejamento. — Olhou para o filho que estava completamente hipnotizado pelas palavras do pai e voltou a questioná-lo:

— Mas te perguntei, então, nossa maior fraqueza e te respondo: Nossas habilidades requerem movimentos rápidos e nossos movimentos deixam marcas. Os nossos mais fortes guerreiros também são aqueles mais facilmente evitáveis, pois anunciam sua chegada com o movimento que causam no ar. Se um dia precisar se esconder, se um dia nossa paz acabar e eu não puder te proteger mais, você deve saber o que fazer. O vento não deve ser jamais combatido, o vento deve ser evitado. Portanto para enfrentar guerreiros de vento, você deve não usar o vento, mas sim ser indetectável, deve deixar o vento passar.

O pai muito provavelmente já previa o que estava por vir.

O garoto ainda estava abalado pela passagem para outro mundo de seu criador, assassinado na sua frente, mas ele precisava ser forte agora mais do que nunca, seguir os ensinamentos do soberano e deixar o vento acabar. Não podia acreditar que o General-Maior do Vento pudesse trair seu Rei. Precisava procurar alguém que pudesse lhe guiar, dar respostas. Esse alguém em sua cabeça só poderia ser o velho ancião da floresta de hidrogênio.

Precisava saber o que fazer pois muitos que ajudaram em sua fuga ainda corriam perigo no palácio, não podia ficar muito tempo se esgueirando pelas frondosas árvores. Mas tinha que continuar sendo cuidadoso e não criar túneis de vento para voar.

Pensava na sua ama que conseguiu colocá-lo em uma máquina de energia, para que ele pudesse ser atirado pela bomba de ar e assim fugir. A essa altura, ela já poderia ter sido descoberta por ter ajudado o garoto. Teria ela feito a passagem pra outro mundo como seu pai?

E sua mãe que ainda estava nos círculos estelares das águas e ainda não sabia de nada o que acontecera?

De repente uma corrente de vento o acertou, todo o caminho que ele tinha feito começou a ser aberto entre as árvores. Ele seria encontrado. Pensou rápido e começou a fazer os movimentos que tinha treinado de oclusão, força do vento contrária no centro do túnel de vento e com a outra mão força equivalente a favor do vento que o atingia. Pressionou os pés na terra de forma bem firme e lutou com todas as suas forças para permanecer no lugar. Logo sentiu o vento diminuir e ele também foi parando, já quando estava quase sem forças. O guerreiro não o percebeu ali, a noite não o revelou. Jamais um soldado poderia imaginar que um garoto poderia permanecer no chão recebendo uma rajada de vento. Mas a equipe de busca continuava procurando por ele. Quando já estava quase sem energia para continuar, pensando em desistir, começou a ouvir passos se aproximarem. Será que um guerreiro decidiu fazer a busca no solo? Ele sabia que já não tinha como lançar qualquer técnica de vento então quando viu a sombra se aproximar não pensou duas vezes e disparou um soco.

O velho atingido pulava como um macaco entre os galhos, murmurava uns gemidos de dor, provavelmente por não querer chamar a atenção.

— Moleque! Você quase quebrou meu nariz, seu fedelho! E eu aqui querendo te ajudar! —  Disse o velho quase que num ritual de “amaldiçoamento”.

— Senhor Ancião, me desculpe, não podia imaginar, achei que fosse um dos soldados que estão me perseguindo —respondeu o príncipe.

— Tudo bem, tudo bem, vamos, minha cabana está logo ali! — Apontou o velho, que ainda esfregava o nariz com movimentos que pareciam machucar mais do que o próprio soco.

Andando mais um pouco o velho apontou um buraco próximo a uma árvore e disse:

— É ali!

— Só estou vendo um buraco! — Questionou, cético, o garoto.

— Esses jovens nunca sabem que as coisas nem sempre são o que parecem... — Lamentou o velho empurrando o garoto no buraco.

Ele até tentou evitar, mas o buraco o puxou e ele começou a cair em algo que parecia um poço sem fim, muito escuro. Até que, com um estalo, ele teve a queda diminuída por uma rajada de ar e foi colocado em pé, no fundo do poço escuro, em seguida o velho chegou junto dele.

— Acenda! — Disse o velho e então, o que parecia o fundo de um poço se iluminou como um casarão enorme feito de algo que parecia madeira. A sala tinha uma lareira e algumas poltronas flutuantes, uma escada levava para outros cômodos.

— Que lugar incrível — Constatou o príncipe.

—  Bem-vindo à minha cabana, oh, Pequeno Rei do Vento! — Recepcionou o ancião com meio sorriso no rosto.


 


 

Saga

Universo em Órbita

 

Ciclo I

Volume 1 – Fúria das Águas

Volume 2 – Jornada do Sangue

Volume 3 – Liberdade do Vento

Volume 4 – Adwig – Rainha Imortal

Volume 5 – Móretar – Poder Humilde

Volume 6 – Athos – Contra o Tempo

 

Ciclo II

Volume 7 – Shiva e o Desespero Congelante

Volume 8 – Lúcifer e o Sangue Fervente

Volume 9 – Afrodite e a Beleza na Tempestade

          


 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Este livro foi impresso pelo Clube de Autores.

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